Em 13 de junho publiquei um artigo com o
título: “O Facebook é antiestressante?”. Nesse artigo afirmamos que sim, que
essa rede social é antiestressante e proporciona uma série de vantagens para
seus usuários. Destacamos, dentre uma dúzia de vantagens, o fato de que as
curtidas e comentários equivalem a elogios ou atitudes manifestadas nas
interações com amigos. As palavras de apoio fazem as pessoas se sentirem bem.
Por outro lado, pessoas que gostam de si mesmas, que estão de bem com a vida,
tem tendência a serem positivas, provocando resposta melhor ainda dos outros.
Já os mal humorados são frequentemente eliminados, bloqueados da lista de
amigos. Isso comprova que a grande maioria está nas redes sociais por prazer e
não gostam de atitudes negativas.
Alguns meses depois tomei conhecimento de um
novo livro, de autoria de Clive Thompson. É um escritor especializado em
tecnologias digitais e seus impactos sociais e culturais. Além de livros
escreve artigos para jornais e revistas, incluindo o New York Times. Em
setembro de 2013 lançou o livro “Smarter
than you think: How technology is changing our minds for the better” (Mais inteligente do que você
pensa: Como a tecnologia digital está mudando as nossas mentes para melhor. Tradução
livre). O livro ainda não ganhou
tradução no Brasil, mas seu lançamento nos EUA foi noticiado pelo jornal Folha
de São Paulo, ainda que dois meses depois, em novembro de 2013. Trata-se de um livro
instigante que procura derrubar alguns mitos como a suposição de que o uso
constante das redes sociais e de buscadores como o Google torna a nossa memória
mais preguiçosa. Seria inteligente usar esses mecanismos virtuais?
Educadores, psicólogos, cientistas sociais e
outros profissionais tem se dedicado à questão, mas até agora poucos são os que
defendem o uso generalizado dessas ferramentas digitais. Pessoalmente defendo
que devemos, sim, usar e abusar dos recursos digitais e suas redes virtuais
para nos auxiliar na busca de respostas para nossas dúvidas. Não considero, em
hipótese alguma, que o seu uso torne as pessoas “menos inteligentes, com mentes
preguiçosas”. Como professor
universitário sempre defendi e frequentemente aplicava provas (exames mensais)
com consultas a livros ou redes virtuais (internet). Nunca cobrei dos alunos,
por exemplo, qual o artigo da lei tal que enquadraria o engenheiro em tal ou
tais infrações profissionais. Ou então, o que diz o artigo tal, da lei tal, sobre
defesa do meio ambiente? Nada disso, pois a “decoreba” sempre foi criticada como desnecessária no processo de
ensino/aprendizagem. Desconfio que os nossos professores de antigamente exigiam
que decorássemos a física, a química, a matemática, as datas das guerras
Púnicas e a queda de Constantinopla e tudo mais, simplesmente porque não
podíamos carregar várias enciclopédias de três ou cinco quilos cada uma sobre
nossas cabeças (hoje um smartphone pesa 100g e acessa tudo quanto há no mundo).
Sempre pensei que seria mais importante que o aluno, futuro profissional,
soubesse manusear um compêndio ou sites da internet e neles localizar a
resposta e mais importante ainda, saber distinguir opiniões e suas
particularidades, aumentando assim a habilidade/capacidade crítica (para o CtrC
+ CtrV eu dava zero na nota). Ora, se os mecanismos de buscas da redes digitais
aí estão para oferecer tais respostas, porque exigir que o aluno decore aquela
informação? Melhor deixar o cérebro para armazenar informações mais importantes
ou então livre para pensar. Ademais, parti de duas assertivas da própria experiência
de mais de 40 anos de vida profissional. Jamais um empregador, chefe ou
superior chamou-me para responder: “certo, errado não sei” sobre determinada
questão. Óbvio, se ele já sabe a resposta é porque alguém já estudou a questão
e a resolveu antes e nesse caso, eu seria dispensável, não haveria lugar para
mim ali naquela empresa. Sempre me confiaram tarefas/problemas a serem
resolvidos. Estudos de casos, na verdade e então, que se aplique a metodologia
correta: muitas consultas com referências bibliográficas e trabalhos em
pareceria, em equipes multidisciplinares. Aí está a segunda experiência de vida
que procurei repassar aos alunos: Trabalho em equipe, presencial ou virtual. Qualquer
consulta ou pergunta que você faça a um colega já é considerado uma ação, um
trabalho em equipe. Seja a consulta por escrito, oral ou virtual, não importa,
você constituiu uma equipe para ajuda-lo na tarefa. Ora, se assim é na vida
real onde você só conclui uma tarefa, um relatório, um estudo depois de tantas
consultas e até citações de outros autores, por que eu, professor, deveria agir
diferente com meus alunos? Por que não permitir a eles a consulta e mais, fazer
o trabalho em grupos? Assim procedi durante anos, mesmo contra a vontade de
alguns colegas professores menos dispostos a assistir a seus alunos e a
ler/corrigir/comentar os trabalhos. Para eles era mais simples
corrigir/conferir as respostas “certo, errado, não sei”. Nada mais fora de
moda. Precisamos formar profissionais líderes, questionadores que conheçam a
metodologia científica e tenham habilidade/capacidade para pensar criativamente
e empreender.
Sobre a defesa do uso das redes sociais e a
“terceirização” da nossa memória para a agenda do celular ou o Google, fiquei
contente em encontrar no autor, Clive Thompson, a seguinte afirmativa:
“... é
só uma maneira mais eficiente de dar prosseguimento a esse atalho que sempre
usamos. O que assusta é que hoje substituímos pessoas e
livros pelo Google e o smartphone (grifo
meu), e como temos sempre eles à mão (ao contrário dos suportes de memória
“analógicos”), deixamos um bocado da parte pesada de lembrança para a nuvem”.
Não abrir mão dos livros e das informações orais
presenciais me parece um pouco saudosista. E nesse caso o citado autor tem
razão, chega a assustar as pessoas, pois sempre predominou esse caráter
colaborativo do conhecimento entre todos. É comum lembrarmos que um colega é
“mestre” no assunto tal ou que fulano sabe todos os resultados dos jogos de
futebol. É inegável que a substituição desses amigos e dos livros pelos
smartphones e tablets de bolso tem lá suas vantagens, pois são muito mais
rápidos e não nos negam respostas, qualquer que seja a hora. Estão sempre à mão
e nos atendem com exclusividade. Saudosismo puro de quem combate as novas
tecnologias. Ou seria elitismo? É retrocesso, antes de tudo! E mais, os sites de busca e as redes sociais não
nos isolam. Ao contrário elas nos agregam e nos tornam mais sociais.
Exemplo? Temos centenas de “amigos” virtuais e isso nos obriga a pensar
coletivamente, pois a toda hora estamos a responder, reagir, dividir e
compartilhar ideias. E quanto mais dividimos, mais agregamos conhecimento.
Pergunto, se não fossem as redes sociais com quantos amigos você contataria, de
imediato, ou saberia noticias e veria as fotos? Tenho observado que alguns
amigos que nunca escreveram nada, carta, e-mail ou relatos, estão agora
respondendo, emitindo opiniões e participando de debates nessas redes. Grande
progresso. Certamente e em sentido oposto, as redes de TV aberta, que vivem da
propaganda e programas de baixo nível cultural, devem estar se ressentindo da
fuga desses espectadores passivos que, agora, empurrados pelos familiares mais
jovens, aderiram ao facebook e outras redes sociais, trocando a passividade na
sala de TV pela pro-atividade virtual. Nesse sentido, o citado autor chega a dizer
que:
“Antes
de a Internet surgir, a maioria das pessoas raramente escrevia alguma coisa
por
prazer ou satisfação intelectual depois de se formar no ensino médio ou na
faculdade. Isso é algo particularmente difícil de entender por parte dos
profissionais cujos empregos exigem redações constantes, como acadêmicos,
jornalistas, advogados e comerciantes”. Progresso pessoal e social. As pessoas ficam mais felizes com isso,
repito.
Mais contente fiquei, ainda, ao ler no livro do
citado autor:
“.... mais importante do que saber alguma informação é a chamada metamemória: a capacidade de lembrar onde podemos encontrar algo que não sabemos, ou não lembramos os detalhes. A
metamemória sempre foi uma habilidade importante, antes até do aparecimento da
escrita....”.
Isso mesmo, antes da escrita. Fico admirado
como os netinhos de apenas cinco anos, sem ainda serem alfabetizados, já sabem
navegar na internet e até baixar joguinhos. São rápidos e impacientes quando a
nossa visão, já um pouco cansada, demora alguns segundos para encontrar o ícone
na tela. Eles sabem onde buscar a informação que precisam. Assim, a opinião do
citado autor, sobre a metamemória, coincide com aquela que tenho praticado há
mais de 12 anos com os alunos universitários. Treinar a mente para saber aonde
encontrar a informação correta, por meio de provas com consultas bibliográficas
e virtuais. Saber o que, onde e como procurar é importante. Não seria esta a
forma mais inteligente de usarmos a nossa memória? Os cientistas descobriram
que o desafio dos tempos modernos é ter
a habilidade e a capacidade de gerenciar o acesso à memória externa. Assim,
devemos deixar as “decorebas” e detalhes armazenados nas redes virtuais. Não saber a data de um aniversário ou número
de um telefone ou ainda o nome da capital da Namíbia não pode ser considerado
falta de inteligência. Assim como há 40 anos o bibliotecário era a pessoa mais
importante que poderia nos ajudar a encontrar um determinados assunto técnico,
indicando qual livro ou Abstract a
ser consultado, hoje as redes virtuais fazem isto a um simples toque. Nem mesmo
em casa dou-me ao trabalho de relembrar em qual dos livros da estante
poder-se-ia encontrar determinado assunto e depois em qual pagina estaria descrito.
Vou direto aos buscadores das redes virtuais e em fração de segundos tenho à
disposição uma série de indicações precisas. Resultado ágil, eficaz e ultra
rápido que proporciona conforto mental para quem busca. Assim como o livro
chegou para ficar e meteu inveja nos detentores do saber que se viram obrigados
a dividir o conhecimento com outros que se dispusessem a ler os escritos, a
internet, o Google e outros mecanismos de buscar digitais vieram também para
ficar e desbancar os supostos inteligentes, o “sabe tudo”. Ninguém é capaz de
se lembrar de todos os detalhes de um assunto e por isso, é preciso recorrer
aos “registros”. Libere sua mente, use a inteligência artificial, digital. Entretanto,
é preciso também entender quando devemos buscar conhecimento. Hoje, é fácil
saber mais coisas, pois tudo está disponível, rapidamente e com intenso
bombardeio de ofertas consumistas. Porém, mais do que nunca, a atitude “mais
inteligente”, é saber escolher e descartar o que não é importante. Gerenciar as
informações é a palavra chave para não nos perdemos nesse mar de informações
que são colocadas à nossa disposição.
O uso das redes sociais, o Facebook, Google e
outras... é, sim, mais inteligente do que você pensa, pois quando falamos ou
escrevemos nos esforçamos mais, pensamos mais e isto contribui para o
desenvolvimento intelectual, tornando-nos mais sábios.
Brasília, 22 de janeiro de 2014
Paulo das Lavras
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