Há
os que gostam do mar e até declaram que
seriam incapazes de viver sem ele. Não, não falo de pescadores, daqueles que se
aventuram em precárias e frágeis jangadas ou grandes barcos pesqueiros que avançam
sem medo mar adentro. Compreensível que esses não saibam mesmo viver sem ele.
Falo das pessoas comuns que desenvolvem um amor, quase que platônico, pelo azul
de suas aguas, a imensidão que convida à reflexão. Muitos ficam extasiados pela
arrebentação das ondas ou o barulho do vento que as levantam ou faz caminhos na
areia. O barulho da água da maré chega a ser calmante para muitos. O mar com
certeza leva para longe suas preocupações e relaxa a alma. Há até aqueles que
acreditam numa deusa das águas e para ela leva as oferendas de flores. Mas,
parece que não dá muito certo, pois sempre são devolvidas à areia das praias.
De qualquer maneira o mar exerce um fascínio em quem está diante dele. Todos
nós nos lembramos da sensação, da grande emoção ao vê-lo pela primeira vez.
Dizem
também que ninguém se cansa de namorar o mar, mas o que dizer do arrebatamento
que as montanhas nos proporcionam? Levam-nos para o alto, enlevam a alma que,
naquele vazio próprio do êxtase, nos remete ao amor, à alegria de viver e
sonhar, literalmente! Assim, sem demérito para as qualidades emocionais
proporcionadas para os que o cultuam, prefiro as montanhas ao mar. Até porque
nunca ouvi dizer que alguém se retirou mar adentro para meditar ou orar. Os que
assim querem e desejam a paz de espírito, sempre procuram o alto das montanhas.
Parece que nelas nos aproximamos mais de Deus. Também é sabido que os mineiros
não têm mar e aprendem a contemplar as montanhas desde a tenra idade. E ali, na
terra das alterosas, as montanhas, por encurtarem o horizonte físico,
despertavam uma imensa curiosidade no menino. Logo pela manhã, durante o café, ali
estava aquela enorme montanha à frente, a uns dois quilômetros apenas, e as
perguntas sempre se repetiam: O que será que há do outro lado? Rios, cidades, plantações,
vales? Aquelas pedras são grandes? Há bichos ferozes naquelas matas das serras?
Do lado sem florestas seria fácil escalar, imaginava o menino. Já onde havia a
floresta..., ah... nem pensar, pois estaria cheia de bichos ferozes, onças,
lobos, cobras e tudo mais que os adultos “sabiam” existir para amedrontar os
pequenos mestres arteiros e mantê-los ao redor da casa, sem grandes aventuras
em locais mais distantes.
Então,
deve ser por isso, pela familiaridade com as linhas sinuosas do horizonte, que
o menino aprendeu e sabe, ainda hoje, medir as montanhas com os olhos e o faz melhor
que as planuras do planalto central, a despeito de nelas ter passado a maior
parte de sua vida. A montanha, como disse o poeta, tem como pano de fundo o
desfile de nuvens e os raios cristalinos da luz dourada do sol. O seu limite é
o encontro com o céu. Mas, nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Uma visita ao
mar, de vez em quando, faz bem. Uma semana é suficiente para se reconciliar com
as ondas e a areia da praia. Mas, visitar Minas, terra das montanhas, é melhor
ainda, pois é o mesmo que estar de volta ao berço. Momento ímpar,
verdadeiramente uma ocasião especial, passear entre montanhas.
As
montanhas de Minas são obras sublimes do Criador, nos fascinam e inspiram a cada
momento. Ao deixar o aeroporto de Belo Horizonte elas já nos cercam e despertam
a curiosidade de menino que nunca cessa..., o que haverá do outro lado...? Um
pouco adiante, logo à saída do aeroporto, já se descortina a Serra do Curral
que cerca a capital das Alterosas e a seguir, em direção à Fernão Dias, a Serra
de Ibirité, de Igarapé, Itatiaiuçu e Itaguara, que fazem parte do quadrilátero ferrífero
da rica Minas Gerais. Serra da Bocaina,
de Lavras..., estou chegando e sua escalada será certa, porém desta vez
sobrevoando seu dorso de pedra. Momentos especiais, escalando-as à pé, à
cavalo, de jeep, de trem ou até mesmo de ultraleve, como já vividos inúmeras vezes na terra natal
de Lavras, em BH com sua Serra do Curral, por entre córregos e a mata do Jambreiro
rumando para Nova Lima. Ou também em
Ouro Preto, Mariana, Caraça e até na Guatemala escalando montanhas em busca de
pequenas aldeias indígenas dos Maias. Também na cidade do México já escalei
montanhas em busca das ruinas de aldeias dos Astecas. Ah.., montanhas,
montanhas minhas, que me viram nascer, crescer e por muito tempo despertaram a
curiosidade do menino que, hoje, já do outro lado da serra bem distante, as
relembram com carinho..., as montanhas de Minas e das Lavras do Funil.
Brasília,
18 de julho de 2018
Paulo
das Lavras
A
belíssima Serra da Bocaina que emoldura a cidade de Lavras
Foto: Ronaldo Renoir
Acordar
pela manhã e saborear o café contemplando a majestosa Serra da Bocaina
foi a rotina do menino, por toda a infância e
juventude, na espaçosa casa da chácara,
onde hoje situa-se a Vila Cruzeiro do Sul,
bairro da cidade de Lavras
Saindo
de BH rumo ao sul de Minas... por entre montanhas
O
menino, jovem engenheiro, desbravou muitas serras em Ouro Preto,
Mariana e Caraça, plantando florestas para as
siderúrgicas.
Pintura
de Rugendas - tropa de negociantes a
caminho do Tijuco,
nas
montanhas de ouro e diamante das Minas Geraes (1824)
Um saudoso
passeio entre Mariana e Ouro Preto, escalando a montanha
Foto do autor, 2012
Outro passeio,
de maria fumaça, por entre montanhas deTiradentes e São João del Rei
Foto: internet
O menino
conhecendo a cultura indígena nas montanhas da Guatemala
“Escalando” a Serra da Bocaina, em Lavras,
pelo alto, num Aero-Boero argentino.
Proa alinhada ao dorso de pedra da bela serra
que emoldura a cidade de Lavras.
Foto do autor -
2014
Até mesmo nas
planuras do Planalto Central, o menino encontrou
um recanto em
meio à serras. Saudade da terra natal, como ensinou
o poeta Mário Quintana: "a gente continua
morando na velha casa em que nasceu”
Foto do autor – Brasília,
2004
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