Vinte
e um de setembro é o Dia da Árvore. Dois dias depois começa a estação da
Primavera. Termina o inverno. Odeio invernos! Desde menino, aos 10 anos de
idade, quando passei para o turno matutino, na Escola Municipal Pe. Dehon, no
distante ano de 1955, quando foi inaugurada na minha cidade natal, Lavras. Situada no sul de Minas, elevada altitude e
aninhada entre montanhas, o frio atingia temperaturas baixíssimas, de até 6º C.
Pouco tempo depois, já no ano de 1957, gravei muito bem na memória o valor
dessa baixa temperatura do inverno de junho. Lembro-me, exatamente do Pe.
Raimundo Weilhermman, tiritando de frio e anunciando os terríveis 6º Celsius
(era professor de Física e gostava de aproveitar ocasiões para incentivar os
estudos da matéria). Esfregava rapidamente as mãos que regeriam a execução do
hino nacional, cantado pelos meninos do Colégio Aparecida. Temperatura fria
demais, às 07h da manhã, as mãos se enregelavam, doíam e até os dedos dos pés,
também gelados, doíam dentro do sapato de couro fino, sem nenhuma proteção,
após caminhada de três quilômetros para chegar à escola. Era um tremendo
sacrifício caminhar, carregando pesada pasta com livros e cadernos, saindo às
06:00 horas, rua abaixo que mais parecia um túnel de vento gelado.
Pior
mesmo deveria ser para aquela outra turma, de oito ou dez trabalhadores rurais,
boias frias, moradores da Pedreira, ao lado da caixa d’água da PML (hoje,
COPASA), à rua Otacílio Negrão, a esperar o Dr Weber Almeida, com sua
caminhonete pick-up Wyllis, amarela e branca, a leva-los na carroceria aberta
para a “apanha de café” em sua fazenda pelos lados da estrada de terra para
Itumirim. Chapéus enterrados na cabeça e mulheres com o tradicional turbante a
proteger-lhes os longos cabelos, todos enrolados em surrados panos e agasalhos
de frio, agachados, encolhidos, ali no na calçada (nem existia, pois a rua era
encascalhada), segurando seu embornal com a marmita contendo apenas arroz,
macarrão, angu e feijão. Eram assim os
meses de junho e julho, pico do inverno e da colheita do café, com intenso e
insuportável frio às seis horas da manhã. Anos mais tarde, já no início dos
anos 70, tornei-me produtor de café e nossos caminhões faziam o mesmo
transporte, porém dotado de cobertura de lona e, na hora do almoço,
reforçávamos com carne cozida e mandioca a boia fria, trazida de casa por
aquele mutirão de 30 ou mais apanhadores de café. A lembrança dos boias frias
da Pedreira, tiritando de frio, marcou indelevelmente o menino, pois ele também
passava pelo mesmo frio, com a diferença que depois da rua seguia-se a sala de
aula, embora fria, mas nem tanto como ao relento.
Não
era fácil enfrentar o inverno do sul de Minas. Sofria-se mais que nos cinco
graus negativos de Michigan/EUA, ou zero grau em Paris, onde trabalhei
temporariamente por alguns anos. Nesses lugares, de rigorosos invernos sujeitos
às nevascas, o cidadão conta com a proteção da calefação em qualquer ambiente,
mesmo nos meios de transporte. Por aqui, até as salas de aulas eram geladas,
daí o desconforto a ojeriza acumulada nessa situação. Mas, porém, todavia,
entretanto, contudo, não obstante e ainda assim..., aquele mal, gelado das
Lavras do Funil, durava pouco tempo. Já nas paradas (desfiles) de 7 de Setembro
o frio era bem mais atenuado, embora o uniforme fosse camisa de manga curta, de
malha fina, sem blusa de frio. O melhor estava por vir e tinha data marcada, o
dia da árvore, 21 de setembro, quando o frio já tinha ido embora e o calor já
se fazia sentir. Nessa época toda a vegetação mostrava seus brotos explodindo e
revestindo as árvores de intenso verde folha. Também a chuva já se anunciava e
os pássaros com intensa cantoria, em festa de acasalamento, saltitavam de
árvore em árvore a se mostrarem para as suas futuras companheiras. A natureza é
sábia. Os pássaros cantam na primavera não é para “chamar chuva”, como diz o
povo, mas sim pelo fato de que é hora de se acasalar, construir os ninhos e 21
dias depois da postura dos ovinhos, nascem os filhotinhos..., em época de plena
fartura de frutas, facilitando a sua alimentação. Sábia Natureza!
Mas,
aí estamos, chegou o 21 de Setembro – Dia da Árvore. O cheirinho gostoso de
terra molhada aguça nosso olfato e as pretinhas jabuticabas ali já estão a nos
esperar. O homem do campo, mais que esperançoso, começa a olhar para o céu em
busca de sinais mais promissores da chuva, sulca a terra para plantar a semente
que germinará e produzirá seu sustento. Saudemos, pois, a Árvore que nos
alimenta na vida, nos dá sombra, conserva a água das nascentes, nos dá a
madeira para a nossa casa e toda sorte de móveis e utensílios e até mesmo para
locomoção, desde os mais remotos tempos. E, por último, ainda fornece a madeira
que nos conduz ao repouso final no solo, de onde viemos como dito nas Sagradas
Escrituras.
Ao
Dia da Árvore segue-se a Primavera, a estação das flores que alegra a alma. É
também a estação dos frutos, da semente que germina e produz o alimento para nosso
corpo. Alguém pensa nisso, o que representa a Árvore para as nossas vidas? Prepare
sua alma para a alegria, a beleza e celebre essa importante data da nova
estação do ano que se avizinha, mas nem sempre lembrada nas urbes dominadas
pela tecnologia, ferro, aço plástico e os eletrônicos que ocupam, agora, a
maior parte de nosso tempo.
Árvore e Primavera, água, solo, planta e
a fauna, são os símbolos da Natureza, da Vida.
Brasília,
21 de setembro de 2018
Paulo
das Lavras
A Árvore é o mais belo presente da Natureza
Foto do autor – 07/09/2014, Ipê amarelo na PGR/Brasília
O frio em Lavras somente começava a atenuar em
setembro, com
a chegada da primavera.
Foto:
Arquivos de Renato Libeck- Pe. Raimundo
Weilhermman,
desfile de 7
de Setembro – CNSA 1957
Os trabalhadores da colheita do café passavam muito
frio,
no mês de junho, quando inverno em Lavras era mais
intenso.
O menino que
se tornou cafeicultor nos anos 70, sempre
se lembrava dos boias-frias tiritando de frio,
enquanto
esperavam o transporte à beira de seu caminho para a
escola.
Foto: maio 1975
Mesmo com clima mais quente que o sul de Minas, o
café irrigado vai
bem em
Brasília. Aqui não tem aquele frio congelante das montanhas.
Foto – 2015
Novembro de 1977, em frente ao escritório de
trabalho,
na Michigan
State University. Em seguida era época de
muito frio, com nevascas que chegavam a
um metro de neve na porta do prédio. Hora de voltar
para os trópicos
Mas, em compensação, a primavera no hemisfério norte
é belíssima,
com temperaturas agradáveis e floradas diferentes
das nossas.
Foto: East Lansing, maio 1978
Da mesma forma que nos EUA, o natal na França é
congelante,
mas só na rua, pois os ambientes fechados e os meios
de transporte são dotados de calefação.
Foto: dezembro 2013
Primavera em Nancy/França. Recebendo os diretores de
Escolas de Agronomia,
Juventino J Souza/ESAL-UFLA e Aino Jacques- E.A./UFRGS
Foto: maio 1988
Vovô, pode colher uma pera? A surpresa do netinho ao encontrar
um pé de
pera, carregado de frutas e a seu alcance...
A árvore e suas milhares de jabuticabas, para
deleite das crianças
e também dos
adultos..., com sabor de infância
Primavera é a mais bela estação do ano. A
exuberância do Emerocalis de cores
variegadas, tendo à esquerda um pé de
pitanga, o pinheiro ao centro (vitimado
por um raio, no verão seguinte) e
goiabeira à direita.
Infelizmente um dos pinheiros, de mais de mais de 30 anos de idade, foi vítima de um
raio, em tempestade do verão de 2014. Mas, foi imediatamente replantada outra
muda. Oportunidade ímpar para educar as crianças com a consciência ambiental
Nova árvore, vida nova, crianças aprendendo a
respeitar e amar a natureza
Vamos comer ameixa amarela (nêspera) ? Sim, mas
também temos que planta-la e cuidar
Foto do autor: abril 2014
E tome flores..., beleza estonteante. Ipê roxo,
próximo à sede da CNC, Brasília
Foto do autor, agosto 2012
Mais flores..., árvores de ipê amarelo, na janela do
quarto onde nasci
Foto do autor: Sítio Retiro dos Ipês/Lavras – 2014
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