Com uma câmera bem
antiga, de marca Kapsa, produzida no Brasil pela D.F. Vasconcelos, na década de
1950 e emprestada por João Sampaio, proprietário de um estúdio fotográfico, o
Foto Guimarães, situado à Rua Santana, em Lavras, o menino de 12 anos partiu
para a fazenda do pai a fim de fazer algumas poses com cavalos e paisagens do
bucólico Retiro dos Ipês. Garoto curioso e sem nenhum conhecimento sobre
fotografia quis saber como era o interior da máquina. Abriu-a, verificou o filme
ali colocado, enrolado nas bobinas, mostrou para a mãe, fechou-a novamente e
partiu para a esperada ação.
Fotografias naquela
década de 1950 eram raras, pois quase ninguém possuía uma máquina fotográfica,
principalmente nas pequenas cidades do interior mineiro. Fotografar era um
processo complicado e, por isso mesmo, as fotos se resumiam às tradicionais 3x4
para documentos ou então às de festas como 1ª comunhão, casamentos, bodas de
ouro e as solenes formaturas desde o curso primário (sim, havia festa para essa
formatura) à faculdade, com a mais pomposa das festas. Esta, sim, era o maior
evento na vida de um garoto dos anos 1950/60. Nem mesmo aniversários ou
batizados eram fotografados, pois isto implicava na contratação de um fotógrafo
profissional. Assim, nada mais justo do que as pretensões do garoto que queria
ter suas próprias fotos na bonita fazenda, para guarda-las de recordação ou,
quem sabe, para exibir aos colegas de escola.
Inúmeras poses foram
encenadas em frente à bonita casa da fazenda ou desfilando com a sua bela égua
Mangalarga, totalmente negra e de elevado porte. Bonitas e diferentes paisagens
também foram fotografadas com aquele filme de 24 poses em preto e branco. Um
luxo para a época. Assim, retornou ao estúdio fotográfico para a revelação do
filme. Empolgado, foi busca-las no dia aprazado. Decepção total. O filme fora
inteiramente velado. Também..., quem
mandou abrir a câmera e escancarar o filme contra a luz? Coisa de fotógrafo de
primeira viagem, ou melhor, de menino curioso que nada sabia sobre a
sensibilidade dos filmes fotográficos.... Lição nunca mais esquecida e não
revelada a ninguém, tamanha a decepção pelo erro cometido, nem mesmo ao
incrédulo João Sampaio que não viu defeito algum na Kapsa e tampouco imaginara
o que se passou.
Aliás, só estou rememorando esse episódio por causa do passamento desse
fotógrafo que marcou época em Lavras. Esteve presente em todos os
acontecimentos sociais da comunidade e ao comentar, numa rede social, sobre o
ilustre fotógrafo e narrar esse episódio, uma amiga, da família Melo, contou
toda contente que ainda possui uma Kapsa, que pertencera a seus pais. Reliquia
que deve ser guardada com carinho.
Boas recordações da infância e juventude, naquele final da dácada de 1950,
na cidade de Lavras, Terra dos Ipês e das Escolas. O amigo e fotógrafo, João Sampaio, deixou registradas não somente as milhares de fotos de nossa cidade e sua gente, mas também registros indeléveis em nossa memória. Um pedaço de nós que se vai, para sempre.
Brasília, 11 de dezembro
de 2012
Paulo das Lavras
(Crônica escrita em 2012, dedicada à memória do
fotógrafo João Sampaio, falecido naquele ano)
Rua Santana-Lavras: à
esquerda Foto Guimarães (de João Sampaio) e onde trabalhou, mais tarde, o
fotógrafo Antônio Oliveira. Logo acima, o Salão e Barbearia Planche, pai de
José Alves de Andrade.
À direita , o casarão
de Ângelo Alberto de Moura Delphim
Foto: Acervo de
Renato Libeck
O
fotógrafoJoão Sampaio, em 1967
Foto: Acervo de
Renato Libeck
O garoto Antônio
Oliveira, que também trabalhava no foto Guimarães
e sua máquina de
ponta, uma Rolleiflex
e flash Braun.
Eles só emprestavam
aqueles caixotes, como eram chamadas as Kapsas.
Foto: arquivos de Antônio
de Oliveira
Máquina fotográfica
Kapsa, anos 1950, apelidada de “caixote”
Foto: Internet
João Sampaio,
em 2012
Foto: Acervo de
Renato Libeck
O menino (1967), em foto
tomada pelo saudoso fotógrafo João Sampaio,
na Praça do Colégio de Lourdes. Ele também usava uma Vespa, toda equipada,
tal qual a "pretinha" que o menino usava para ir à faculdade.
Ao fundo a casa de Miralda Bueno
tal qual a "pretinha" que o menino usava para ir à faculdade.
Ao fundo a casa de Miralda Bueno
Foto: João Sampaio –
arquivo do autor
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