Nenhum país do mundo fez tanto pela liberdade e
democracia dos povos quanto a França. Em menos de 150 anos foi palco de dois
eventos marcantes. A Revolução Francesa que culminou com a queda da Bastilha em
14 de julho de 1789, estabelecendo os princípios da democracia. Foi naquele
dia, transformado em data nacional, que os franceses derrubaram o regime de
governantes opressores e tiranos. O slogan Liberté, Egalité, Fraternité
(Liberdade, Igualdade, Fraternidade) foi incorporado à Constituição Nacional. Esse
verdadeiro grito de guerra da população oprimida inspirou a letra do hino nacional
da França, o novo país democrático. Marcou história e também serviu de
inspiração para muitos idealistas, que sonhavam com a independência das nações,
como o Brasil de Tiradentes e muitos outros da América Latina. O segundo
evento, também marcante para a humanidade, foi a batalha do Dia D, realizada em
04 de junho de 1944, nas praias da Normandia. Aquela sangrenta batalha tinha
como objetivo resgatar a liberdade, o bem mais precioso da humanidade.
Depois
de 25 anos de minhas viagens à França em missões oficiais pude, finalmente, realizar
uma visita sentimental. Foi assim que planejei conhecer o Museu do Desembarque
na Normandia, o Dia-D, a histórica cidade de Caen e o Cemitério Americano da
Normandia. Foi uma visita emocionante. Estar ali naquele teatro de guerra onde
apenas no dia do desembarque, 06 de junho de 1944, morreram mais de 6.000
soldados das tropas aliadas, metralhados pela artilharia alemã estrategicamente
posicionada em casamatas superprotegidas no alto dos penhascos, foi uma
experiência memorável. Ao todo foram mais de 60.000 soldados aliados das forças
navais e aéreas que ali desembarcaram. Cerca de 40.000 deles foram mortos nas diversas
batalhas que se sucederam na Normandia. A cidade de Caen foi destruída em 70%
de suas casas e teve 24.000 civis mortos. Foram as batalhas mais ferozes daquela
2ª Grande Guerra.
Passear
pelas ruas da cidade de Caen e pelas praias de Omaha, Utah, Golden e Sword,
palcos de sangrentas batalhas e ouvir o relato das histórias foram, sem dúvida,
os mais emocionantes encontros que tive com o recente passado, pois nasci poucos
meses antes do fim da Segunda Grande Guerra Mundial, cuja rendição da Alemanha
ocorreu em oito de maio de 1945 e a do Japão em setembro, logo após das bombas
de Hiroshima e Nagasaki. A Alemanha se rendeu, portanto, 11 meses depois da invasão
da Normandia pelas tropas aliadas. Ver, tocar e até mesmo ganhar a cópia de um
documento original, com assinatura do Fuhrer, que está em poder do filho do
oficial francês Robert Reitzer e meu anfitrião Daniel Reitzer e ainda as cópias
de condecorações que aquele oficial alsaciano recebeu por méritos na luta
contra a invasão de Hitler à França, foram momentos de muita emoção.
Hoje,
06 de junho de 2014 a Europa parou para celebrar seus heróis. À França
compareceram chefes de Estados que participaram daquele conflito. François Hollande,
presidente da França, recebeu Angela Merkel, da Alemanha, Vladimir Putin, da Rússia,
Barack Obama dos Estados Unidos e a Rainha Elisabeth II, do Reino Unido e Príncipe
Charles, para homenagear os soldados que participaram no Desembarque há exatos
70 anos. Não menos brilhante e mais emocionante ainda foi a participação de
1.800 veteranos que participaram daquele 06 de junho. Imagino o quanto foi duro
e ao mesmo tempo gratificante retornar ao teatro de horror e dali sair vivo. Missão
cumprida com o elevado sentimento de defesa a humanidade contra as atrocidades
que um tirano, insano, pretendia submeter meio mundo. A mesma emoção que experimentei
naquela visita pude revivê-la hoje, com as imagens daquele cenário e sobretudo
a postura de reverência de um ex-combatente que compungido abaixou-se e beijou
as areias daquela praia onde um dia pensara que não sairia dali com vida.
Grande
Dia. Justas homenagens aos ex-combatentes, hoje na França. Nossas homenagens e
respeito a aqueles que tombaram em defesa da liberdade e soberania dos povos.
Brasília,
06 de junho de 2014
Paulo
das Lavras
Veterano volta à praia de Omaha e faz
uma prece, 70 anos depois que os soldados alemães
metralharam mais de 6.000 soldados das tropas aliadas num único dia
soldados alemães no bunker
A emoção de visitar a casamata alemã nos
penhascos da Normandia e pensar
nos seis mil soldados alvejados daquele ponto
estratégico
Museu do desembarque
Os
Presidentes da França e Estados Unidos, homenageiam os 10.000 americanos
mortos e enterrados no Cemitério Memorial Americano da Normandia
A
emoção no Cemitério Memorial Americano. Ao fundo o Memorial com
os nomes
de todos os soldados que ali tombaram e onde, hoje François
Hollande e Barack Obama depositaram flores
Ao
fundo as colinas e penhascos com as casamatas alemãs
Veteranos
retornam à praia de Omaha, 70 anos depois
O
oficial Robert Reitzer (à direita da foto), pai de meu anfitrião, em
missão
de resgate de cidadãos e bens franceses
na
Alemanha - junho
de 1945
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