Muitos afirmam que escrever sobre
o passado é saudosismo, especialmente os mais jovens. E até costumam
dizer...”ah, isso foi antes de eu nascer”, como se o mundo tivesse começado
quando nasceram. Como professor universitário e com muitos anos à frente dos
alunos, sentia vontade de escrever sobre o passado de modo a mostrar-lhes como
eram as coisas “antes de eles terem nascido”. Bem verdade que às vezes nos deixamos
levar pela nostalgia, aquela dorzinha, a saudade daquilo que se perdeu, como a
infância e a juventude. Belos tempos, sonhos dourados para o futuro, o vigor,
os hormônios em flor... Mas, nunca me deixo trair e achar que “aquele tempo”
era melhor do que esse. Já disse e escrevi várias vezes, cultuar o passado não
significa querer o seu retorno. Não seria capaz de atender aos surtos
saudosistas e desejar que o tempo retornasse e que se voltassem às épocas dos
arados de aiveca, dos carros de bois, dos cavalos como meio de transporte e a
iluminação à lamparina, a pena e o tinteiro com o mata-borrão para escrever
cartas a serem levadas por mensageiros ou, ainda, passear no duro e
desconfortável Jeep Willys. Não há nada mesmo, com certeza, que eu desejasse
hoje como era antigamente. A tecnologia e a modernidade aí estão para nos
proporcionar maior conforto e bem estar. Melhor viajar num jato de seis ou 400
lugares, jantando em Nova York ou Paris e tomar o café da manhã no Rio de
Janeiro, e fiz isso algumas vezes. Ou então, em vez de cavalo ou carro de boi,
rodar num SUV importado, com ar condicionado, mídia e GPS, usar o celular ou a
internet para se comunicar com o mundo inteiro por áudio, mensagem ou vídeo, ao
vivo, instantaneamente. Muito melhor e mais confortável que esperar o
mensageiro a pé, a cavalo ou de trem e barco, ou andar léguas para se encontrar
o interlocutor.
Sim, gosto de escrever sobre o
passado, falar de mestres que nos marcaram para sempre, pessoas especiais,
enfim, gente que faz diferença. É sim coisa da idade, mas também porque é
importante que os jovens de hoje conheçam um pouco do passado, pois se
constitui em verdadeiro aprendizado que valoriza o progresso de hoje e nos
impulsiona para o amanhã. Portanto, devemos ter os olhos sempre voltados para o
futuro, mantendo-se no coração os sentimentos ligados ao passado. Mas, tirei
uma folga da escrita, deixei de frequentar as redes sociais por algum tempo.
Muita banalidade, superficialidade e transformação em vitrine quase que
exclusiva para exibicionismos narcisistas, quando não de intrigas. “Dormi” por
um tempo sem ali transitar, mas hoje, o chamado de um amigo trouxe-me a um
passado de saudades. Saudades de amigos, distantes, e em especial de um deles
que partiu para sempre. Foi no distante ano de 1974, quando professor da velha
e centenária Escola Superior de Agricultura de Lavras – ESAL, que hoje é a
Universidade Federal de Lavras- UFLA, conheci o jovem José Claret Matioli,
aluno do último ano do curso de Agronomia. Líder estudantil, apaixonado por
instrumentos musicais (dom herdado de seu pai, músico e regente de um conjunto
musical), Claret se destacava entre os colegas. Comunicativo, com muita empatia
conquistava a amizade de todos. Assim foi ele nos tempos de estudante e mais
tarde o reencontrei à frente de uma organização cultural em Lavras, criando uma
Escola de Musica para meninos carentes.
Assim era José Claret Matioli,
amigo, abnegado e desprendido, sempre a pensar no próximo. Enquanto eu dormia,
afastado dos noticiários das redes sociais, ele partiu silenciosamente,
disse-me outro amigo. Não sou nostálgico, apenas tenho saudade dos amigos com
os quais convivi e admiro. Este, Claret, ficará na memória da saudade. Grande
perda. Que Deus o tenha!
Brasília, 30 de junho de 2021
Paulo das Lavras
Belas palavras, profesdor. Histórias existem para serem lembradas. Não é saudosismo ou nostalgia. Continue nos contando. E sobre a rede social,pedem o seu retorno, você faz falta! Ela ficou mais pobre sem a sua presença.
ResponderExcluirConheci o Matioli! Triste notícia, Deus o acolha.
Abraço!
Obrigado pelo carinho, prezado amigo, Ygor. Sobre meu retorno à redes sociais, estou terminando a fase de apuração de algumas invasões de suposta rede de maliciosos. Acabei de postar uma crônica sobre isto, aqui neste blog. Não demorarei em retornar, pois também sinto falta dos verdadeiros amigos.
ExcluirUm abraço