Um dos grandes
pensadores do século XX e dos maiores influenciadores de sua época, o alemão
Erich Fromm, contribuiu como poucos para o avanço da psicanálise, da psicologia
da religião e da crítica social. Seus livros, A Arte de Amar (1956) e Ter ou
Ser (1976) ficaram mundialmente conhecidos. Suas teses, algumas contrariando as
de Freud, foram muito discutidas. Ele defendia um humanismo normativo, onde as
pessoas têm enraizadas em sua existência não apenas necessidades básicas
físicas, mas também necessidades básicas psíquicas. E a família, como se sabe é
o primeiro estágio da formação do caráter da criança/adulto. Dali emanam as
diretrizes para vida. Saber “administrar” os conflitos dentro de uma sociedade,
na convivência entre conceitos antagônicos é a chave do sucesso pessoal, do
equilíbrio emocional com pacífica convivência social. Mas nem sempre isso
ocorre, famílias desestruturadas não são capazes de fornecer o mínimo
necessário de amor e conhecimento no preparo da vida de seus filhos. Quando
adultos, às vezes, são incapazes de conviver com os conflitos ou simples
comparações com seus semelhantes bem sucedidos. Há pessoas que são incapazes de
conviver com situações contrárias à sua natureza humana (condições sociais de
sucesso, etc) e reagem de maneira negativa. Abandonam a razão e partem para o
campo da imaginação doentia, com mentiras e calúnias sobre aqueles que
acreditam ser superiores ou mais felizes que elas próprias.
Fromm
se debruçou sobre essa temática, contrariando Freud em alguns pontos. Sobre as
necessidades humanas, assim como é possível
promover ou reprimir certas necessidades básicas, da mesma maneira é possível
que algumas falhas sejam produzidas pela cultura. Neste caso, já a partir do
berço, seguindo-se os costumes da sociedade em geral. Por outro lado, se a pessoa perde um pouco de sua riqueza
interior e o sentimento real de felicidade, ela é compensada pela segurança do
sentimento de pertinência ao restante da humanidade. Mas, Este
sentimento de pertinência, segundo o autor, impede em nível decisivo o
desenvolvimento da imperfeição em uma neurose.
E hoje, a percepção desse sentimento de “pertinência” quase sempre é medida
pelo número de “likes” em redes sociais. Por isso, as redes sociais têm se
transformado em palco de shows bizarros, tamanha a insistência em “aparecer” a
qualquer custo em busca do suposto reconhecimento de seus pares nas redes.
Nesse sentido, as teses do autor foram bastante claras. Há
distúrbios de personalidade que fazem o ser humano viajar em realidades
paralelas, levando outros em suas “viagens”. O espírito humano, quando
empobrecido em suas funções, é impelido a desejar poder total sobre os outros e
tem uma sede insaciável de fama e prestígio (hoje representados pela quantidade
de likes nas redes sociais). Isso leva à perda do senso de dignidade própria e
alheia, pois só lhe interessa o sucesso. Para tanto, a maneira mais fácil de
conseguir o intento, nas redes sociais, tem sido por meio da mentira e da
calunia. Espalhadas nas redes sociais são como penas ao vento e as vítimas
nunca mais conseguirão eliminá-las totalmente. O filósofo italiano, Umberto
Eco, pioneiro na análise da internet, afirmou que “as redes sociais deram voz a
uma legião de imbecis”. Outro filósofo mais antigo, Sêneca, definiu que “a
mentira é a pior das deformações do ser humano” e infelizmente, essas deformações
têm sido mais constantes do que imaginamos hoje em dia, quando a internet deu
voz e espaço a todos. Tanto é verdade que nos últimos anos foram aprovadas leis
que visam à proteção do sigilo de dados e privacidade do cidadão nas redes
sociais e bancos de dados eletrônicos.
Até então tínhamos visto apenas algumas queixas de amigos que
foram vítimas de mentiras e calúnias nas redes sociais. Pelo menos duas amigas
publicaram longos textos reclamando de perseguições e calunias. Em conversas
com vítimas dessa natureza verificamos que a maior dor é a maldade, a
indecência moral e a crueldade de pessoas querendo envolver inocentes,
inventando mentiras fantasiosas. Nesses detratores reside toda a amargura, o
seu fracasso econômico e social, frustrações amorosas que, de certa forma,
tornam a vida do mentiroso, caluniador, insuportável para si próprio. Mas,
ninguém espera que isso vá acontecer consigo próprio, se tornar vítima desses
malucos da internet e quando acontece..., resta-nos a perplexidade e então,
friamente analisar a situação, investigar a fundo, mapear a rede de maldosos,
marcar, identificar os agentes e extirpa-los da nossa convivência. Faz mal à saúde
mental das pessoas de bem o convívio com essa escória intelectual e moral. Pior
mesmo é, após longo, demorado e doloroso trabalho, deparar-se com nomes de
pessoas até então insuspeitas, não necessariamente integrantes de suas redes sociais,
envolvidos em tramas que visem unicamente denegrir a imagem e a reputação
alheia. Sêneca e Umberto Eco estão mais que certos em suas teses sobre o
comportamento humano. Uma pena, pois, neste período de isolamento social as
pessoas querem ver e ser vistas e esses canais se destinam exatamente à
integração e interação social. Tivessem, essas pessoas, o saudável hábito da
leitura certamente teriam conteúdo para falar, escrever e emitir opiniões
abalizadas e sempre na busca do bem.
Uma pena que pessoas fracas, ociosas, sem estrutura
emocional para enfrentar as próprias dificuldades, encontrem nas redes sociais
seu caminho para descarregar as frustrações pessoais. Incapazes de conviver
com situações contrárias à sua natureza humana, não aceitam o sucesso e a
felicidade alheios e reagem de maneira negativa. Suas imaginações doentias, com
mentiras e calúnias sobre outros, fazem-nas “diferentes”, sentindo-se vingadas
em relação à sua própria incapacidade. Na verdade são apenas pessoas
desprezíveis que não merecem estar ao seu lado, nem mesmo nas redes sociais.
Merecem, sim, o descarte, bloqueio nas redes, que deveriam se destinar tão
somente ao convívio sadio entre amigos, com alegria na alma. Não devemos
permitir que esse nosso ambiente virtual seja
utilizado apenas como meio de satisfazer as necessidades de egoístas,
narcisistas. Nada melhor para a alegria da alma do que encontrar amigos
verdadeiros nas redes sociais, ou mesmo nas ruas e deles ouvir referencias às
amizades sadias e lembranças de boas ações praticadas em favor de terceiros,
mesmo em distante passado. Foi assim em duas viagens que fiz à terra natal. Na
primeira, ao lado do saudoso amigo Renato Libeck, encontrei Helô Costa que,
surpreendentemente, agradeceu uma ação que havíamos feito muito tempo atrás, em
favor de seu sobrinho, que sequer conhecíamos e agora é um profissional de
sucesso na engenharia, em São Paulo. Outro encontro de gratidão, mais
surpreendente ainda, e casualmente em um restaurante, também testemunhado por
amigo comum, foi rever depois de mais de quarenta anos, o colega Prof. Geraldo
Guedes e sua esposa Gracinha. Profissionais de sucesso relembraram os tempos de
bolsista nos E.U.A., lá pelos longínquos anos de 1970/80, quando aprovamos sua
bolsa de estudos para doutorado em Solos na Universidade da Flórida, em
Gainesville. Naquela ocasião, sua esposa aproveitou a oportunidade e cursou
mestrado em Línguas, tornando-se especialista no Inglês e mais tarde empresaria
do ensino de idiomas em Lavras. Como na
parábola da cura dos dez leprosos, quando apenas um deles voltou para agradecer
o milagre de sua cura (Lucas 17: 11-19), também aqui cabe a comparação. Se aqueles
doentes de antigamente eram obrigados a gritar “impuro... impuro”, quando
avistassem alguém, de modo a evitar-se a aproximação e contágio, a volta, ainda
que de um único com gratidão, bem retrata a natureza humana. E aqui, com esses
colegas que eventualmente beneficiei de alguma forma, não foi apenas um, mas
vários colegas que mesmo tendo passado quase meio século sem nos encontrarmos, ao
primeiro reencontro correram para o abraço de gratidão por um ato que
praticamos e que, de tão simples e pelo longo tempo já decorrido, sequer nos lembrávamos.
Ainda que fosse um único amigo que
retornasse e agradecesse a boa ação recebida, como aquele da parábola bíblica, já
seria suficiente para fazer-nos esquecer das injustiças e tantas inverdades que
às vezes nos perturbam.
Que atire a primeira pedra aquele que nunca foi
atingido por esse tipo de ação. Não deixe que pessoas maldosas usem as redes
sociais para essa abominável prática. Delete, bloqueie, e conforme o nível de
agressão denuncie com base nas leis de proteção ao internauta. Por aqui, numa
pausa de pouco mais de um mês, prosseguimos mapeando os maliciosos, e os há em
profusão. Há todo tipo de invasor, o hacker que invade seu perfil (fiquei
impossibilitado de postar ou editar posts de meu próprio perfil, ainda que por
que por poucas horas), outros que são apenas visitantes que não são amigos, mas
amigos de seus amigos, pessoas com perfis falsos que solicitam amizade
(geralmente um ex-amigo já bloqueado ou estelionatários). Enfim, os maldosos se
valem de inúmeras formas para buscar, espionar ou mesmo adulterar suas
postagens. Não é difícil desbaratar esses maldosos, camuflados de “amigos”
dentro e fora das redes virtuais. Aliás, a mentira e calunia iniciadas nas redes
virtuais têm capacidade excepcional de se espalhar entre pessoas da comunidade que
sequer participam dessas redes sociais. Valem-se de amigos e parentes, com
acesso a seu perfil, onde buscam informações. Assim, nem sempre o bloqueio
único e exclusivo desses falsos amigos funciona. Mas, por outro lado, é fácil
também deslindar essa rede paralela de amigos dos amigos e mesmo não sendo eles
integrantes de suas redes sociais. Em um caso particular, alguns internautas de
distantes cidades e dos quais nunca se ouvira falar, foram até as redes sociais
da vítima para “buscar” informações. Com sobrenomes estrangeiros e de cidades
distantes, em outros estados do país, a presença deles chamou a atenção da
vítima. Os investigadores logo
descobriram que se tratavam de parentes
de uma das principais disseminadoras de fakes que já estava bloqueada
havia tempo. Eles estavam, todos, em visita à casa da matriarca no Dia das Mães. São ardilosas e perigosas essas
pessoas desestruturadas emocionalmente.
Mapeados, identificadas a fontes disseminadoras das “fakes”,
pode-se também bloqueá-los e isto é fácil, pois mesmo não sendo seus amigos nas
redes sociais, eles vêm constantemente visitar seu perfil. Uma das redes
sociais até informa quem visitou seu perfil. Ora se for pessoa amiga daquela disseminadora
das “fakes” e que já esteja bloqueada na sua rede..., é óbvio que o visitante é
um laranja daquela. Bloqueio nele também, assim recomendam os anti-hackers.
Aliás, esta é uma nova profissão já em uso pelas policias de crimes digitais,
especialmente em Brasília, capital das “fakes” políticas, principalmente às vésperas
de ano eleitoral.
Cuide bem de
suas redes sociais, não permitindo que pessoas indesejadas contaminem o prazer
de interagir com seus verdadeiros amigos. Denuncie se for caso de crime
previsto em lei, pois o filósofo Umberto Eco está mais que certo ao afirmar que
“as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. E salvas para os verdadeiros amigos.
Brasília, 31 de julho de 2021
Paulo das Lavras
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