As flores são
como as crianças, trazem amor e vida,
têm o poder de desarmar e emocionar as pessoas.
Julho
é mês de início das florações dos Ipês Amarelos e em agosto eles estão em plena
florada. Plantei vários em minha chácara e neste mês já estão florados com
singular beleza de amarelo ouro reluzente, denso. Os cachos dourados recobrindo
toda a copa das árvores nos inspiram o amor à natureza e despertam pensamentos
que enlevam a alma. Alguns desses ipês foram postados nos álbuns de fotos de
minha página do Facebook como a compartilhar com os amigos a frase do poeta
Rubem Alves: “As flores fazem parte da minha felicidade”. Concordo e subscrevo
as palavras do poeta, pois desde a infância fui cercado pelas flores dos
jardins que minha mãe e irmãs mantinham ao redor da grande casa da chácara em
que morávamos em Lavras. Além dos jardins floridos e das buganvílias que
cobriam os muros havia um belo pé de ipê amarelo nos arredores. Prosseguindo
nesse privilégio que a natureza nos concede, o jovem engenheiro agrônomo foi,
logo no primeiro trabalho profissional, cuidar dos parques e jardins da
capital, Belo Horizonte. Nunca tinha visto tantas flores cultivadas em toda sua
vida. Cuidar da produção em viveiros, transplantá-las e ver os multicoloridos
das florações em toda a cidade se constituía em incrível e indescritível
prazer. Além disso, havia ainda os cuidados com o gramado do estádio Mineirão. Deixa-lo
com a grama exuberante, pronta para os disputadíssimos embates de Cruzeiro e
Atlético tinha um sabor a mais quando ali presente naquelas disputas esportivas.
Depois de um ano ali deixei muitos jardins plantados e mais tarde voltei para
buscar, em definitivo, aquela outra flor, minha noiva, que me auxiliava nas tarefas de cuidar
dos jardins públicos de BH, com desenhos de planta baixa ou perspectivas dos projetos em execução. Um pouco mais tarde, chegando a Brasília, há mais de 40 anos,
cuidamos de implantar nossos próprios jardins na chácara de lazer. Flores são
assim, inspiram o amor e nos acompanham sempre, ou como disse Rubem Alves, as
flores são como as crianças, trazem amor e vida, têm o poder de desarmar e emocionar as
pessoas.
Rubem Alves escreveu certa vez que Deus cansou-se da imensidão dos céus
e sonhou… Sonhou com um jardim. “O Paraíso era um jardim de flores e Deus
andava pelo meio do jardim…”. Um jardim é o seu rosto sorridente. Plantar
flores é colher felicidade. E plantar uma árvore é um anúncio de esperança.
Especialmente se for uma árvore de crescimento lento. E isso porque, sendo
lento o seu crescimento, plantamos sabendo que nem vamos comer dos seus frutos,
nem sentar à sua sombra… Plantamos pensando naqueles que comerão os seus frutos
e se sentarão à sua sombra. E isso bastará para nos trazer felicidade! Sua
sensibilidade sobre os jardins e flores era transcendental. Tanto assim que pediu,
antes de partir, que não queria receber flores no seu velório. Seria maltratar
a beleza delas em ambiente assim, triste. Aliás, nem queria velório e preferia
a cremação. Mas, os amigos só o atenderam quanto ao segundo pedido, pois houve,
sim, velório na Câmara Municipal de Campinas nos dias19 e 20 de julho,
seguindo-se a cremação. Em contrapartida pediu em vez de coroas de flores
mortas, que cada amigo semeasse flores em algum lugar - num vaso, num canteiro
ou à beira de um caminho. Se não for possível, que distribuam pacotinhos de
sementes entre crianças de alguma escola, entre velhos de algum asilo e se for
possível, uma muda árvore para ser plantada. Ah! Que linda prova de amor é
plantar uma árvore para que alguém amado, ausente, possa se assentar à sua
sombra, concluiu ele. E ainda emendou, se você amiga, Carolina, a quem
escrevia, se for primeiro do que eu prometo que plantarei uma flor. Essas
palavras, ou melhor, os desejos do poeta, levaram-nos a refletir sobre quão curta
é a vida. Precisamos vive-la intensamente, aproveitar os seus encantos,
sobretudo as belezas da natureza aqui materializadas em forma de flores. Se já
havia decidido antes, agora mais forte ficou o desejo de que as minhas cinzas
sejam depositadas aos pés dos ipês amarelos. O primeiro, aquele que emoldura a
janela do quarto da fazenda onde nasci, em Lavras e o segundo em um daquela
meia centena de ipês de várias cores que
há mais de 20 anos plantei e enfeita a chácara em Brasília.
Mas,
que coincidência, ele, Rubem Alves, se foi justamente no mês em que os ipês
amarelos floresceram. Por isso e certamente a saudade vai nos pegar. Mas ele
próprio explica a saudade, que nada mais é do que a dor da ausência física de
alguém. E ela só é curada quando a pessoa volta. Mas..., ele não voltará nunca mais...
Engano, pois ele nem se foi. Uma forma de eternizar o amor e nunca sentir a
falta de um poeta é ler suas obras. Por isso a academia de letras também é
conhecida como Academia dos Imortais. Mas eles, os poetas, não morrem? Nunca!
Eles deixam sua alma alegre, amorosa, em forma de obras literárias, que são
perenes, se eternizam. Rubem Alves, além de seus inúmeros livros, plantou
jardins, árvores que florescem sempre. E
tenho muitos livros dele, crônicas, poemas sobre o amor e as belezas da alma. E
como ele, admiro as árvores e as flores, até mesmo por vocação profissional. E
plantei muitas árvores e flores, milhões delas e que admiro diariamente. Por
isso digo que ele, Rubem Alves, o cultor das flores e das árvores, não morreu,
não para mim, pois aprendi a amar a sua alma que tem a aura do amor à vida e às
pessoas. Viveu entre jardins, cercado de crianças em seu pensamento. A cada ipê
amarelo que vejo, o revejo em pessoa, com largo sorriso, amor saltando aos
olhos e grandes projetos na alma. A cada jardim ou flor que plantei ou
simplesmente vejo, revejo-o, sempre, pois o amor habita entre flores e
crianças. Assim, nessa Primavera que se avizinha escolherei três mudas de Ipê
Amarelo, uma para cada neto. Farei placas de metal com os dizeres: Ipê Amarelo
Rubem Alves - 2014 e as afixarei ao lado de cada uma das árvores que meus netos
plantarão. Também eles não sentirão saudade do poeta, embora não o tenham
conhecido ainda, mas certamente mais tarde já terão lido muitos de seus livros
e então entenderão daqui a 20... 30 ou 70 anos que olhar aquele Ipê amarelo
florido, que um dia a então criança plantou, representa a alegria e o amor de
Rubem Alves, o amor pela vida, bela e simples como uma flor. "As pessoas são aquilo que amam", disse ele.
Brasília,
30 de julho de 2014
Paulo
das Lavras
Ipê amarelo – site oficial de Rubem Alves
Cuidando de flores
apreciando flores desde pequenos
Ipê branco na chácara. Mais de 50 espécies de todas as cores
que florescem em sequência durante quase dois meses
Acacia rosa nos jardins da chácara, em Brasília. Mudas trazidas da Ufla
Gerânios e um visitante em busca de sementes
Flores em qualquer ambiente, alegria
sempre
Iresine ou coração magoado, pingo de ouro e
congea ao fundo.
Ipê amarelo, em frente à janela da
fazenda onde nasci, em Lavras
Sabe que o meu desktop (área de trabalho de meu computador) tem uma foto - enorme - da tipuana do jardim de Lavras? E sou especialmente fã dos baobás. Uma vez, em Recife, ao descer de um ônibus de excursão, bati o olho no jardim e vi, ao longe, uma árvore magnífica. Saí correndo em direção a ela, e era, sim um baobá, o famoso baobá do Recife. Tenho em meu quintal várias árvores, todas plantadas por mim, não são muitas porque o espaço não é grande. Pois, é: plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho... não é a realização, mas são coisas que nos humanizam. Compartilho como você esse amor às árvores, às flores, embora não tenha a habilidade do engenheiro agrônomo no trato com elas e delas. Nem vou falar dos ipês, claro, já o fez você com maestria. Mineiro, dois dedos de prosa já bastam e temos nos excedido ultimamente. Mas é bom... muito bom... Enfim, um grande abraço e parabéns pelos textos.
ResponderExcluirObrigado, Isaías, e como você mesmo disse, plantar uma árvore não é a realização, mas nos humaniza. que bom que compartilhamos esse sentimento. Um abraço
ExcluirOh!! Paulo!! Que lindo esta sua homenagem ao Rubem, a vida, a poesia, a natureza, aos Netos. Emocionante! Sinto uma dor por não ter conhecido o Rubem e por tê-lo descoberto tão pouco tempo antes de sua "partida". Através da leitura de seus livros aprendi a olhar para os ipês com mais gratidão. Sempre fui amante da natureza, mas hoje, sinto que é diferente, consigo enxergar poesia diante da sua beleza. Parabéns por lindas palavras de amor!
ResponderExcluirHoje avistei um ipê amarelo no início de sua florada.
A sua beleza fez nascer em mim, um poema:
(Aos teus pés
Meu mundo fantasia
"Queria ficar por aqui".
Acompanhar o teu florescer diante do luar
Do frio da noite
Até o sol raiar
Contemplar o teu desabrochar até chegar um sabiá e encantar os ouvidos de quem por aqui passar.
Aqui, junto a ti eu queria ficar. (Luzineide Novais))
Olá, Lu Novais
ResponderExcluirObrigado pelos comentários. Também gostei de seu poema sobre a paixão pelo ipê. Parabéns.
Fico contente que você tenha gostado da crônica que homenageiei o poeta e filósofo Rubem Alves. Imagino que você deve mesmo ter lamentado muito por não tê-lo conhecido antes. Agora imagine o quanto pessoalmente lamento, pois ele, Rubem Alves, foi professor durante muito tempo na minha cidade natal. E eu lá morava na ocasião, em Lavras-MG e sequer o conheci.
Veja detalhes da vida dele, em Lavras, em outra crônica, de agosto de 2014:
http://contosdaslavras.blogspot.com.br/2014/08/rubens-alves-2-o-sobrado-do-capitao.html
Um abraço
Paulo Roberto
Bom dia, Paulo das Lavras!!
ExcluirObrigada! Nossa... essa nossa lamentação é bom que seja regada por sementes de ipês, e por muitas páginas de crônicas do Rubem!! rsrs
Se eu morasse na mesma Cidade do Rubem e não tivesse o conhecido e/ou sido aluna dele, acho que eu teria um troço...rsrs..
Vou visitar o link indicado! Obrigada!!
Abraços!
Boa tarde, LuNovais
ExcluirPois foi o que aconteceu comigo. Exatamente assim. Não o conheci e nem assisti a nenh
uma de suas palestras enquanto ele foi professor em Lavras. É mesmo de chorar. E toda vez que um amigo conterrâneo escreve, aqui na rede, que foi aluno dele, assistiu suas palestras em nossa terra natal, eu fico chateado comigo mesmo e me ponho a perguntar: como isto pode acontecer comigo? Mas você está certa, sublimei a frustração ao encontra-lo pelas suas obras escritas e o amor comum que temos pelas plantas, pelas flores. Daí as crônicas que escrevo sobre ele.
Rubem Alves é demais.
Um abraço
Estou simplesmente apaixonada por tudo q li. Sou encantada pela natureza e principalmente por flores e ipês de todas as cores.
ResponderExcluirQuando vou visitar minha irmã em Salesópolis passo por uma estradinha de terra com muitas árvores de ipê amarelo. Paro ali por algum tempo para contemplar a beleza e o amor de Deus através dessa criação magnífica.
Lindo de viver!!!
verdade, não há quem não se curve ante a majestade de um belo ipê amarelo florido. Obrigado
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