Quinze?
Mas a FIFA anunciou que esta, de 2014, seria a vigésima edição da Copa Mundial
de Futebol... Sim, é verdade, são 20 as copas realizadas pela FIFA. As
solenidades de abertura nem empolgaram tanto os torcedores que estavam mais
interessados em vaiar as autoridades presentes, políticos e dirigentes da
federação internacional do futebol. Não
foi um ato civilizado, num estádio lotado para o jogo de abertura entre as
equipes do Brasil e da Croácia. Uma pena, pois os nossos dirigentes merecem o
respeito, a honra pelos mandatos dos cargos eletivos que desempenham. Mas, por
outro lado, muitos notaram a falta daquele que foi o idealizador, o mentor da
Copa no Brasil, o ex-presidente Lula, que tanto insistiu que o Itaquerão se
tornasse uma arena padrão FIFA, com elevados recursos públicos, em vez de um
mero novo campo do Corinthians. Foi dele
também a infeliz ideia de pulverizar os recursos financeiros na construção de
12 estádios nas cidades sedes. Com isso faltou dinheiro para as obras de
mobilidade urbana, além do que, fez pilhéria com a situação dizendo que “é
babaquice (sic) fazer metrô para a Copa, vai a pé ou de jegue”. Evidente que
ele mesmo se valeria de outros meios mais rápidos, não se descartando o
helicóptero e acesso privilegiado ao camarote oficial. Mas, ele se mostrou mais
esperto que outros, pois nem foi lá se expor diante daquela plateia que ele
chamou de “elite branca”. A oposição disse, ironicamente, que foi “injustiça”
da FIFA não convidá-lo e que ele merecia estar lá para também receber o
“carinho” da torcida. Ano eleitoral há mesmo dessas coisas, mas uma coisa é
certa, o povo brasileiro mudou. Surpreendeu a FIFA e a imprensa mundial, pois apoia
a seleção, mas parece que não quer
esquecer os problemas de corrupção dos políticos e tampouco deixa-los explorar
o futebol como possível fonte de votos. Para o povo, em resumo, Copa é Copa,
política é política.
Essas
são questões conjunturais, no entanto, a história fará julgamento mais sereno e
acurado depois de algum tempo quando já tiverem passadas as paixões
momentâneas. Por falar em tempo e Copas de Futebol, alguém já assistiu a mais
de dez delas? Esta é a minha 15ª Copa do Mundo de Futebol. Daí o título desta
crônica. Tenho ainda viva a lembrança da primeira que vi, ou melhor, ouvi ao pé
do enorme rádio de válvulas, cheio de chiados e interrupções devidos à
precariedade do sistema de transmissão numa época em que não havia satélites de
comunicações. Era o ano de 1958 e estávamos, umas 70 crianças de 11 a 15 anos,
internas no Seminário de Itaúna-MG. Ouvir os jogos, ao lado dos padres
holandeses daquele educandário, era a melhor diversão para a meninada que se
encontrava longe e saudosa de suas casas. Na distante Suécia o Brasil sagrou-se
campeão mundial, pela primeira vez, naquele 29 de junho de 1958. Rebuscando o
baú encontrei algumas fotos do menino vibrando com um dos cinco gols do Brasil
que venceu o time anfitrião por 5 x 2. Fim de jogo, Brasil campeão com dois
gols de Vavá, dois de Pelé e um de Zagallo. A escalação do time qualquer menino
sabia de cor: Gilmar, Nilton Santos, Bellini, Orlando,
Djalma Santos, Zito, Didi, Vavá, Garrincha, Zagallo e Pelé.
Inesquecíveis também eram os comentários
dos locutores narradores Jorge Curi
e
Oswaldo Moreira da Radio Nacional do Rio de Janeiro pelas suas ondas curtas.
Destacavam com entusiasmo as atuações fantásticas de Garrincha, Vavá, Didi – o
folha seca, Nilton Santos e o goleirão Gilmar com defesas quase impossíveis. Quase
todos os jogadores se destacavam, mas as lembranças de Djalma Santos, Bellini,
e Zagallo também eram marcantes. Zagallo veio a ser o técnico da Seleção por
três vezes, a qual comandou em mais de uma centena de jogos e conquistou a Copa
do México em 1970. A grande revelação, além de Garrincha e Didi, foi o menino
Pelé que marcou dois gols. Mas, ainda sobre a Copa de 1958, o menino pôde ver
as fotos do time e da taça Jules Rimet somente algum tempo depois, na revista O
Cruzeiro, já em edições passadas e aqui reproduzida. Depois desse primeiro
título de campeão vieram mais quatro conquistas, as copas de 1962, no Chile,
1970 no México, 1994 nos EUA e 2002 no Japão. A taça foi definitivamente conquistada
pelo Brasil com a 3ª vitória, no México. Porém, foi roubada e teve os seus 3,8 kg
de ouro derretidos em 1983. Foi providenciada a confecção de uma réplica, que
ainda hoje se encontra na CBF.
Mas,
ainda que tenha assistido 15 Copas da FIFA, a contar com a primeira, de 1958 na
Suécia, apenas duas delas me marcaram indelevelmente. A primeira foi mesmo a de
1958, tanto por ser a primeira como também por estar interno num Seminário
(sim, o menino de 12 anos queria ser padre..., mas ficou só um ano no
seminário) e aquela era uma atração especial, principalmente pela animação e
incentivo que os padres holandeses repassavam para os pequenos seminaristas.
Sabíamos a escalação da seleção e seus artilheiros e principalmente sobre a
grande revelação do menino Pelé e os dribles desconcertantes de Garrincha. Além
disso, o Seminário era um ambiente muito culto, com esportes, oficina de artes,
aulas de música e canto gregoriano. Nesse contexto a Copa do Mundo era um bom
pretexto para aumentar a cultura sobre os diversos países, seus usos e
costumes. Foi nesse tempo que o menino confeccionou, em madeira, um belo
“moinho holandês” que ainda hoje decora seu escritório. A segunda copa que
também deixou marcas indeléveis foi a de 1970, no México. Foi transmitida a
cores pela primeira vez. Maravilha da tecnologia P.A.LM para quem estava
acostumado apenas com o preto e branco. Ainda que a qualidade da imagem fosse
incomparavelmente inferior às de hoje com tecnologia digital, foi um grande
progresso, pois podíamos ver as cores da camisa dos jogadores. Além disso,
aquela seleção de 1970 deixou marcas pela qualidade dos jogadores com destaques
para Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivellino, Gérson, Clodoaldo, Piazza e Carlos
Alberto Torres. Havia até uma marchinha que fez o maior sucesso, “a taça do
mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa…” que se tornou ícone do
tricampeonato que trouxe a posse definitiva da taça Jules Rimet.
Embora
a Copa de 1990 não tenha sido marcante, a menos que consideremos que foi a pior
campanha da seleção brasileira, incluindo a derrota de 1 x 0 para a Argentina
que nos despachou de volta da Itália, chamou-nos atenção um episódio ocorrido
na fase de classificação, no ano anterior, a chamada fase eliminatória. O
Brasil disputava a classificação com o Chile, que tinha o famoso goleiro Rojas.
O Chile não podia perder e armou uma fraude para anular o jogo quando já estava
perdendo por 1 x o. Ao cair e explodir no gramado um rojão, o Rojas (quase que
rimou...) se atirou ao chão, sacou camufladamente um pedaço de lâmina de dentro
de sua luva e provocou um corte no supercílio. Alegou que o corte foi provocado
pela explosão do rojão e pediu a anulação do jogo. Embora tenha havido o rojão a perícia dos próprios
chilenos descobriu a fraude e o goleiro foi suspenso pela FIFA por 18 meses.
Depois até jogou pelo São Paulo e ainda se tornou treinador desse time... Mas,
hoje vendo o jogo de Brasil e Colômbia, desta Copa, e a violência do colombiano
Zuniga contra o menino Neymar, ficamos a pensar..., outra conspiração?
Mas,
e essa Copa de 2014? Marcará história com legados positivos? Lógico que sim! Só
o fato de ser realizada aqui em nosso país já é um marco histórico. À parte as
sensações palpitantes, de jogos dificílimos que a Seleção vem enfrentando e por
último a baixa quase que criminosa de nosso maior craque Neymar, podemos
registrar com muito orgulho que a Copa serviu para mostrar ao mundo um Brasil
diferente daquele estereótipo divulgado lá fora: A terra das mulatas, do samba,
carnaval com gente fantasiada de Carmem Miranda, turismo sexual infantil, corrupção,
lutadores de capoeiras e índios civilizados às vezes portando arco e flecha
alvejando soldados. As reportagens de correspondentes estrangeiros felizmente
vêm destacando as qualidades de nosso povo. Aqui em Brasília pude sentir isso
nas ruas, shoppings, no estádio, hotéis e pontos turísticos. Fiz questão de ver
e testar, falando com turistas franceses, americanos, suíços, camaroneses,
equatorianos, colombianos, marfinenses, portugueses, nigerianos e ganenses que
aqui vieram ver os jogos da Copa. Até os argentinos com os quais a imprensa
gosta de fomentar rivalidades, deram show de civilidade e educação por aqui. Um
dia antes do jogo de Argentina e Nigéria tive a oportunidade de conversar com
vários “hermanos” e um senhor com seu filho de 13 anos, fez questão de posar
para fotos depois daquela famosa provocação sobre quem seria melhor se Maradona
ou Pelé. Todos, sem exceção elogiavam nosso país, a cidade e sobretudo a
hospitalidade e a simpatia dos brasileiros. Pelo brilho dos olhos depreendi que
estavam sendo sinceros. Confira as fotos. Além disso, espero que esse clima de
civilidade da torcida brasileira continue e assim possamos ter a mesma
tranquilidade e levar a família inteira para assistir aos jogos nos estádios.
Boa
Copa! E esta é a 15ª que assisto e que privilégio, em nosso país! Embora tenham
ficado marcas indeléveis e as mais prazerosas possíveis com as duas copas
mencionadas, espero que desta vez as alegrias venham em dobro..., e
efetivamente a primeira satisfação tem sido ver esse congraçamento entre nações
e um novo olhar do mundo sobre nosso povo. A segunda grande satisfação? Ah..., com
o Brasil conquistando o título de hexacampeão.
Brasília, 06 de julho
de 2014.
Paulo das Lavras
Revista O Cruzeiro, de 1958.
O capitão Bellini com a taça, o técnico Feola e o
goleiro Gilmar
Seleção campeã do mundo, na Suécia, em 1958.
O Seminário de Itaúna, em 1958
o
mesmo prédio 55 anos depois
Na
escadaria principal. Ouvindo e comemorando os gols do Brasil sobre a Suécia
(5x2). O menino das Lavras, na primeira foto, trajando blazer e camisa xadrez, é
o 3º em pé, na segunda fileira da esquerda para a direita. Corte de cabelo com
as laterais raspadas, tal qual os jogadores Oscar e Thiago Silva usam hoje. Na
segunda foto é o primeiro, de costas, à esquerda.
A mesma escadaria principal do
Seminário de 55 anos atrás
As atividades esportivas incluíam o Espirobol,
ou bola ao mastro e barras
o menino é primeiro à
esquerda, dando um golpe na bola
Próximo às barras, o primeiro agachado à direita
O campinho de futebol, 55 anos depois.
Traje
de gala dos seminaristas. Última fila, o terceiro
da direita para a esquerda
Ajoelhado à direita, na atividade preferida
pelos
Seminaristas: ajudar a celebração de missas
Atividades no Seminário: trabalhos manuais: moinho
holandês,
feito pelo menino e hoje decora seu escritório
A Seleção tricampeã, de 1970, no México
A
taça Jules Rimet, definitivamente no Brasil
O goleiro chileno, Rojas, o rojão e ...
... a lesão fraudulenta na sobrancelha
Neymar, abatido com maldosa lesão na vértebra
Simpático casal camaronês em Brasília
Outro camaronês
Cantando a Marselhesa com “les bleu"
Nigerianos, adversários da França em
Brasília
Napoleão Bonaparte e sua comitiva
Batucada nigeriana na Torre de TV- Brasília
Lembram as baterias de carnaval do Brasil
Francesas
na entrada do Estádio Nacional. Perguntaram
por que eu usava a faixa de
Prefeito de Paris. Respondi que eu era o “prefeito da cidade” e estava homenageando os franceses...rsrs.
Na verdade, essa faixa bleu/blanc/rouge, foi usada por mim, quando fui investido na qualidade de Juiz de Paz, em Paris,
e ali celebrei o casamento de uma casal amigo, no regime PACSÉ. Mas, esta é outra história e já contada em: (https://contosdaslavras.blogspot.com/2022/08/7-de-setembro-roubaram-minha-bandeira.html
Uruguaias também foram torcer pela França
Argentinos e franceses juntos na torcida
Argentinos.
O filho de 13 anos fez este menino se lembrar de sua primeira Copa, quando
tinha
a mesma idade. Para concordarem que Maradona não é melhor que Pelé, fizeram-me
posar
com a camisa azul e branca, à porta do café da manhã num hotel...
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