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Voei centenas de vezes na rota Brasília/Rio/Brasília e BHZ/SÃO/BHZ, a bordo de todo tipo de aeronave comercial, o Electra, Viscount, Samurai, One-Eleven, Boeing, Airbus, Caravelle, o primeiro jato comercial, francês, das linhas aéreas Varig e Cruzeiro e muitos outros aviões executivos da Força Aérea Brasileira – FAB como seus Lear-Jet e o mais disputado pelos ministros, aos quais acompanhava em viagens de serviço, o HS-125, jatinho executivo inglês, amplo e superconfortável. Além desses, muitas outras viagens foram feitas em aviões menores como o Bandeirante, Xingu e o Brasília, fabricados no Brasil pela Embraer, como também seus modernos jatos ERJ-145, 170 e 190. Eram tantas as viagens que acabei memorizando a rota, cujas cidades e acidentes geográficos como as cadeias montanhosas, rios, matas, ferrovias e rodovias eram facilmente identificados pela janela do avião. Quando se abriam os portões de acesso à pista de embarque eu era o primeiro da fila (mineiro não perde o trem, dizem...) e corria a escolher um lugar privilegiado, à frente e com ampla visão, livre dos estorvos das turbinas ou das fuselagens das enormes asas. Era assim mesmo, pois não havia lugares marcados e nem as rampas telescópicas para o embarque diretamente à porta da aeronave. Aboletado nos melhores lugares, desfrutávamos de ampla visão, identificando cada local no chão a 10 mil metros de altura e ainda cronometrando o tempo de voo para se chegar a cada ponto marcado. Assim, exatos 50 minutos após a decolagem de Brasília, lá estava a cidade natal de Lavras, com seu inconfundível cenário, de um lado o Rio Grande serpenteando entre montanhas e de outro a majestosa Serra da Bocaina, paredão que emoldura a cidade pelo lado sul, tal qual a Serra do Curral embeleza a capital dos mineiros. Aos 45 minutos de voo avaliava o local sobrevoado e já me fixava nas rodovias, montanhas e cidades vizinhas, como Santo Antônio do Amparo, pequenina, mas com enorme igreja matriz e torre bem alta. Em segundos era só olhar mais à frente e à direita lá estava a terra natal e nesta, à margem da rodovia Fernão Dias a fazenda onde nasci e passava todas as férias escolares desde então. Ali, no silêncio e na solidão, a bordo das aeronaves, e com aquele saudoso cenário à vista, o menino invariavelmente mergulhava no tempo e até desejava saltar de paraquedas para chegar ao doce recanto do lar onde nascera. Foi então que comecei a entender o valor da Mulher, refletindo sobre tudo que ela representa na vida de todos nós, a começar pela geração e cuidados com as crianças, e assim o subconsciente se deleitava com as imagens da doce infância, bem ali, a 10 mil metros abaixo. Ah... por que não um paraquedas ali, na hora e realizar o sonho da busca ao tempo perdido?
Cheguei aonde
cheguei, estudava muito, venci todas as etapas com distinção, ocupei honrosas
funções de trabalho, bem-sucedido no Brasil inteiro e no exterior,
principalmente nos Estados Unidos e França onde desempenhei longas missões de
governo, mas, nunca, nunca mesmo, me esqueci de onde vim e o papel que as
mulheres desempenharam na minha formação. E ali, de dentro do avião, nas
alturas, a cada vez que sobrevoava minha querida cidade natal e as fazendas
onde me criei, mergulhava nos escaninhos escondidos da alma e encontrava,
sempre com imensa e terna gratidão, a figura de minha mãe, brava guerreira que
lutou pelos filhos. Mulher de fibra. Costumo dizer aos amigos, como a
lembrá-los: Homens..., somos aquilo que as mulheres nos fizeram! E é
verdade, com destaque para a mulher-mãe, em primeiro lugar. Sou grato a Deus
pelas mulheres que me fizeram ser o que sou, a mulher-mãe, as irmãs, tias,
avós, professoras que cuidaram da criação, formação e educação e ainda, as
outras que chegaram mais tarde, no trabalho, esposa, filhas e amigas do
convívio social.
A todas elas,
as mulheres, sem distinção, sempre dediquei atenção e respeito, tendo como
inspiração o exemplo de berço, a saga, dedicação e amor de minha saudosa mãe, que
muito cedo partiu para a glória do Senhor. Mas, não só por isso, também defendo
e estimulo oportunidades para que elas, as mulheres, ocupem o lugar que
merecem, ou seja, onde elas quiserem. Deixo aqui o meu conselho, neste momento
em que assistimos à tanta violência contra as mulheres. Respeito e admiração a
elas, sempre! Nunca é demais lembrar e repetir que nós, os homens, somos aquilo
que as mulheres nos fizeram. Que neste 08 de Março em que se celebra o Dia
Internacional da Mulher, as lembremos com carinho e afeto e nem seja preciso
repetir o 08 de março de 1917, quando as mulheres russas foram à praça pública,
emparedando o Czar Nicolau II, reclamar o direito ao trabalho digno, embora a
luta de hoje se foque mais contra o machismo e a violência.
Defendamos sempre a Mulher e não apenas nesse dia dedicado a ela.
Viva
o Dia Internacional da Mulher! Parabéns a todas, pelo muito que representam em
nossas vidas. Precisam ser mais valorizadas e essa é a melhor maneira de se defende-las.
Brasília, 07
de março de 2024
Paulo das
Lavras
Foto: ano 1948, aos 34 anos de
idade.
https://contosdaslavras.blogspot.com/2014/04/passeando-entre-montanhas.html
Com essa maravilhosa vista, voando
num jato, a 10 mil metros de altura, também
o pensamento voa. “Vá, pensamento, vá! Voa em asas douradas, pousa sobre as encostas e colinas
onde os ares são tépidos e macios com a doce fragrância do solo natal... Reacende em
nosso peito
a memória, fale-nos do tempo que passou...”.
Contemplar e passear por entre as
montanhas de Minas é como ressuscitar a nostalgia
decantada e cantada nos versos acima, nessa
maravilhosa ópera, Nabuco – Va Pensiero,
escrita pelo gênio Giuseppe Verdi.
Foto: Alejandro, 2012
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