Disse o poeta que a distância e o luto, até virar só saudade e lembrança boa, são dores extremas. E é verdade, pois desde os 12 anos experimentei a dura realidade da distância no internato de um Seminário. Um ano longe de casa, dos pais, familiares, amigos e das coisas mais comuns da terra natal, exatamente aquilo que está entranhado no subconsciente e que lhe dá estabilidade emocional. Por isso sua ausência dói! Aquela primeira grande distância física ocasionou dor extrema e perturbou o menino nos primeiros dias, semanas e meses. E quando se transformou em saudade, a contagem regressiva do tempo passou a ser motivo de maior saudade, ansiedade até chegar a hora de voltar. A distância durou só um ano, mas foi suficiente para marcar a alma do menino solitário ali no internato. Quando adulto e já na vida profissional, passei a morar longe da terra natal e ainda assim, viajava duzentos dias por ano em todo o país e no exterior, onde desempenhava missões de governo. De novo a solidão por semanas a fio, nas viagens com distanciamento dos entes queridos, às vezes em locais tão longes que a volta para casa demandava dias, mesmo de avião, com inúmeras conexões e escalas internacionais. Antigamente para se chegar à Guatemala ou Costa Rica, por exemplo, era necessário se deslocar para a América do Norte (Miami) e de lá fazer conexão para voltar para o sul, na América Central, como se estivesse voltando para o Brasil.
Mas, a
dor extrema da distância, quando demorada, vai se esmaecendo e se transforma em
saudade. Saudade dos bons momentos do convívio com os entes queridos, amigos e
até mesmo as paisagens e feições típicas do lugar onde se viveu por tanto
tempo. Nem mesmo os sons e os cheiros da terra natal, como cantado em “Green
Grass of Home”, são esquecidos. Ao
contrário estão sempre presentes, até nos sonhos oníricos. Escutar aquela
canção de Tom Jones, após algumas semanas sozinho ali nos Estados Unidos onde
trabalhava periodicamente, era como embarcar num sonho dos verdes campos da
sacrossanta terra natal e ao acordar só restava o profundo sentimento de
saudade, nostalgia a dor da distância que dilacera o coração. Ah..., distância, a distância, esse é o problema...!
E
os sonhos saudosos rolavam sem fim. As ruas, lojas, a escola, o bonde, tudo é
relembrado e remasterizado em sonhos coloridos. Ah, que delicia os sonhos
oníricos com os riachos, as fazendas, as peladas de futebol no campinho da
Estação Costa Pinto, os sinos das igrejas matriz e do Rosário e da capela do
Batalhão, o jardim da cidade com o footing das mais belas moças em flor, os
colégios e suas fanfarras com taróis estridentes e lindas balizas saltitantes
em acrobacias..., tudo, enfim! Na distância a saudade aperta e as
reminiscências do subconsciente afloram deixando nossa alma em desalinho. Num
fechar de olhos, tudo se torna presente, mergulho nas águas dos riachos, como
fazia quando criança ou mesmo no lago do jardim, tal qual ali fui atirado
algumas vezes pelos veteranos da Esal/Ufla. Faço isso quase todos os dias de
minha vida, pois essa distância já se tornou em doce saudade, de olhos abertos
ou fechados, lúcido ou em pleno sonho onírico.
Assim,
a distância sempre presente em minha vida, mostrou-me que a dor extrema,
alardeada pelos poetas, logo se transforma em saudade, a lembrança boa. Saudade
doce que acalma nossa alma e nos alimenta com os valores do amor. O Amor à
terra em que nascemos, aos entes queridos e amigos que conosco partilharam e
continuam ao nosso lado nessa jornada. Esse é o maior tesouro de nossas vidas!
Brasília,
21 de novembro de 2020
Paulo
das Lavras
Jardimde Lavras-MG com sua belíssima Tipuana. Local do footing dos jovens nos finais de semana Foto: Robson Rodarte
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