Hoje,
20 de junho, celebra-se na Igreja Católica Romana a liturgia de Corpus Christi,
simbolizando a Eucaristia. Embora tenha deixado a igreja há mais de 50 anos,
ainda guardo lembranças daquele tempo de Seminário (sim, amigos, o menino de 12
anos queria ser padre...) e de coroinha na Igreja Matriz de Santana das Lavras
do Funil. Naquela principal paróquia da cidade, coordenados pelo saudoso padre
Miguel Moretti, caridoso e querido por toda a comunidade católica, nós, os
coroinhas, gostávamos de acolitar as missas, respondendo em |Latim todas as
orações e homilias ... Incrível como ainda hoje as guardo de cor e posso
recitá-las ou cantar os mais belos cânticos gregorianos de júbilo, como o belíssimo
cântico que dificilmente o menino o concluía, no coral de seminaristas, sem
derramar lágrimas de emoção. Ainda hoje a emoção ao ouvi-la é a mesma, pelo
significado de sua mensagem e muito mais pela melodia que penetra fundo em nossa
alma: Adeste fidelis - venite adoremus Dominum, Deum de Deo, lumen
de lumine Deum verum, genitum non factum (veja, ouça, medite : https://www.youtube.com/watch?v=D5ONtCZUhZ0).
Além dessas, de gaudio, que derretem nossos corações, havia também os cânticos
de luto, para as cerimônias fúnebres e que também nos provocavam lágrimas,
porém em sentido contrário, pois estavam ali para nos lembrar o dia do juízo
final, como o Dies iræ, dies illa, solvet
sæclum in favilla... Muitas são as lembranças daqueles cânticos que
alimentavam a alma do menino, num internato bem distante da família. Marcas
indeléveis, doces de se reviverem.
E
hoje foi dia disso, de recordar, diante dos noticiários de TV, mostrando a
beleza das decorações das ruas, preparadas para o ato litúrgico. Aqui em
Brasília, como em muitas cidades de Minas Gerais, há a tradição de se
confeccionar tapetes multicoloridos para a passagem da procissão de Corpus
Christi. São verdadeiras obras de arte, exibindo variegados mosaicos com
motivos religiosos. Em 2015 visitei os tapetes, na Esplanada dos Ministérios,
quando ainda estavam sendo confeccionados. Lindos e mais bonito ainda a
dedicação dos jovens, em grupos organizados, a executarem as tarefas de
transformar um projeto, com esmerado lay
out, em realidade colorida.
E
nessas recordações o nosso subconsciente rola e nos mostra um filme completo
das emoções religiosas. Os tapetes de serragens e corantes, os coroinhas com
suas batinas vermelhas e sobrepelizes brancas, tudo enfim que vivemos e
convivemos, mesmo depois de passados mais de 50 anos, aparecem com nitidez e
emoção em dobro.
Um
bom feriado para todos, cheio de meditações que reconfortem a alma.
Brasília.
20 de junho de 2019
Paulo
das Lavras
Em 2016 participei da celebração da festa do
Marmelo, na zona rural de Brasília.
Os coroinhas, Ronaldo e Taliene, fizeram-me recordar
os tempos de coroinha
na Matriz de Santana, em Lavras, quase 60 anos
atrás.
Ostentávamos essa batina com o maior orgulho. A
impressão que tínhamos era que
as cores
vermelha e branca simbolizavam o sangue do cordeiro de Deus e a alvura de nossa
alma
que iria para o Céu prometido.
Como no
decorrer da missa ficávamos, o celebrante e os coroinhas, de costas para os
fiéis, sempre que podíamos, dávamos uma olhadela para trás, como a dizer para
eles: aqui estamos, somos especiais, temos garantido um lugar nos céus. Santa
inocência..., só não me lembro se, com esse pensamento de imunidade e garantia
da Glória Celestial, nós os coroinhas podíamos pecar mais que os outros
meninos...rsrs
Aqui, mesmo depois de 60 anos que usei aquela bonita
batina vermelha e branca, e estando na simplicidade da zona rural, de onde
também sou originário, a emoção falou mais alto e foi inevitável, não falar com
os fervorosos meninos, tais quais um dia também fui.
Catedral de Brasília, ao lado da qual se realiza a
celebração de Corpus Christi
Foto do autor
Jovens executando o lay out do tapete com serragem colorida
A alegria dos jovens, que vieram de longe para executar
seu projeto alegórico,
um dos
vencedores de 2015 entre tantos
concorrentes
Falando com a repórter Camila Guimarães do DF-TV,
sobre as emoções do passado, quando menino
seminarista
57
anos depois o “foragido” do Seminário reapareceu entre o
Bispo DomValdir
e seminaristas de Brasília. Ficaram
surpresos com a
história.... e caíram na gargalhada, mas, não sem antes
me recomendarem que devo orar muito para
ganhar o Céu... rsrs
Foto do autor – Catedral
de Brasília, 2015
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