Ich bin hindurch, ich bin hindurch! ... Passei, passei, gritou Lutero ao sair da audiência em
Worms, quando inquirido pelo Imperador Carlos V, da Alemanha e príncipes da
Igreja, sobre as suas 95 teses contrárias a dogmas da igreja Católica Romana. Essa
frase em alemão era repetida pelo saudoso Padre Luiz Tings, alemão de origem,
professor de História e Inglês no Colégio Aparecida onde estudei, em Lavras-MG.
Lembrei-me de suas aulas sobre a Dieta de Worms, quando recebi do presidente do
Instituto Histórico de Geográfico
de Guaratinguetá – IHGG, prof. Leandro Pereira dos Santos, a foto do selo,
lançado por aquele Instituto, em comemoração aos 500 anos da Reforma
Protestante, proclamada por Martinho Lutero em 1517.
Boas lembranças, primeiramente das
aulas de história sobre a Reforma Protestante, ministradas pelo culto e
poliglota professor, Pe. Luiz Tings que nos ensinou por sete anos seguidos e do
qual até fui coroinha em missas celebradas nas capelas do Colégio de Lourdes, Batalhão
da PM, fazendas do Faria, Criminoso e Fábrica
Velha, às mrgens do Rio Grande. Também as lembranças dos fatos históricos da
cidade de Guaratinguetá, com a sede do IHGG ostentando o nome de Manoel da
Costa Valle, o que muito nos honra. Manoel da Costa Valle vem a ser meu
pentavô, imigrante portugues que ali se casou com Maria do Rosário Pedroso de
Moraes e em seguida se transferiu para Lavras-MG à procura de ouro nos aluviões
do ribeirão vermelho.
Guaratinguetá era o caminho e parada obrigatória para todos os bandeirantes paulistas que adentravam os campos e serras das Minas Gerais pela antiga Estrada Real. Chegavam até Carrancas e dali em vez de seguir rumo a São João Del Rei e Vila Rica, tomavam a esquerda pelo rio Capivari, Posto da Coruja (Itumirim) e alcançavam pelo recém aberto caminho em direção a Provincia de Goyás, chegando ao estreito do Funil do Rio Grande, já nos Campos de Santana das Lavras do Funil. Havia por ali um posto de Registro Real – espécie de alfândega, para taxar o ouro dos garimpeiros em direção à Estrada Real que os levaria à capital da Colônia, o Rio de Janeiro. Na minha juventude visitei algumas vezes a Fazenda do Registro que ainda hoje tem esse nome e se situa a dez minutos da cidade de Lavras, em direção à barragem do Funil.
Guaratinguetá era o caminho e parada obrigatória para todos os bandeirantes paulistas que adentravam os campos e serras das Minas Gerais pela antiga Estrada Real. Chegavam até Carrancas e dali em vez de seguir rumo a São João Del Rei e Vila Rica, tomavam a esquerda pelo rio Capivari, Posto da Coruja (Itumirim) e alcançavam pelo recém aberto caminho em direção a Provincia de Goyás, chegando ao estreito do Funil do Rio Grande, já nos Campos de Santana das Lavras do Funil. Havia por ali um posto de Registro Real – espécie de alfândega, para taxar o ouro dos garimpeiros em direção à Estrada Real que os levaria à capital da Colônia, o Rio de Janeiro. Na minha juventude visitei algumas vezes a Fazenda do Registro que ainda hoje tem esse nome e se situa a dez minutos da cidade de Lavras, em direção à barragem do Funil.
Manoel da Costa Valle, o patrono
do IHGG que lançou o selo comemorativo em questão, chegou à Carrancas com sua esposa
guaratinguetaense e de lá partiu para Lavras, onde se instalou em definitivo em
busca do ouro de aluvião do ribeirão vermelho. Esgotada a fonte de ouro,
estabeleceram-se numa grande fazenda à margem direita do Rio Grande. Seus
filhos foram registrados em Ribeirão Vermelho, Carrancas e Lavras,
originando-se as famílias Pádua, Salles
e Costa. Assim, um selo
comemorativo, ainda que de motivo diverso, mas lançado nas terras de nossos
ancestrais, evocou-nos doces lembranças da terra natal e suas origens
vinculadas ao vale do Paraíba, mais precisamente à cidade de Guaratinguetá,
ponto de parada dos bandeirantes e garimpeiros paulistas e portugueses que
demandavam os sertões das Geraes e dos Goyazes.
Fazenda do Registro, com um caminhão Dodge 1931 e Ford 1931 pilotados por Renato Libeck e amigos:
Lavras-MG, caminho e alfândega do ouro que passava pelo estreito do Funil do
Rio Grande, no arraial de Santana dos Campos das Lavras do Funil em direção à
capital da colônia, Rio de Janeiro, no século XVIII – 1714-1799.
Foto: Renato Libeck
Pois
bem, mas o que foi mesmo a Reforma Protestante? Nosso professor Pe. Luiz Tings,
que gostava de falar em alemão não só aquela exclamação de Martinho Lutero,
mencionada no início, mas também brincava com os maus alunos dizendo-lhes: du bist ein esel (você é um burro), não
nos ensinou muito sobre as 95 teses de Lutero, publicadas na porta do Castelo
de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517.
Repassava-nos ligeira e genericamente algumas e focava mais na Dieta de Worms,
o ato inquisitório que condenou Lutero como herege para sempre e proibia os registros
de suas teses que contestavam dogmas da igreja, como as excessivas concessões
de indulgências – a compra da salvação da alma, com lugar garantido no céu, privilégio
reservado a quem tivesse dinheiro e as pudessem pagar à igreja.
Padre Luiz Tings, natural da Alemanha, professor de
História e Inglês. Ensinava aos meninos de 12 a 15 anos, do Colégio Aparecida,
em Lavras, sobre a Reforma Protestante, mas só dizia que o protesto de Martinho
Lutero se referia à venda de indulgências, ou seja, só os ricos podiam comprar
um lugar no céu. E penso que isto nunca acabou (indulgências), pois consultei
os inventários de meus parentes e seus contemporâneos falecidos em Balasar,
Portugal, entre os anos de 1703 (nascimento de meu penta-avô Manoel da Costa
Vale) e 1850 e constatei que os falecidos deixavam pago nas igrejas a celebração
de 20, 50 ou centenas de missas em sufrágio de suas próprias almas. Acreditavam que os santos e as missas rezadas pelos padres iriam salvá-los do “fogo do inferno”.
Era simplesmente a igreja se apropriando de bens dos cidadãos, conforme
protestou Lutero!
Foto: Renato Libeck
A Dieta de Worms, terra do vinho Liebfraumilch
e não muito distante de Heidelberg
aonde visitei a mais antiga universidade da Alemanha, fundada em 1386, aconteceu em 1521 e tinha por
objetivo determinar que Lutero renunciasse às suas teses que seriam banidas e também
pedisse perdão à Igreja. Não renunciou e ainda reafirmou suas convicções
pedindo ampla reforma das práticas da Igreja Católica Romana. Resumiu
suas teses em três distintos temas. O primeiro se referia à fé e os costumes, o segundo era contra o papado e sua tirania, com leis
que oprimem as consciências, apropriam-se dos bens e das propriedades dos
cidadãos. Em terceiro lugar, escreveu contra os indivíduos que apoiavam a tirania
papal e impediam a pregação da Palavra das Sagradas Escrituras. Lutero
reafirmou ao Rei e aos Príncipes que não retiraria nada de suas 95 teses, pois
se assim o fizesse estaria beneficiando a tirania papal e negando a doutrina de
Cristo. Diante disso, o Rei Carlos V deu o veredicto: considerá-lo-ei
herege notório e espero que Vós como bons cristãos também façais o que vos
compete.
Os teólogos afirmam que “tanto o discurso de Lutero quanto o de Carlos V são marcos históricos para as religiões Protestante e Católica. Na primeira expressa-se a consciência presa ao evangelho, na segunda expressa-se a responsabilidade frente à tradição e ao compromisso de proteger a Igreja Romana. No discurso de Lutero expressa-se o curso da Igreja da Reforma, no discurso de Carlos V estão os motivos que nortearão suas ações nos conflitos que se seguirão: a eliminação da heresia”. A partir dessas palavras de Carlos V começou, então, um período negro na história do catolicismo, pois no bojo da chamada Contrarreforma da Igreja Católica, veio a Inquisição e o controle eclesiástico sobre a vida intelectual e religiosa e até mesmo o controle, a censura sobre todos os livros a serem publicados. Somente com autorização bispo podiam-se publicar livros. Foi um verdadeiro esforço de guerra da Igreja Romana para se reorganizar e confrontar o protestantismo plantado por Lutero. Houve muitas lutas entre católicos e protestantes, culminando com o tratado de Paz de Westfália, em 1648, depois de longa guerra (Guerra dos Trinta Anos) e assim demarcando os territórios e fronteiras políticas e religiosas de católicos e protestantes. A partir de então a Igreja Católica adotou uma agressiva campanha de reavivamento da fé e da disciplina religiosa. Foi então que surgiram medidas supostamente corretivas, dentre elas a Inquisição ou Santo Ofício (os ferozes tribunais da Igreja Católica que perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviar das normas de conduta estabelecidas pela Igreja), o Index dos livros proibidos, a criação da Companhia de Jesus – os jesuítas, que tinha como objetivo a expansão e o fortalecimento do catolicismo para suplantar o protestantismo, especialmente no Novo Mundo. Além dessas medidas draconianas de censura e controle das atividades das pessoas, havia ainda a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato dos padres, a criação de seminários e universidades e a eliminação de abusos sobre a concessão de indulgências.
Os teólogos afirmam que “tanto o discurso de Lutero quanto o de Carlos V são marcos históricos para as religiões Protestante e Católica. Na primeira expressa-se a consciência presa ao evangelho, na segunda expressa-se a responsabilidade frente à tradição e ao compromisso de proteger a Igreja Romana. No discurso de Lutero expressa-se o curso da Igreja da Reforma, no discurso de Carlos V estão os motivos que nortearão suas ações nos conflitos que se seguirão: a eliminação da heresia”. A partir dessas palavras de Carlos V começou, então, um período negro na história do catolicismo, pois no bojo da chamada Contrarreforma da Igreja Católica, veio a Inquisição e o controle eclesiástico sobre a vida intelectual e religiosa e até mesmo o controle, a censura sobre todos os livros a serem publicados. Somente com autorização bispo podiam-se publicar livros. Foi um verdadeiro esforço de guerra da Igreja Romana para se reorganizar e confrontar o protestantismo plantado por Lutero. Houve muitas lutas entre católicos e protestantes, culminando com o tratado de Paz de Westfália, em 1648, depois de longa guerra (Guerra dos Trinta Anos) e assim demarcando os territórios e fronteiras políticas e religiosas de católicos e protestantes. A partir de então a Igreja Católica adotou uma agressiva campanha de reavivamento da fé e da disciplina religiosa. Foi então que surgiram medidas supostamente corretivas, dentre elas a Inquisição ou Santo Ofício (os ferozes tribunais da Igreja Católica que perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviar das normas de conduta estabelecidas pela Igreja), o Index dos livros proibidos, a criação da Companhia de Jesus – os jesuítas, que tinha como objetivo a expansão e o fortalecimento do catolicismo para suplantar o protestantismo, especialmente no Novo Mundo. Além dessas medidas draconianas de censura e controle das atividades das pessoas, havia ainda a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato dos padres, a criação de seminários e universidades e a eliminação de abusos sobre a concessão de indulgências.
O
período da Inquisição merece um capítulo à parte, pois foi o período mais negro
da história religiosa do catolicismo. No Brasil nem tanto, mas ainda assim 400
brasileiros foram condenados e 21 queimados em Lisboa. Era para lá que os casos
mais graves eram enviados. Em Portugal foram 40 mil vítimas, Cerca de dois mil
cidadãos foram mortos na fogueira. Na Espanha foram estimadas quase 300 mil
pessoas condenadas e 30 mil executadas até a extinção do Santo Ofício, em 1834.
Também foi no período da inquisição que veio para o Brasil o jesuíta padre
Antônio Vieira que, em seus sermões escritos e publicados entre 1660 a 1680,
disse que a mulher só deveria sair de casa apenas em três ocasiões: para o
batizado, o casamento e o próprio enterro. E ele, o missionário jesuíta, foi
longe em suas diatribes contra a mulher, dizendo, por exemplo, que a mulher
vaidosa é a fonte de todos os males e que se houvesse espelho no Paraíso, nem
teria sido necessária a maçã proibida para que de lá fossem expulsos, ela e seu
companheiro Adão. Chegou a lamentar a revogação da proibição do uso de espelhos
por parte das mulheres (homem podia?). Para as mulheres corajosas, como as
Marias que foram ao túmulo de Jesus (os apóstolos se acovardaram e não foram),
ele chega a dizer que essas “são mulheres pouco mulheres, eram mulheres
varonis, eram tão homens...”.
Esse era o espírito da Inquisição
e com pesada discriminação da mulher e para distinguir alguma mais valorosa, em
termos de caráter e dedicação humanitária, a chamaram de “mulher varonil”.
Incrível a mentalidade eclesiástica inquisitorial daquele missionário, sob o
manto da “evangelização dos gentios”. O evangelizador preferiu ignorar outros
ensinamentos da bíblia que eleva e enleva os atributos da Mulher, como os
versículos 30 e 31, de Provérbios - 31: “A
formosura é uma ilusão, e a beleza acaba, mas a mulher que teme o Senhor Deus
será elogiada. Deem a ela o que merece por tudo o que faz, e que seja elogiada
por todos”. Ou então que destacassem os versículos 25 e 26: “É forte, respeitada e não tem medo do
futuro. Fala com sabedoria e delicadeza”.
Isto sim, as afirmações de padre Vieira, constituem verdadeira heresia,
a negação da doutrina divina estabelecida por Deus ao criar o ser humano. E
a igreja ainda dizia que herege era Martinho Lutero....
Viva
a Reforma Protestante de Martinho Lutero. Ela teve grandes e notáveis méritos, pois revolucionou o
pensamento religioso. 500 Anos já se passaram!
Parabéns
ao Instituto Histórico e Geográfico de Guaratinguetá pela inciativa da emissão
do selo comemorativo desse importante evento histórico da humanidade.
Brasília,
14 de Outubro de 2017
Paulo
das Lavras.
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