Um
encontro casual, nesta semana, na capital federal, de duas famílias dos tempos da fundação de
Lavras, proporcionou agradável troca de informações históricas sobre nossas raízes
de mais de 300 anos. Nunca tínhamos nos encontrado antes e sequer sabíamos da existência de um e de outro, mesmo morando na mesma cidade, a capital, Brasília.
A
cidade de Lavras foi fundada pelo Capitão de Cavalaria, Francisco Bueno da
Fonseca (1670-1752), em 26 de julho de 1720, segundo nos ensina a Lei Municipal,
de Lavras, nº 3.845, de 14 de junho de 2012. Fiquei surpreso ao encontrar
casualmente, em Brasília, um descendente do destemido bandeirante português,
que ousou desafiar, em São Paulo, o Desembargador Sindicante e Ouvidor
geral-interino, Antônio da Cunha Souto Maior, no ano de 1712 e por consequência
teve que fugir em seguida para a região entre o Rio Grande e o Capivari, ali
fundando o Arraial dos Campos de Sant´Anna das Lavras do Funil do Rio Grande. Já
se vão 305 anos daquela fuga definitiva para os sertões das “Geraes”. Na
verdade ele já conhecia , e muito bem, aquela região, pois ali estivera de 1684
a 1687, quando participou
da expedição bandeirante à Sabarabuçu, comandada por Garcia Paes, filho do
famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme, velho conhecido na história de
Lavras, pois emprestou seu nome à rodovia que liga Belo Horizonte a São Paulo.
Retornou às “Geraes”, ali permanecendo de 1707 a 1709, para lutar ao lado de
Amador Bueno na guerra dos Emboabas (Emboaba quer dizer amor à terra. Foi uma
guerra de paulistas contra portugueses pelo direito de explorar as minas).
Derrotados, os paulistas migraram suas buscas pelo ouro para Goiás e Mato Grosso.
Em 1720, ano em que o Capitão Francisco Bueno da Fonseca fundou Lavras, a região das “Minas Geraes” se tornou Província,
separando-se de São Paulo.
Sergio Bueno da Fonseca, residente em Brasília, encontrou o Menino das
Lavras, também descendente de outro português, Manoel da Costa Vale (1704-
1783), que emigrou para Lavras, 30 anos depois de sua
fundação, já em 1750, em busca do ouro nas faisqueiras do ribeirão vermelho,
que desemboca no Rio Grande, no antigo Porto Alegre, hoje município de Ribeirão
Vermelho. Sérgio, descendente dos paulistas de 400 anos de história e este “menino”,
que também tem raízes de quase 300 anos na história das Lavras do Funil,
aproveitaram a casualidade do encontro para relembrar a história de Lavras e
respectivas famílias.
Instalado na região desde a sua fuga de São Paulo, o capitão Bueno da Fonseca explorou, por volta de 1733, caminhos para a região dos goyases, mas, acabou estabelecendo-se definitivamente em sua sesmaria na região do Funil, cuja carta foi outorgada em 1737. Enquanto isso, o outro português, Manoel da Costa Vale, já havia aportado em São Paulo, pelos anos de 1718/20, justamente na época da fundação de Lavras. Mudou-se para Guaratinguetá, onde se casou com Maria do Rosário Pedroso de Moraes, por volta de 1750. Em seguida, numa viagem de 21 dias chegou à região de Carrancas, estabelecendo-se, em seguida na região de Ribeirão Vermelho, que pertencia a Lavras. Foi, portanto, dos primeiros povoadores do território das Lavras do Funil do Rio Grande. Batizou um de seus filhos, Antônio de Pádua da Silva Leite (1769-1849), com o sobrenome de Pádua, em homenagem a Santo Antônio de Pádua. Este, por sua vez, homenageou a São Francisco de Sales, colocando o sobrenome Sales em seu próprio filho, Fortunato Antônio de Sales (1813- 1877, meu trisavô). Eis aí a origem dos sobrenomes Costa, Pádua e Sales que povoaram Lavras e produziram expoentes como Firmino Costa, Saturnino de Pádua e Francisco Sales, dentre outros.
O descendente dos paulistas quatrocentões, Sérgio Bueno da Fonseca, também
se surpreendeu com a abordagem do Menino das Lavras, um Salles de 5ª geração, cujo
ancestral fora contemporâneo de seu pentavô, fundador de Lavras. E mais, Sérgio
Bueno, conhece a fundo a história de seu ancestral e antes que eu mencionasse,
foi logo dizendo que Francisco Bueno da Fonseca foi o fundador de Lavras. Nascido
no Rio de Janeiro, passou a infância e boa parte de sua vida na cidade de
Lavras, onde seu pai Clézio Bueno da Fonseca fez carreira no Banco do Brasil,
sendo mais tarde transferido para Belo Horizonte onde abriu a primeira agência
do Banco Central. Clézio, era irmão de outro lavrense muito conhecido,
proprietário de uma bela fazenda, na saída para Ijaci, o Sr. Clay Fonseca (a antiga
sede da fazenda está lá, ainda hoje. Tinha um belo lago, bem à porta da
cozinha, aonde íamos aos domingos para nadar, a convite de seu filho Léo, que
foi colega no Colégio Aparecida). Mesmo residindo no Rio ou Belo Horizonte,
nunca perdeu os contatos com Lavras, pois seu pai gammonense, não perdia uma única
festa da Semana do Instituto Gammon, realizada tradicionalmente todos os meses
de agosto.
Selamos o encontro, casual, com um abraço, numa audiência no Ministério
Publico do Distrito Federal e Territórios - MPDFT, onde ambos estávamos representando a comunidade, nas discussões sobre problemas do carnaval de rua
em Brasília. Prometeu-me emprestar seu livro de genealogia e prometi, em
contrapartida, que o devolveria... rsrs, pois reza a lenda que, nesse caso de
empréstimos de livros, há dois bobos..., o que empresta e o que devolve. Mas eu
devolvo, sempre...
Mais surpresas me foram reservadas nesta semana. No primeiro dia foi o
encontro com o ramo Bueno da Fonseca e, na quinta feira, almoçamos com outro
parente que ainda não conhecia. Juliano Pádua, nascido em Lavras, formado na
UFLA e com doutorado na ESALQ/USP na área de Genética e Melhoramento de
Plantas, está em Brasília há mais de dez anos, onde trabalha na área de
pesquisas de recursos genéticos e biotecnologia. Também é um entusiasta da ciência
genealógica e possui vasta coleção de história e genealogia, incluindo a árvore
genealógica da família Pádua, descendente do mesmo Manuel da Costa Vale,
cidadão português, de Balasar, que aportou em Lavras por volta de 1750 em busca
do ouro. Do prazeroso almoço com sua família, resultou o reforço dos laços com
convites para próximos encontros e trocas de informações sobre a história de
nossa família que se subdividiu nos ramos Costa, Pádua e Salles.
Bueno da Fonseca, Sales e Pádua em Lavras e Brasília – 305 anos de
história ..., cabe a nós continuar contando essa história e, agora, encontrar um
Bueno e um Pádua, ambos pesquisadores da genealogia das famílias de 300 anos de
Lavras, foi realmente uma grata surpresa e novos fatos serão, certamente, incorporados
ao livro que estamos produzindo: Genealogia da Família Salles de Lavras e que
será lançado por ocasião do sesquicentenário da cidade, em julho de 2018.
Brasília, 10 de fevereiro de 2017
Paulo das Lavras
Encontro casual, em
Brasília, revivendo 305 anos de história da cidade de Lavras.
Sergio Bueno da
Fonseca, penta neto do fundador da cidade de Lavras,
com Paulo Roberto, penta neto de Manuel da
Costa Vale, também imigrante português,
que chegou à mesma
cidade 30 anos depois de seu fundador.
Juliano Pádua e sua maravilhosa e jovem família - Elisandra
com a filhinha, ao lado
do menino das Lavras, após agradável reunião de
almoço, em Brasília.
Famílias Pádua e Sales, descendentes da sexta
geração do imigrante português,
caçador de ouro nos Campos de Sant´Anna das Lavras
do Funil do Rio Grande,
desde o ano de 1750.
São 267 anos registrados nos livros das paróquias
de Lavras, Ribeirão Vermelho, Perdões
e Nepomuceno, onde viveram os primeiros anos de
povoamento dessas cidades que antes eram subordinadas a Lavras. Há ainda
registros espalhados por São João Del Rei, Campanha e outras cidades,
demandando árduas e persistentes pesquisas genealógicas para a composição de
nosso livro.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário