Viajar é mudar a roupa da alma, disse o
poeta Mário Quintana. E é mesmo! Aliás, viajar muda tudo, a começar pelo olhar
que passa a ser perscrutador, que enxerga coisas novas. Bate aquela curiosidade
própria das crianças, de querer saber tudo, perguntar sobre tudo que se vê de
diferente, a começar pelas palavras do idioma local e se extasiar com as
histórias sobre lugares e pessoas. A viagem muda nossos hábitos, pois as coisas
que eram normais passam a não ser mais, pelo simples fato de que as culturas
são diferentes nos diversos locais de nosso imenso país ou mundo afora. O que é
normal em sua terra nem sempre será em outra e vice-versa. Assim, a viagem mexe
com o pensar das pessoas e tem forte impacto no comportamento. E essa
influência é sempre positiva, pois nos impulsiona para novas idéias de como
agir e sair da repetição monótona do fazer as coisas sempre do mesmo jeito. O
olhar externo é sempre incentivador às inovações. Lógico, se você estiver
aberto para ver, analisar, comparar e aproveitar o melhor em qualquer viagem
seja a trabalho, lazer e mais ainda se for para um curso de especialização,
quando o tempo e o convívio são maiores.
Não há dúvida que acontece significativa mudança
no pensar, pois abrem-se novos horizontes e ninguém será o mesmo após uma
viagem. Há até quem diga que o preço de uma viagem é caro. Isto porque
voce nunca mais estará completamente em casa, pois uma parte de seu coração
estará sempre em outro lugar. Esse é o preço que voce paga pela riquesa de amar
e conhecer lugares e pessoas em mais de um lugar. Não foi a toa que o grande
velejador, Amir Klink, que conheceu os mais belos lugares do mundo, a começar
pela Antártida e o Polo Norte, escreveu:
“Um
homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros
ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para
desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem
sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para
quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não
simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não
vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
São
profundas as palavras desse viajante solitário. É preciso “sentir a distância e
o desabrigo para estar bem sob o próprio teto”, disse ele. Sentir a solidão em
locais muito distantes faz-nos pensar e amar mais aqueles que nos cercam e que
são lembrados constantemente. Com certeza, nunca ninguém será mais a mesma
pessoa depois de uma viagem e é bom que sejamos eternos alunos, aprendizes da
vida.
Outro
grande viajante e escritor, Saint Exupéry, também confirma isso. Ele sobreviveu a um
desastre aéreo e passou longo tempo no deserto do norte da África. A solidão no
deserto e ainda as constantes viagens, pilotando um avião do Correio Aéreo da
França, fizeram-lhe brotar os mais puros sentimentos da alma. Disse ele:
“Sou um pouco de
todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que
deixei e sou muito das coisas que gostei”.
Belas
palavras desse piloto francês, autor de O Pequeno Príncipe e que tantas vezes
pernoitou no Campeche, em Florianópolis, na rota do Correio Aéreo Paris-Buenos
Aires. Pura verdade que se soma as de Klink e Quintana, pois somos tudo aquilo
que passamos na vida. E nesse contexto, as viagens deixam marcas indeléveis.
Também sou assim e muito, muito mesmo, das coisas que gostei. Das viagens,
quando menino à vida adulta, cheias de andanças pelo mundo. Sempre fui aluno
nas minhas viagens, como bem recomenda o velejador. Apreciei as marcantes
diferenças de sotaques do norte a sul de nosso país, o pragmatismo profissional
dos americanos, a fleuma dos ingleses, a formalidade e objetividade dos alemães,
o individualismo dos irrequietos franceses, a cordialidade dos portugueses e a
irreverencia latina dos italianos, muito próxima à dos brasileiros. E muitas
outras diferenças de hábitos e costumes pude experimentar. Senti o frio abaixo
de zero grau do hemisfério norte e o calor de até 50 graus dos desertos do
Arizona, nos EUA e de San Juan, na Argentina, como também a inúmeras belezas
naturais da Amazônia, do Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras maravilhas de
nosso país. Tudo isso faz parte do “acervo” armazenado no subconsciente e que
de alguma forma exerce ou exerceu influencia na minha vida. Aliás, foi por
causa das viagens à Brasília que me encantei com a belíssima arquitetura da
cidade, a que mais área verde tem. A chamada cidade-parque, dos extensos verdes
e jardins floridos. Qual a cidade que tem ¾ partes, ou seja, 75% de área verde?
Não encontrei nenhuma igual ou que a superasse em todo o mundo. Não resisti a
esse convite da natureza e aqui estou há 40 anos, desde aquele agosto de 1975,
quando o reitor de minha universidade aprovou a cessão ao Ministério da
Educação.
O
valor da viagem não tem preço. Muda tudo! Muda a roupa da alma, como disse o poeta.
Você nunca mais será o mesmo depois de uma viagem! E por falar em viagem, já
estou de malas prontas para rever a cidade natal e atender a um honroso convite
de minha universidade, a UFLA.
Brasília,
19 novembro de 2015 – Dia da Bandeira Nacional.
Paulo
das Lavras
Numa gostosa visita à cidade natal. Nada melhor que rever
os amigos na praça central. Na foto
os notáveis Luiz Teixeira
da Silva (no meio) e José Claret Mattioli à esquerda
foto
de Catarina Júlia – 2013
O avião do
Correio França-Buenos Aires, pilotado por Saint Exupéry, que fazia escalas com
pernoites no Campeche, em Florianópolis.
As viagens mudam
as pessoas....
Amir Klink
também disse o mesmo que Saint Exupéry
Conhecendo uma
fábrica artesanal de carros típicos, na Costa Rica
Foto tomada numa
tarde de 2014, subindo a serra de
Mariana para Ouro Preto, como a relembrar a primeira
longa
viagem, de 16 horas, de maria-fumaça, rumo ao
Seminário de
Itaúna, onde o menino, de 12 anos de idade,
passara um ano.
Viagem marcante
para a vida do menino. Tudo novo, diferente,
até mesmo a
contínua saudade, doída, da casa, família e amigos.
Hoje, lamentavelmente,
a região de Mariana está inundada de lama,
por conta de
desastre com barragem de rejeitos de mineração.
Ouro Preto...,
como não ficar marcado pelas constantes
visitas do recém-formado
engenheiro-agrônomo, que ali
cuidava de reflorestamentos das mineradoras?
Frio intenso
julho de 1968, época de cuidar dos viveiros de
eucaliptos
O gosto pelos
jardins, adquirido nos trabalhos com as praças
de BH marcou-o
para sempre nas viagens, como essa em
Otawa, capital do Canadá - 1986
No Cine
Municipal e depois no Cine Brasil, o menino adorava
as cenas de
bang-bang. Aqui, num intervalo de visita de trabalho
à Universidade do Arizona, uma pausa para conhecer
a cidade
cenário de 99,9%
dos filmes far-west: Old Tucson – 1978
Decolando na
região central de Washington, com vista
privilegiada do
Capitólio e sua Esplanada (Mall), além das
marinas ao longo
do histórico rio Potomac.
Em 2001, dois grandes
aviões comandados por terroristas explodiram
as Torres Gêmeas
de Manhattan, que aparecem ao fundo, em foto de
1978. Se o
enunciado de Saint Exupéry está certo, como não sentir a
sua perda?
Marcas indeléveis em nossa mente.
A simplicidade de uma nativa das montanhas da
Guatemala, trocando
algumas
palavras com o turista curioso por conhecer os costumes locais
A
tranquilidade dos bosques e florestas que margeiam o azul,
de águas límpidas, despoluído rio Sena, nos
arredores de Paris.
Passeio
relaxante e surpreendente pela
preservação ambiental,
logo ali, onde o Rei Luiz XV mandou instalar
as Machines de
Bougival
que bombeavam água para o luxuoso Palácio de Versailhes
O romântico café
de Flore, em Saint Germain des Prés, desde 1885. Ali o filósofo Jean Paul
Sartre e a escritora Simone de Beauvoir se reuniam para suas produções
intelectuais. Cachimbos sempre dão uma conotação diferente (ainda que
emprestado para o menino), enquanto os jovens se deliciam com um café e fumam
(e como fuma na França...), trocando juras de amor. Frio de 04ºC não espanta
ninguém, nem mesmo nas mesas do lado de fora, na calçada, onde há campânulas de
aquecimento elétrico (amareladas, ao alto da foto), entre as lâmpadas de
iluminação e que refletem um calor especial sobre as mesas (dezembro, 2013).
Infelizmente, agora, dois
anos depois, os cafés da cidade estão em pânico por conta de recentes ataques
terroristas
O majestoso Castelo de Sintra, também conhecido por Castelo dos Mouros.
Arredores de Lisboa - 1986
Do alto da Catedral de São Pedro, Vaticano – 1986. Mais de
2000 anos de história ali se descortina
Conhecendo uma oca indígena. Mato Grosso - 1975
Viagens enriquecem a alma. Quanto mais cedo conhecer
outros lugares, melhor proveito se
pode tirar.
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