Neste
mês de outubro celebra-se o aniversário de nossa cidade. O feriado
de aniversário de Lavras era comemorado em 20 de julho, dia da elevação da Vila
de Sant´Ana das Lavras do Funil à categoria de cidade (20/07/1868), passando a
se denominar simplesmente Lavras. Deixou de ser “Villa” há 145 anos. Um marco muito importante de sua história e
todos se lembram quando, em 1968, comemoramos o centenário da cidade que contou
até mesmo com a presença de JK, o saudoso Presidente da República. Alguns anos
depois, em 1981, foi mudada a data de aniversário para o dia 13 de Outubro.
Isto porque se comemoraria naquele ano o sesquicentenário da elevação do
Arraial à importante categoria de Vila, conforme Decreto Imperial de 13 de
Outubro de 1831. Essa foi sem dúvida uma elevação de status muito importante,
pois adquiriu a emancipação política com a criação de uma Câmara Municipal
própria.
Então
porque o título acima? Estaria errado afirmar que seriam 300 anos de existência
da cidade de Lavras e não os 182 que comemoramos neste ano de 2013? Mas, afinal
quando foi o início do povoamento dessa região de exploração do ouro com tantas
lavras de seu solo cujos vestígios, ainda hoje, continuam expostos em forma de
verdadeiros buracões ou voçorocas como são chamadas pelos técnicos? Nossas voçorocas
como aquela situada um pouco à esquerda da sede da Prefeitura, na Avenida
Perimetral, são provas da origem do nome de nossa cidade.
E afinal em qual data seria o feriado de
aniversário da cidade? Há novidade. Nem 20 de Julho e nem tampouco 13 de
Outubro. Oficialmente, e após intensas pesquisas realizadas por uma comissão
especial, decidiu-se pela data de 26 de julho de 1720 como a mais
representativa da fundação da cidade de Lavras. Assim, baixou-se a Lei
Municipal nº 3.845, de 14 de junho de 2012, determinando
aquela data como sendo a de fundação. O dia 26 de julho foi em homenagem à Sant
´Ana (dia escolhido em 1584 pelo Papa Gregório XII) padroeira do lugar desde os
primeiros dias do povoado. Já o ano de 1720 foi escolhido por causa das
referencias mais antigas da chegada do fundador à região do funil do Rio
Grande. Por essa data estaríamos comemorando, neste ano, 293 anos do início do
povoamento da cidade de Lavras, faltando apenas sete para a celebração do
tricentenário.
Mas quais foram os fatos históricos
determinantes para a escolha de 1720 como ano de fundação da cidade? Historiadores lavrenses têm se debruçado sobre
essa questão. Firmino Costa, Jacy de Souza Lima, Ary Florenzano, Carlos Moreira
Santos e Hugo de Oliveira integram o time dos mais antigos. Entre os mais recentes
podem ser citados, dentre outros, Marcio Salviano Vilela e Geovani Németh-Torres.
As pesquisas continuam, mas as publicações recentes nos mostram conclusões bem
realistas sobre a data de 1720 como ano da fundação da cidade de Lavras. Mais
que acertada a decisão da municipalidade ao adotar o 26 de Julho de 1720 como
data da fundação de nossa progressista cidade. Para melhor compreensão da
motivação do início do povoamento de Lavras é preciso recuar um pouco mais no
tempo, bem antes de 1720. O fundador de Lavras, Capitão de Cavalaria, Francisco
Bueno da Fonseca, participou em 1684/87 da expedição bandeirante à Sabarabuçu,
comandada por Garcia Paes, filho do famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme.
Este último, velho conhecido na história de Lavras, emprestou seu nome à
rodovia que liga Belo Horizonte a São Paulo. Depois, em 1707/09, o capitão lutou
ao lado de Amador Bueno na guerra dos Emboabas (Emboaba quer dizer amor à
terra. Foi uma guerra de paulistas contra portugueses pelo direito de explorar
as minas). Derrotados, os paulistas migraram suas buscas pelo ouro para Goiás e
Mato Grosso. Mas, Francisco Bueno da Fonseca que conhecia muito bem as “minas
geraes” tomou outra decisão e que foi determinante para a fundação do arraial
das Lavras do Funil.
Embora a guerra dos Emboabas tivesse terminado
em 1709 persistiam ainda em 1712 muitas desavenças entre paulistas e
portugueses. Foi então que Francisco Bueno da Fonseca uniu-se aos revoltosos
contra o desembargador sindicante e ouvidor geral-interino, Antônio da Cunha
Souto Maior. Este era responsável pelo cumprimento das leis régias e por isso
estava sempre em atrito com os paulistas. Devido a um deslize moral do desembargador
Souto Maior, que desvirginara uma moça e com a qual se casara posteriormente,
os revoltosos incluindo Francisco Bueno da Fonseca atacaram a residência daquele
alto dirigente português, obrigando-o a fugir para o Rio de Janeiro e depois
Lisboa.
Logo em seguida, em 1713, El-Rei expediu um
mandado de prisão contra todos os revoltosos que atacaram o desembargador. Em
1718 o Conselho Ultramarino comunicou ao Rei que não saberiam informar se
Francisco Bueno teria sido preso, degredado ou se fugira para os sertões. Nesse
período, de 1712 a 1718/20, ele imigrou para a região do funil do Rio Grande. O
ano de 1720 foi marcado também pela separação da Capitania de Minas que até
então era vinculada à São Paulo. Segundo os registros históricos mais antigos naquele
ano de 1720 o capitão Francisco Bueno já se encontrava por aqui, iniciando o
povoamento da região de Lavras. Porém, é importante notar que os anos de 1712,
data do ataque à casa do desembargador e 1713, quando foi decretada a prisão
dos revoltosos, foram determinantes para a fundação de Lavras. Foi nesses anos
que o bandeirante Francisco Bueno da Fonseca se viu obrigado a fugir da
Província de São Paulo. Em vez de ir para as terras dos Goyazes e Mato Grosso,
preferiu Minas que já conhecia desde 1684 quando participou das expedições a
Sabarabuçu e depois na guerra dos Emboabas 1707/09. Portanto, a cidade de
Lavras foi concebida naqueles anos decisivos da vida do capitão Francisco
Bueno. Certamente no ano de 1718, quando as autoridades paulistas comunicaram a
El-Rei que não sabiam de seu paradeiro, já estaria refugiado aqui nos Campos de
Sant´Ana das Lavras do Funil.
Na verdade a região entre os rios Grande e
Capivari, conhecida por Campos de Sant´Ana das Lavras do Funil, já era
explorada antes mesmo de 1720. Havia, por exemplo, em 1714 e 15, um “Registro
de passagem”, espécie de alfândega na região do funil do Rio Grande. Ainda hoje
existe a Fazenda do Registro, na estrada que liga Lavras à ponte do Funil que,
aliás, foi inundada pela usina hidrelétrica ali construída há pouco tempo. O
ano de 1720 se caracterizou pela ocupação das Colinas do Funil, iniciada pelo
capitão Francisco Bueno da Fonseca. Na época era conhecida como as Lavras de
Ouro do Funil do Rio Grande e mais tarde, com a adoção nome da padroeira
Senhora de Sant´Ana, passou a se chamar Arraial de Sant´Ana das Lavras do Funil
e em 1831 foi elevada à condição de “Villa’, passando depois à categoria
administrativa de cidade, em 1868.
Sim, mas falamos apenas das origens de Lavras e hoje? Trezentos anos
depois do sonho de Francisco Bueno da Fonseca e 293 da efetiva fundação, como
está a nossa cidade? Bem, para falar da pujança que Lavras ostenta hoje, com
seus quase 100 mil habitantes, sendo grande parte de estudantes em todos os
níveis, do maternal à universidade e dispondo de sofisticado comércio, muitas indústrias,
moderno agronegócio e intensa atividade cultural, seria necessário ocupar todo
o espaço da revista e ainda assim por várias edições. Não bastaria falar apenas
do vertiginoso progresso econômico, mas, sobretudo de sua laboriosa gente que
aqui aportou, dos paulistas e portugueses que a povoaram no início com também
dos imigrantes italianos e sírios libaneses chegados no final do século XIX e
início do século XX. Bem, mas isso é assunto para um próximo encontro com os
leitores. Hoje, para celebrar os 182 anos da elevação do Arraial de Sant’Ana das
Lavras do Funil à condição de Villa das Lavras do Funil, cujo ato se deu no dia
13 de Outubro de 1831, ficamos apenas nos registros históricos e na reprodução
de uma ode escrita por Bi Moreira e um poema de Hugo de Oliveira que são
verdadeiras declarações de amor à terra dos Ipês e das Escolas:
“Deixai que pisemos este chão que
beijamos quando crianças, e que um dia se abrirá para receber-nos em seu seio”. (Bi
Moreira)
Bocaina...
(Hugo de Oliveira)
Há muito tempo afago esta
esperança:
dar vida aos sonhos de voltar à
terra,
de perder nos alcantis da serra
e revolver meus tempos de
criança;
voltar onde se exala um ar que
amaina
a flama de tristeza do exilado,
do preterido e eterno namorado
dos alcantis da Serra da Bocaina.
Àquela terra se eu voltar um dia,
mais velho, embora, assim, menos
rapaz,
terei corpóreo o sonho que queria:
de Lavras ter o amor de suas
manhãs,
viver seus dias e morrer em paz,
sob canções de ipês e flamboyants
Parabéns Lavras pelos
182 anos de elevação à condição de Vila e 293 de fundação naqueles idos de
1720. Progresso, sempre!
Brasília, 13 de outubro de 2013
Paulo das Lavras
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