Junho..., cessaram as chuvas em Brasília. Tempo de se iniciar as podas nos jardins, recuperar e pintar madeiras, telhas e fachadas das construções, sobretudo os metais de cercamentos que ficam mais sujeitos à corrosão. Neste fim de semana decidi recuperar o pórtico de entrada da chácara. Mas, precavido, não me aventurei a subir no telhado.
Lembrei-me de
Gabo, o célebre escritor colombiano, Gabriel Garcia Marques, que escreveu o
clássico “O amor nos tempos do cólera”. Na história, baseada em fatos reais,
Florentino Ariza esperou 50 anos a sua amada da juventude. Ela, Fermina Daza
havia se casado com um médico, por imposição de seu pai. Depois que este morreu,
a viúva Daza se encontrou casualmente, a bordo de um navio, com o antigo amor,
Ariza. Ele com 72 anos e ela um ou dois a menos, viveram um encontro idílico
enquanto o navio ficou de quarentena, distante do porto, por conta de uma
epidemia – a peste do cólera. Prometeram se casar e assim o fizeram.
Entretanto, na lua de mel, ele, todo empolgado subiu numa escada para apanhar,
numa enorme laranjeira, algumas frutas para sua amada. Caiu da escada e morreu.
Nem ele e nem ela, nenhum dos dois comeu da cobiçada fruta da lua de mel....
Por conta
desse trágico episódio, acontecido com um apaixonado de 72 anos, sempre que me
deparo com uma escada para apanhar frutas em altos pés de laranja ou manga, ou
ainda alguém escalando paredes de prédios para pinturas e manutenção, me vem à
mente a história de Gabo. De um realismo fantástico, a história foca em
assuntos do amor, envelhecimento e morte e nos leva a refletir sobre isso. E
mais, nos mostra a esperança, a ânsia de se viver mais e mais, para desfrutar o
amor da amada que ele esperou cinquenta anos.
E por que me
lembrei dessa história do melhor romance de Gabriel Garcia Marques? Na verdade,
fui despertado pelos perigos de morte que ocorrem, com mais frequência, nos
“jovens” de 70 anos. Filipe Nacle Gannan, um médico, amigo, de São Lourenço,
postou na rede uma reportagem jornalística dando conta de que, em Brasília, um
senhor morreu de parada cardiorrespiratória em um motel, acompanhado da amante.
Logo em seguida outra amiga, Maria Lúcia, entra na discussão do mérito e antes
que pudessem pensar algo mais, fui logo entrando em cena, avisando que estou
vivo, não fui eu que morri e continuo apreciando aviões como aquele caça da FAB
estacionado no gramado da Esplanada dos Ministérios, além, lógico, dos jatinhos
do GTE/FAB em companhia de ministros em missões oficiais junto às universidades
federais...
Pode parecer engraçado, mas o romance de Gabo nos mostra o quanto apreciamos a
vida. Enquanto o caseiro subia a alta escada, chegando aos quatro ou cinco
metros de altura, fiquei a contemplar aquela cena, a inclinação do telhado, o
perigo de um escorregão ou uma telha quebrada e...,aos 70..., adeus vida
amada.... Nãaao...! O que é isso? Nem pensar em subir ali.
Obrigado, Gabo. Sua lição com a viuvez dupla de Fermina Daza nos faz lembrar
constantemente desses perigos... E ainda mais que, há apenas dois dias,
comemoramos o dia dos namorados com o amor maduro shakespeariano. Não me
aventurei a subir aquela escada. Pensei no Gabo, na notícia que o amigo mineiro
postou na rede e então... Preferi ficar no rés do chão, apenas controlando a
pressão dos compressores de água na lavagem e dos equipamentos pressurizados de
pintura daquele telhado...
Brasília, 14 de junho de 2015
Paulo das Lavras
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