Entra
ano e sai ano e os indígenas de nosso país enfrentam os mesmos problemas. A PEC
215 que trata da demarcação das terras indígenas tramita, ou melhor, está
parada no Congresso desde o ano 2000. São 15 anos e nada. Já muito antes disso
os caciques Raoni e Juruna, das nações Kaiapó e Xavante, lutavam pela
demarcação. Em 2013 e 2014 registrei as manifestações dos índios em Brasília e
de lá para cá quase nada progrediu. Neste ano de 2015 as manifestações foram
mais intensas. Houve a participação de várias nações indígenas de todo o país,
acampadas na Esplanada dos Ministérios. As fotos que registrei, na terça feira
14 de abril, falam por si próprias.
Amanhã,
19 de Abril é o Dia do Índio. Há algo a comemorar? Pelo menos nas escolas houve
hora cívica para celebrar a data. Também lá estive e me alegrei ao ver as
crianças usando adornos estilizados à moda dos índios. Pelo menos elas, as
crianças, aprendem a respeitá-los e, adoram falar de índios. Tanto assim que um
dos curumins escolares chegou em casa e não retirou o adorno, um cocar
indígena. Certamente, podemos esperar dias melhores para nossos índios.
Salvemos
nossos índios! E vejam, abaixo, que bela lição de sabedoria eles nos dão,
apenas com o silêncio.
Brasília,
18 de abril de 2015.
Paulo
das Lavras
O Silêncio dos Índios
Autor: Kent
Nerburn
Não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.
"Observa, escuta e logo atua", nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam.
Observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o
coração e a mente quietos, e então aprenderás.
Quando tiveres observado o
suficiente, então poderás atuar.Com vocês, brancos, é o contrário.
Vocês aprendem falando.
Dão prêmios às crianças que
falam mais na escola.
Em suas festas, todos tratam de
falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes.
E chamam isso de "resolver
um problema".
Quando estão numa habitação e há
silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons.
Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir.
Nem sequer permitem que o outro
termine uma frase. Sempre interrompem.
Para nós isso é muito
desrespeitoso e muito estúpido, inclusive.
Se começas a falar, eu não vou
te interromper. Te escutarei. Talvez deixe de escutar se não gostar do que estás dizendo. Mas não vou te interromper.
Quando terminares, tomarei minha
decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos
que seja importante.
Do contrário, simplesmente
ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber.
Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a
maioria de vocês.Deveríamos pensar nas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.
Nossos ancestrais nos ensinaram
que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para
escutá-la.
Existem muitas vozes além das
nossas. Muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.
"Não sofremos de falta de
comunicação, mas ao contrário, sofremos com todas as forças que nos obrigam a
nos exprimir quando não temos grande coisa a dizer".
Índios
Guaranis – Brasília, 14 de abril de 2015/Esplanada dos Ministérios
Cacique
Raoni- 2013. Questionando o então vice – presidente da Câmara
Índio flechou soldado, ferindo-o
na perna. Brasília, maio 2013
Tribo
Tabajara, da Bahia
Índio da nação Xacribá, falando ao celular com um
deputado, logo ali atrás.
Terenas,
descansando após almoço
Krahô
e Xavante (sentado)
Xavante,
do estado de Mato Grosso. Mesma tribo do cacique Juruna
Nação
Kaiapó, a mesma do cacique Raoni que desfilou em Paris com o cantor Sting
Tenda
coletiva - lazer
Curumins
na escola. Certamente lutarão para um futuro melhor para os índios
O curumim gostou do adereço e o manteve em casa.
Amor aos índios desde cedo
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