Leitura
concluída.
Autora
- Deo Saraiva
Surpreendente
a peça ficcional de Deo Saraiva, até mesmo para um engenheiro, de pensamento
cartesiano, acostumado desde o ano de 1971, há exatos 50 anos, no começo da era
computacional, com um dos primeiros “cérebros eletrônicos” (assim eram chamados
os computadores), o UNIVAC, gigantesco, do tamanho de uma sala de aula, ali na
USP/EESC, porém minúsculos na memória de apenas 400K (um simples smartphone de
hoje tem dezenas de gigabytes). Aquele gigante de pequena memória usava válvulas,
pois não existiam ainda os chips e elas esquentavam demasiadamente o ambiente que
precisava ser refrigerado com vários aparelhos de ar condicionado. O Univac,
computador recém-inventado, tinha que ser alimentado com montanhas de cartões
recheados e picotados com as programações em linguagem Cobol ou Fortran que,
nós mesmos, os mestrandos em engenharia, éramos obrigados a programar (não
existiam os tais softwares para se comprar nas famosas lojas de App... rsrs).
Pois bem, agora, ler um romance de ficção tendo a inteligência artificial como
pano de fundo, foi indubitavelmente uma experiência diferente, inusitada e
posso dizer muito aprazível, interessante mesmo se comparado com os avanços
atuais depois de 50 anos de uso dessas máquinas inteligentes. Muito
provavelmente será mesmo possível criar-se um homem translúcido, com a
inteligência artificial e que se apresentará sob a forma de um holograma que, à
vista em 4D, se transforma em realidade virtual que ama seu criador, aquele que
detém seus comandos cibernéticos.
Foi
bem assim mesmo que me senti com a leitura do romance futurista, escrito por Deo Saraiva e que nos leva ao mundo da Inteligência Artificial – IA de forma
suave, conduzindo-nos para as facilidades que os robôs nos proporcionam em
todos os segmentos da vida. Começa pelo mundo da moda, com a perfeição ímpar
nas criações, modelagens virtuais ao vivo, ao gosto da cliente e sem sair de
casa. A madame recebe a encomenda, via drone aéreo, com seu vestido já provado,
testado virtualmente em manequim à sua imagem e semelhança, conforme escaneado
por robô. Paga com criptomoeda e depois vai com seu acompanhante, em taxi-drone-aéreo
para a festa de gala ou restaurante de luxo. Também passa pela produção
agrícola high-tec com drones autônomos controlando a irrigação, aplicação de
defensivos e fertilizantes numa fazenda da família de Norah, a principal
personagem do romance. E aqui podemos dar o testemunho do realismo, pois como
diretor do Ensino Agrícola Superior, do Ministério da Educação-MEC, introduzimos
a informática na Agricultura, já em 1983, quando realizamos em Fortaleza (UFC),
em parceria com o Ministério da Agricultura e a Secretaria Especial de
Informática (hoje MCTI), o I Seminário Nacional de Informática na Agropecuária –
INFOAGRO, Desde então criamos com pioneirismo na América Latina a
matéria/disciplina de Informática na Agricultura, nos cursos de ciências
agrárias – a agronomia, engenharia agrícola e florestal.
Em
seu romance bem estruturado, a autora usa e abusa dos drones sob a forma de
taxi aéreo, carros autônomos, entregadores e auxiliares em tudo e em todas as
atividades humanas. Sim, a autora faz isso com muita habilidade a ponto de
deixar até engenheiros com vontade de viver naquele mundo futurista, bem ali no
ano de 2035, apenas 15 anos à frente. Depois de nos induzir a viver e
maravilhar-nos com as tecnologias decorrentes da IA, introduz o fator humano no
enredo e daí a história de Norah, especialista em IA e principal protagonista,
se desenvolve com as mais diversas e surpreendentes situações com seu “ente”,
criado por ela, de nome Ali e que a acompanha em forma de holograma. Criou-o em
realidade aumentada (4D), à imagem de um homem para suprir a sua solidão, numa relação
virtual incrível. Mas..., porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e
ainda assim (... ufa!), sempre há um óbice em qualquer história por mais
maravilhosa que seja. A criatura virtual deu sinais de querer controlar sua
criadora e então começam os problemas. Norah teve que arquitetar um plano
secreto, pois até os seus chips de controle de saúde serviam de fonte para o robô
Ali, pois ele tudo via e ouvia o que ela dissesse e... pensasse (sim, no futuro
teremos chips no corpo, conectados a sistemas de saúde /médicos e que monitorarão
nosso corpo e darão diagnósticos precisos em qualquer caso de anomalias).
Não
vamos contar aqui o desenrolar e tampouco o desfecho dessa bela ficção que até
mesmo aos olhos de um engenheiro pareceu por demais realista. O certo é que a
autora nos conduz, na figura de Norah, ao mundo das relações virtuais e a solidão do ser humano na era da IA que,
mesmo hoje, nos prende por horas e horas nas redes sociais. Mas, mais
surpreendente, ainda, é o final que a autora reservou para Norah, a criadora do
robô, depois que executou seu plano para se livrar do jugo de Ali, sua criatura
de IA quase autônoma.
Gostei e recomendo a leitura!
Brasília, 26 de janeiro de 2021
Paulo das Lavras
O Ministério da Educação, por meio da UFC, organizou
o primeiro Seminário Nacional de Informática na Agricultura, intorduzindo essa
matéria nos currículos dos cursos de Ciências Agrárias. Hoje, quase 50 anos
depois os drones, dotados de computadores, aí estão a auxiliar no que agora
chamamos de Agricultura de Precisão. De seu escritório ou de qualquer parte do
mundo, onde quer que se encontre, o produtor rural comanda a sua lavoura, a um
simples toque em seu smartphone.
No romance “O Homem Translúcido”, a autora, Deo
Saraiva, menciona esse e outros avanços da Inteligência Artificial, numa peça
ficcional, mas muito próxima da realidade, sobretudo se projetarmos tais
avanços para o ano de 2035, quando ela, a autora, ambientou sua história, cheia
de realismos.
Foto do autor – Folder do evento- arquivos pessoais e do Centro
de Documentação do MEC
Sua crítica inflou meu ego de escritora, Paulo. Quando um livro é lido com prazer, e recebe uma avaliação como a sua, incentiva quem escreve a ir em frente. Estou exatamente em um momento de crise criativa, achando que não continuaria a escrever. Aí, vem você e me impulsiona à frente. Muito, muito grata por sua força. Um grande abraço. Deo Saraiva
ResponderExcluirE ainda nem falei do outro livro de sua autoria, "A casa das 365 janelas". Outra joia.
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