A
nação brasileira passa, nesses dias, por profundo pesar pelo trágico
desaparecimento de um time, inteiro, de futebol, vitimado por desastre aéreo na
Colômbia. Comoveu a todos nós a solidariedade e o carinho dos colombianos à
equipe brasileira de futebol da Chapecoense, como a seus familiares e a todos
os brasileiros. Foi notória a repercussão na imprensa e nas redes sociais a
atitude de todos os colombianos. A equipe do Nacional de Medelín, teve destaque
especial. Era o time que deveria disputar as finais do campeonato sulamericano,
dois dias depois da chegada dos brasileiros, o que não aconteceu, devido ao
desastre aéreo que matou 71 dos 77 passageiros e tripulantes a bordo, quase à
cabeceira do aeroporto de Medelín. O time colombiano, campeão sulamericano por
duas vezes, prestou belíssima homenagem aos mortos e a seu time, propondo às
autoridades esportivas, a concessão do título de campeão à Chapecoense.
Ofereceram, publicamente, numa solenidade com milhares de torcedores, vestidos
de branco, o cobiçado título de campeão à equipe morta no desastre de dois dias
antes.
Um
cronista, emocionado, perguntou se a catástrofe tivesse acontecido no Brasil,
haveria algum time que se proporia a oferecer o título de campeão ao rival?
Conseguiria reunir milhares de torcedores só para isto? Ou, então, se o time do
Nacional de Medelín tivesse sofrido a mesma catástrofe aqui em nosso solo,
algum dos nossos times teria a capacidade de colocar 40 mil torcedores no
estádio e outros 40 mil do lado de fora para chorar por nossos irmãos sulamericanos?
Abriria mão de disputar uma partida para concorrer ao título de campeão, para
respeitar o luto alheio? Com essas comparações, conclui o cronista que a Colômbia
nos deu uma lição de solidariedade, amor e que as vidas estão sempre acima das
disputas esportivas. Tomara que a lição sirva de exemplo e possamos, no mínimo,
acabar com a violência nos estádios.
Além
disso, foi surpreendente a rapidez e eficiência dos socorristas colombianos,
com hospitais limpos e equipados. A solidariedade do povo, além das
manifestações mencionadas, se estendeu, ou melhor começou, até mesmo na hora do
resgate em plena madrugada chuvosa. As emissoras de rádio e TV pediram apoio a
quem tivesse carros com tração nas quatro rodas, pois o local era de dificílimo
acesso. Uma hora depois tiveram que dar uma ordem severa: “Parem de vir para o
local do acidente, pois já há engarrafamento na área”. Verdadeira e admirável lição
de solidariedade que os colombianos nos ensinaram. Adversários não são
inimigos!
E
eles conhecem a dor, bem de perto, enfrentando uma guerra interna que já dura 50
anos. E isso poucos de nós leva em conta. Muitos, só nos lembramos da fama dos
narcotraficantes que denigrem a imagem do país que, ao contrário, sempre os
combateu na medida do possível. Outros, como um repórter de rádio e TV, criado
na região cafeeira do sul de Minas, carregou a vida inteira uma ojeriza, birra
mesmo, disse ele, da Colômbia que concorria em melhores condições que o Brasil no
comércio internacional do café. Hoje, o repórter confessou: “rendo-me,
penitencio-me por essa atávica birra, diante da grandeza da alma que eles, os
colombianos, nos mostraram nesse episódio da catástrofe com o time de futebol
brasileiro”.
Muitos
dirão que esse reconhecimento dos brasileiros aos colombianos é devido apenas
ao estado geral de comoção pela tragédia ocorrida e que estamos todos solidários
com as famílias das vítimas. Sim, estamos mesmo abatidos e solidários, mas, posso
afirmar que eu mesmo me enquadro no figurino do brasileiro que tinha aquele
país em má fama, até mesmo pelas razões do repórter esportivo de uma grande
cadeia de rádio e TV...., a disputa pelos mercados do café. Também eu não
nutria nenhuma simpatia por aquele país, pois a vida inteira vivi ouvindo a
mesma história por parte de parentes cafeicultores do sul de Minas. Não nutria
simpatia alguma..., até que..., na década de 1980, visitei a Colômbia várias
vezes. Numa delas, especialmente, ocorrida em novembro de 1987, e lá se vão quase
trinta nos, numa missão oficial em Santa Marta, na costa caribenha, pude sentir
com maior intensidade a hospitalidade dos colombianos. Joguei fora todas aquelas
“pedras” que eu carregava para atirar ou me defender por conta da atávica falta
de simpatia para com aquele povo. Ali mesmo no aeroporto internacional de
Bogotá, depois de um voo direto do Rio de Janeiro, num Boeing 767-ER da Varig,
de prefixo PP-VNP, com seis horas de duração, esperava-nos a delegação de
universidades colombianas para imediata conexão em outro Boeing, um 727-200 da
Avianca, que ainda era de bandeira colombiana, de prefixo HK-1272, para mais
uma hora de voo até a cidade de Santa Marta, situada na costa caribenha. Clima
de festa entre os colombianos na calorosa recepção à pequena delegação
brasileira que eu chefiava. Uma semana em Santa Marta, a mais antiga cidade da
Colômbia, num congresso científico sobre ensino de ciências agrárias na América
Latina e Estados Unidos, pudemos conviver com a hospitalidade dos colombianos,
suas famílias e admiração que nutrem pelo Brasil e o grande interesse por intercâmbios
com nossas universidades e centros de pesquisas.
Terminados
os trabalhos desfrutamos das facilidades e conforto de um resort naquele
balneário, com restaurantes de farta e variada mesa, incluindo uma enorme tenda
entre coqueiros repleta de frutas tropicais in natura. Delicia de encher os olhos
e ainda com variados coquetéis típicos, como a marguerita, o rum com água de
coco e a piña colada. Tudo ali, bem em frente às mais azuis águas oceânicas que
já vi em todo o mundo. Em seguida partimos para a histórica cidade de Cartagena
de las Indias, cidade histórica onde viveu Gabriel Garcia Marques. Ali escreveu
seu mais famoso romance, “O Amor nos Tempos do Cólera”. Dali retornamos a
Barranquilla e de lá embarcamos num B-727 da Avianca, de matrícula
norte-americana, N153FN, com destino a Bogotá, seguindo em conexão num 767-ER,
da Varig (PP-VNR) para o Rio de Janeiro e escala em Manaus. Tempo de voo
bastante para se deleitar com a leitura do belo romance de Gabo, como era
chamado o famoso escritor caribenho e relembrar a hospitalidade e carinho
daquela gente.
Que
a lição dos colombianos, nesse triste episódio, produza efeitos. E parece que
já começaram, pois, muitos times brasileiros já se dispuseram a oferecer empréstimos
gratuitos de jogadores para que a Chapecoense possa se reabilitar e jogar nos
próximos campeonatos.
Bela
lição do povo colombiano, nossos irmãos latino-americanos, gente hospitaleira,
amorosa que sempre preza em nos receber bem em qualquer circunstância. A
atitude desse povo, demonstrando as mais profundas e sinceras manifestações de
carinho e solidariedade, nos cativou, sensibilizou a todos nós. E aquela velha
frase cunhada na catástrofe de um jornal francês e aqui adaptada pelos brasileiros
merece mesmo ser lembrada:
“Somos todos Colombianos”.
Brasília,
03 de dezembro de 2016
Paulo
das Lavras
Chegando
à Cartagena, 1987, cidade de muitas igrejas e conventos
O
mais famoso livro
Cartagena
- Vista da cidade de 500 anos
Santa
Marta, balneário caribenho de aguas azuis
Hotel
resort, com amplo restaurante e salão de festas à beira das piscinas, com mar
azul ao fundo
Bogotá, com a montanha emoldurando a cidade a nos
lembrar a cidade de Belo Horizonte.
O teleférico naquela montanha nos oferece uma bela
vista da capital colombiana.
Bogotá,
vista do teleférico, muito parecida com a capital mineira
Gutierrez/México,
à esquerda e Mauricio Medina, à direita da foto. Este, amigo, diretor do Instituto
Colombiano de Fomento à Educação Superior - ICFES/Bogotá
1982, em México
Em uma rua no
centro de Bogotá. Gente atenciosa – 1981
O time da
Chapecoense e o Avro RJ 85, acidentado em Medelín na madrugada de 29/11/2016
Foto- Internet
Foto- Internet
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