Não,
não é o habitante andino, do Peru e sim a crença do homem do campo. A fé do
homem do campo que move montanhas tem fundamento climático. Olhos para o céu,
mãos firmes segurando a enxada inseparável, e a esperança renovada de um ano para
o outro. Dezembro, mês das chuvas, as roças de milho, café, arroz e feijão estão
viçosas e então a crença, na virada do ano, é que se a chuva continuar vai ser
bom para a agricultura. Afinal, esforçou-se para lavrar a terra, semear, adubar,
capinar e agora só resta esperar que “para o ano”, ou como diz o mineiro da
zona rural “peruano” que vem que a chuva continue e a colheita seja boa!
O
agricultor é um sábio que convive muito bem com a natureza e talvez por isso
quase nunca falha a sua fé, a esperança de farta colheita. Na vida colhemos
aquilo que plantamos e mais certo ainda é que só colhemos depois que plantamos.
Colhemos apenas onde plantamos e melhor ainda, a colheita é infinitamente maior
do que o número de grãos que semeamos. Uma semente de milho produz várias
espigas com centenas e até milhares de grãos. Assim deve ser a nossa vida.
Plantar sempre as sementes do amor, da esperança e da verdade. E onde? Em todos
os ambientes, mas de preferencia naquele em se vive diariamente. Plantando o
bem e a paz certamente colheremos felicidade, traduzida nos mesmos
ingredientes, porém multiplicados como a semeadura do agricultor.
Aprendi
com meu pai que, com os olhos para o céu, nos últimos dias de dezembro,
exclamava: “Peruano”, se Deus quiser, a
chuva vai continuar e a colheita vai ser boa! Ter feito a sua parte, a
semeadura e os tratos culturais nas plantações dava-lhe a certeza de que Deus
não falharia com as chuvas. Assim, restou-me a certeza de que devemos fazer a
nossa parte e a colheita virá multiplicada. Esse é o segredo para se viver bem,
fazer tudo a seu tempo..., viver cada dia, cada momento, como o agricultor que
prepara a terra, planta a semente, cuida com extremo zelo para colher fartura. Por
isso, fim de ano, enquanto muitos se preocupam em fazer longas listas de metas
e objetivos para o ano que vem, lembro-me do “peruano” esperançoso do agricultor.
Portanto
não planejo nada de especial que não seja para os próximos dias. Nada de longo
prazo, pois a vida é curta e precisamos viver com intensidade o dia de hoje. Estar
em harmonia com a família, a natureza e os amigos é importante. Tem problemas?
Sim, todos os temos, mas porque não se desfazer das coisas velhas e dar lugar
ao novo? Velhos hábitos pessoais, roupas velhas, arquivos de papeis ou do HD, tablet
ou smartphone e até, quem sabe, uma faxina nas redes sociais, por que não? Quem
teve a ideia de dividir o tempo em fatias, dando-lhe o nome de ano, fez certo, foi
genial como disse Carlos Drummond de Andrade, pois o corpo humano cansa, chegando
a quase exaustão ao seu final. Assim, com um brake para as festas natalinas e férias do trabalho cotidiano, as esperanças se renovam.
Que
o Ano Novo, de número 2016, seja para você, como também para mim, de 365 dias
vividos a cada dia, apreciado e degustado com muita alegria de se viver. Nada
acontece por acaso. Desde que o mundo é mundo o ser humano sabe que tem que
semear para colher. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde
sempre, disse o poeta Drummond. Olhe o Ano Novo com novo olhar. Mas, também não
se esqueça de agradecer a Deus pela colheita do ano que se encerra, pois não há
alegria maior que olhar para trás e sentir orgulho do dever cumprido, da vida
vivida com alegria. Essa é a verdadeira felicidade, permanente.
Que
a sua colheita seja farta, repleta de alegrias “peruano” que vem, 2016, que se
inicia daqui a pouco.
Paulo
das Lavras
Brasília,
30 de dezembro de 2015
Um grão de milho
semeado produz várias espigas com milhares de grãos.
Por isso semeie
a bondade e terá farta colheita. O Ano Novo está em você
Sr Vico aos 84 anos. Voltando da capina para o
almoço das 10:30h. Braços fortes,
mãos calejadas. Sorriso alegre..., tarefa cumprida! “Peruano” (para o ano) que vem
a chuva vai continuar
e a colheita vai ser boa!
Viveu 101 anos em plena harmonia com a natureza e as
pessoas ao seu redor
Ao ler este texto, as lembranças da simplicidade da vida no campo, do cheiro de mato vêm à tona, da expectativa renovada. E que "peruano" que vem consigamos trazer esta simplicidade cada vez mais para perto do nosso dia a dia. Obrigada Paulo das Lavras!
ResponderExcluirQue bom que você gostou, Márcia Moura.De fato, dizem os poetas e filósofos que a felicidade reside na simplicidade das coisas. E quer melhor "coisa" do que a natureza, o campo e o homem que nela trabalha e dela retira o sustento da família? Com certeza todos nós vamos usufruir dessa simplicidade "peruano" que vem. Um abraço.
ExcluirMuito gostoso ler sua crônica... a gente recorda a infância dourada que tivemos. A liberdade de correr nos pastos,o quão importante a gente se sentia ao ajudar na colheita do café, brincar nas capinas dos matos que insistiam em crescer nas plantações, acompanhar a transformação das cores dos grãos de cafė...verdes depois vermelhos (que vontade eu tenho de que meus netos conhecessem de perto o que meus filhos não tiveram a oportunidade de ver)... colher milhos para transbordar a panela fumegante no fogão de lenha.Ver a transformação do grão do milho em fubá no moinho d'água...e depois comer aquele angu fresquinho com um franguinho caipira...Quantas saudades seus contos nos trazem Paulo Roberto.Como é saudosa nossa infância. Obrigada por me fazer viver esta saudade.
ResponderExcluirAdorei saber que fui capaz de despertar, com minha crônica baseada na simplicidade da vida no campo que meu pai usufruiu por 101 anos, o sentimento de gostosa nostalgia de sua infância. A colheita do café, mencionada por você, me desperta também uma saudade imensa das férias de julho, quando, meninos, íamos para a fazenda. Era a maior aventura do mundo, subir e assentar sobre a carga de café em grãos vermelhos, cheirosos e adocicados, acompanhando o carreiro conduzir os bois, pacientemente, carro cantando morro abaixo até o imenso terreiro de secagem e a tulha, onde era armazenado depois de 21 dias secando ao sol. E a troca do fubá? Levava o milho e trazia igual medida de fubá. O lucro do moleiro era sempre o volume a mais que se produzia com a mesma medida do grão e que nós, os meninos, nunca entendíamos. Ah... tempos bons, felizes. Você tem razão!
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ResponderExcluirtratava-se de cópia duplicada do mesmo comentário postado um minuto antes.
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