A criação da profissão de engenheiro agrícola estava fadada a acontecer
em razão das demandas ocorridas nos seus diferentes campos de atuação,
notadamente na mecanização agrícola, armazenagem e irrigação, que experimentaram
acelerado desenvolvimento. Ampliaram-se as áreas de cultivo com escassa mão de
obra, o que naturalmente provocou uma corrida pela mecanização agrícola e
outras técnicas que viessem facilitar e incrementar o processo produtivo
agrícola. Por outro lado, o curso de agronomia sempre esteve mais voltado para
os aspectos da biologia aplicada em detrimento das ciências físicas e
matemáticas exigidas pela engenharia na agricultura. Assim, em 1908,
coincidentemente com o ano de fundação da ESAL/UFLA, surgiu o primeiro curso de
Engenharia Agrícola nos EUA, na Universidade de Iowa. Destinava-se o novo
profissional a cuidar da mecânica na agricultura, construção de estradas
vicinais, pontes, eletrificação rural, armazenagem, irrigação e drenagem,
dentre outras.
No Brasil não foi diferente. Os motivos que levaram à criação da nova
profissão foram os mesmos daqueles reclamados pelos produtores rurais norte-americanos.
A Engenharia Agrícola foi a quarta profissão a se desmembrar da agronomia em
nosso país. A primeira foi a Engenharia Florestal (1960), seguindo a Zootecnia
(1966) e a Engenharia de Pesca (1972). Em 1973 foi a vez da engenharia agrícola
com a criação do curso de graduação, com duração de cinco anos, na Universidade
Federal de Pelotas. Seguiu-se a criação
do curso em Viçosa no ano de 1974. O curso de engenharia agrícola da Ufla foi o
terceiro do país. Iniciou-se no segundo semestre de 1975, com 20 alunos apenas,
cujas vagas foram retiradas da agronomia que, ainda assim, continuou com o ingresso
de 150 alunos. Mas, foi longa a história dos estudos e a vontade de alguns
especialistas em implantar essa profissão no Brasil. Em 1966 foi recomendado
pelo Projeto IV/USAID-Brasil a criação de um centro nacional de pesquisa e
ensino de Engenharia Agrícola no Brasil. Cinco anos depois, em 1971 decidiu-se
que havia necessidade de se nomear uma comissão mista Brasil/EUA para elaborar
estudo aprofundado com vistas à instalação do sugerido centro de ensino e de
pesquisa em Engenharia Agrícola. Dois brasileiros, dois norte-americanos e um especialista
da FAO visitaram as principais regiões do país, em 1972, constatando o atraso em
que se encontrava a engenharia agrícola no Brasil, que era tratada
superficialmente pelos agrônomos que se limitavam a descrever as máquinas e não
analisá-las ou propor novos projetos.
O relatório da comissão não indicou nenhum local para a possível
instalação de um centro de pesquisa e ensino para a área em face da
precariedade da situação assim retratada:
-
debilidade do ensino de ciências da engenharia nos cursos de agronomia - poucas pesquisas desenvolvidas nas áreas
da engenharia agrícola
- inexistência de currículo próprio
e cursos de engenharia agrícola no país
- falta de engenheiros agrícolas no
país
- disciplinas dos cursos agronomia
voltadas para a área biológica e não da física
-
falta de especialização docente na área
-
falta de embasamento de candidatos brasileiros aos cursos de mestrado e
doutorado
da área, nos EUA
O
MEC agiu imediatamente nomeando uma comissão nacional que propôs o currículo
mínimo do curso, aprovado em 1974. Ainda naquele ano de 1974 convidou instituições de ensino interessadas
nesse curso para uma reunião no MEC. Compareceram poucas instituições, dentre
elas a Universidade Federal de Viçosa e a Escola Superior de Agricultura de
Lavras/UFLA, representada por mim, que à época acumulava as funções correspondentes
a Pró-reitor de Pós-graduação. Encampamos a proposta do MEC e rapidamente foi
encaminhado o projeto com a aprovação do Departamento de Engenharia e da
Congregação da ESAL/UFLA. O Departamento de Engenharia acalentava o sonho da
criação desse curso desde 1973 quando se noticiou a criação de similar em
Pelotas. Alguns meses depois veio a aprovação do MEC e os primeiro alunos se
matricularam no semestre 1975/2. Em 1980 formou-se a primeira turma de
Engenheiros Agrícolas da ESAL/UFLA. Dois anos antes, em 1978, tivemos o
privilégio, na qualidade de conselheiro federal do CONFEA, assinar o parecer
técnico que ensejou a aprovação da Resolução 256/78-Confea que discriminava as
atribuições profissionais do Engenheiro Agrícola. Estava, portanto, criada definitivamente
a profissão com direito a registro no CREA.
O
curso da UFLA passou por inúmeras atualizações. Nem bem completara um ano de existência
recebeu, em julho de 1976, a visita de outra comissão mista do MSU-Brazil/MEC
Project. Nessa ocasião já nos encontrávamos em Brasília, cedido pela ESAL/UFLA
ao Ministério da Educação e coordenávamos justamente os programas de educação
agrícola e seus programas internacionais (AID Loan Agreement – L 090-512). Assim,
incluímos Lavras no roteiro daquela comissão, composta pelos professores
especialistas D.W. Henderson/U.C. Davis/USA, F.L. Herum/Ohio State University,
L.A. Balastreire/ESALQ-USP, M.L. Esmay/Michigan State University, M. C. S.
Leão/UFCeará, P.J. Martin/UFViçosa e R.H. Wilkinson/Michigan State University. A
comissão realizou um diagnóstico do curso em Lavras e deixou recomendações
estratégicas que foram aproveitadas pela ESAL/UFLA, conforme “Report number 13
- Agricultural Engineering Survey Team”. É interessante notar que o Centro
Nacional de Engenharia Agrícola- CENEA, vinculado ao Ministério da Agricultura
e localizado em Sorocaba-SP, na Fazenda Ipanema, também foi visitado por aquela
comissão mista, embora não fosse instituição de ensino e sim de pesquisas em
engenharia agrícola. À época aquele centro de pesquisas desempenhava importante
papel no cenário nacional. Lamentavelmente foi fechado definitivamente pelo
Governo Collor de Mello, em 1990 e posteriormente a UFLA recebeu do espólio
algumas aeronaves agrícolas modelo “Ipanema”.
Prosseguindo com as
reformas e atualizações o curso experimentou os novos currículos mínimos
aprovados pelo MEC em 1984 e depois as diretrizes curriculares de 2006 que
extinguiram os currículos mínimos obrigatórios. Iniciou a pós-graduação em 1990
com o curso de mestrado que recebeu conceito “A”, logo na primeira avaliação da
CAPES. O doutorado na área de concentração em Irrigação e Drenagem foi aprovado
pela CAPES em 2002. Hoje tem várias áreas de concentração na pós-graduação
tanto no mestrado como no doutorado, contando com cerca de 50 docentes de
elevada qualificação (92% com título de doutor e 8% de mestre). Tanto no âmbito
do ensino de graduação como de pós-graduação o Departamento sempre foi destaque
nas avaliações do MEC no que concerne à qualidade do ensino e de sua
infraestrutura física e de pesquisas. Prova dessa elevada qualidade foi a recente
aprovação de seis novos cursos, totalmente financiados pelo MEC: Engenharia Civil, Engenharia
Mecânica, Engenharia de Materiais, Engenharia Química, Engenharia de Computação
e Engenharia Física. Estes se juntaram aos já existentes: Engenharia
Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia
de Alimentos, Engenharia de Controle e Automação e a Engenharia Florestal. Serão
ao todo doze cursos de Engenharia na UFLA, ainda nesse segundo semestre de 2014.
Grande progresso, parabéns UFLA. Parabéns
Departamento de Engenharia!
Brasília, 3 de abril de 2014
Paulo das Lavras
Ufla- aeronave agrícola Ipanema. Herança do extinto CENEA
Ao fundo o Departamento de Engenharia, onde fui professor,
de 1969 a 1975, até o dia da primeira aula de Engenharia Agrícola
de 1969 a 1975, até o dia da primeira aula de Engenharia Agrícola
Relatório de 1976 - Brasil/EUA, projeto que coordenei,
no MEC, de 1976 a 1989, incluindo a ESAL/UFLA
Primeira página do Relatório da Comissão mista Brasil/EUA