A década de 1960,
embora já distante cinquenta anos, ainda é muito lembrada pela minha geração
nascida no pós-guerra. Foi no ano de 1964 que explodiu a revolução militar, que
de revolução não tinha nada, pois foi um golpe de alguns militares ressentidos
desde a posse de Getúlio Vargas que acabou dando cabo à sua vida em agosto de
1954. A ditadura iniciada em 1964 durou duas décadas com país sendo governado
com mão de ferro e as liberdades dos cidadãos cerceadas de todas as formas. Foi
nesse cenário de repressão que surgiu no mundo a “beatlemania”, verdadeira onda
de fanatismo em torno da banda britânica The Beatles, composta por quatro
garotos de Liverpool. Nela se destacavam os guitarristas e vocalistas Paul
McCartney e John Lennon, excelentes compositores e autores da maioria das
gravações dos Beatles.
Mania
mundial desde 1963, os Beatles tiveram, inicialmente, dificultada sua
divulgação aqui no Brasil governado pelos militares. Seus discos e propaganda
na imprensa, rádios e TV só começaram a aparecer em 1966 quando já tinham
percorrido o mundo inteiro. Lógico que algumas rádios tinham seus lançamentos e
tocavam suas músicas, mas predominavam os estilos Bossa Nova, MPB e a Jovem
Guarda. Neste movimento da Jovem Guarda, embora a maioria de seus artistas só
cantassem composições brasileiras, alguns se aventuravam a gravar versões de rock and roll americano e dos ingleses
The Beatles.
Mas,
e os Beatles? A primeira vez que ouvi falar deles foi por meio de uma carta de
uma amiga-correspondente da Dinamarca. Sim, no início dos anos 60 os alunos que
gostavam da língua inglesa eram estimulados a manter correspondências, nesse
idioma, com “amigos-correspondentes” de outros países. Enviei meus dados
pessoais e eis que no dia 30 de abril de 1963 recebi a primeira cartinha, de
uma loirinha dinamarquesa de apenas 16 anos, com foto em sua bicicleta em
frente à sua casa na cidade de Aalborg. Falava, dentre outros assuntos, do
sucesso musical de uma banda britânica, The Beatles e indicava algumas músicas
de sucesso na Europa. Interessante foi que ela os desenhou, destacando as
longas cabeleiras que usavam. Seu entusiasmo de adolescente era perceptível
pela longa explanação sobre eles. Não entendi muito bem sobre a recente
história daquele conjunto de cantores de rock, pois nem eram tocados em nossas
rádios. Mas, aquela primeira carta vinda do exterior em um envelope próprio
para porte aéreo, com bordas barradas em vermelho e branco (os envelopes
nacionais tinham as bordas com barras em verde e amarelo), marcou muito o
garoto, pois naquele exato dia em que recebera das mãos do carteiro estava de
luto profundo, preparando-se para os funerais de sua querida mãe que partira
prematuramente aos 49 anos de idade. Naquele mais triste dia da vida do garoto,
os Beatles apareceram pela primeira vez, ainda que sem conhecer uma única
música deles.
A
partir de então o interesse em ouvir e ler sobre o quarteto britânico de
Liverpool aumentou. Ouvir notícias deles pela BBC e praticar o inglês tentando
entender as letras de suas canções era o hobby preferido. Algum tempo depois
começaram a surgir suas músicas e muitas versões interpretadas pela turma da
Jovem Guarda, os chamados de Reis do iê iê iê.
Renato e seus Blue Caps, por exemplo, as interpretavam maravilhosamente
bem e em 1966 assistimos um de seus shows, em Uberaba, durante a Expo-Zebu que
os alunos de agronomia da velha Esal/Ufla participavam anualmente. Ali vibramos
com as icônicas “Menina Linda” (I shoud
have known better) e “O meu primeiro amor” (You gonna loose that girl). Foi um verdadeiro êxtase para toda a
turma de estudantes e para muitos, o primeiro show ao vivo com o famoso
conjunto de Renato e que teve a participação de Wanderléia, também integrante
do movimento da Jovem Guarda.
Mas,
a paixão pelos Beatles e em especial Paul McCartney, o vocalista destaque da
banda, intensificou-se em 1968. Morando sozinho em Belo Horizonte, o jovem
recém formado dedicava boa parte do tempo a colecionar as músicas dos Beatles.
Ano de ouro do conjunto de Liverpool, com vários álbuns já lançados e que se
mantinham nas paradas de sucesso com várias músicas como Penny Lane, o maior sucesso no Brasil, Help, Hello goodbye, Ob-la
di, ob-la da, Hey Jude, Ticket to ride e Yesterday dentre tantas e tantas
que ouvia nos fins de semana e no intervalo do almoço. Naquele ano parecia que
só existiam os Beatles e a turma da Jovem Guarda, para o deleite do garoto
solitário em BH.
Bem,
e agora... 51 anos depois de recebida a cartinha que veio da Dinamarca,
contando os primeiros sucessos do quarteto de Liverpool..., e mais o ano de
1968, marcante em BH, cheio de “beatlemania”, eis que chega a Brasília Sir Paul
MacCartney para seu show “Out There”... .
No
way, I´ll be there, tomorrow, november 23, 2014. Não dá para perder!
Brasília,
22 de novembro de 2014
Show da temporada-2014 no Brasil
A belíssima arena do Estádio Nacional de
Brasília, onde se dará o show
Foto de João Campello
Tickets in hands at the first day… Two "boys" very happy.
They´ll be there, close to the stage... just to
remember
the 60´s...So..is the lifetime.
Paul McCartney passeando no Parque da
Cidade, nesta tarde de sábado 22/11/14
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