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(parte do livro em produção: Um Seminário na Década de 1950)
A
excursão dos seminaristas ao Morro do Bonfim, situado a menos de três
quilômetros do centro da cidade de Itaúna-MG, foi a mais interessante das
atividades externas dos seminaristas de 1958, tanto pelo seu caráter de
exploração e aventura na escalada, como pela beleza do lugar. Antes, bem cedo,
passamos pelo refeitório e pegamos um sanduiche de presunto e queijo e uma
garrafinha de guaraná. Ainda me lembro da embalagem do queijo tipo Cheddar ... donated
by the people of United States of America. Partimos, todos em jejum, para a
santa missa que seria celebrada na Capela do Senhor do Bonfim, situada no topo do monte. O ar fresco da
matina batia no rosto e chegamos ao alto depois de quase uma hora de caminhada e
narizes avermelhados pelo frio. Missa no altar, com a maioria dos seminaristas
pelo lado de fora da pequena capela, cânticos em latim de parte do ritual, a
comunhão, e finalmente o ite missa est - ide,
a missa terminou, com as últimas palavras do celebrante. Assentados na relva os
meninos puderam então lanchar e contemplar a belíssima vista por todos os
quadrantes, com o sol matinal irradiando luz nos semblantes alegres dos
seminaristas. Nenhum seminarista possuía e tampouco os padres levaram máquina
fotográfica para registrar o belo cenário com o sol se levantando. Vasculhei,
em 2013, os arquivos fotográficos na Secretaria do Colégio Sant´Anna e não
encontrei registro algum dessa visita ao Morro do Bonfim.
Hoje,
setembro de 2013, num hiato de 55 anos e de volta à cidade que abrigava o
Seminário, no mesmo Colégio Sant´Anna, onde o menino passou um ano, a visita ao
Morro do Bonfim não poderia faltar, ainda que de automóvel e sem o piquenique
com sanduiche de queijo cheddar e guaraná. Foi gratificante retornar a aquele
local e contemplar novamente o belíssimo cenário que, da mesma forma que
recebeu as orações do menino de então, ali o acolhia de volta em visita
sentimental. Quanta emoção! Os registros fotográficos até ficaram prejudicados
pela emoção do menino de hoje, 55 anos depois. A capela, o cruzeiro, a relva, estavam
todos iguais, do mesmo jeito que havia visto naquele distante ano de 1958 e orado a Deus, sonhando em ser
sacerdote e um dia ali voltar para celebrar uma missa. Por isso, ali presente
tanto tempo depois, em profunda reflexão, menino já encanecido elevou sua alma mais alto
que aquele monte, que ainda abrigava a mesma capelinha, agradeceu a Deus por
tudo e pela graça da vida. Uma prece de gratidão, nada devendo a outras formas
de oração como aquela missa desejada pelo menino, mais de meio século atrás. Estava,
ali, naquele momento, celebrada minha comunhão com Deus.
Ali,
agora, no alto da montanha e na solidão da alma, comparou os sonhos do menino e os
que efetivamente haviam sido realizados naquele longo período. Em tudo
encontrou a Graça de Deus, a começar pelas belas e privilegiadas paisagens dos
vales e montanhas que se descortinavam no vasto horizonte que alcançava mais de
cinquenta quilômetros ao redor. O mesmo cenário, o rio São João, o leito da
ferrovia e as incontáveis montanhas de puro minério de ferro. Verdadeira paz de
espírito, um encontro com Deus, abençoado pelo tempo que nem parecia ter passado, pois ali estava como
se fosse o mesmo menino, com a mesma alegria de tanto tempo atrás, embora,
depois, tivesse trilhado caminhos muito diferentes. Quantas vezes passou pela
Fernão Dias, logo ali naquela serra de Igarapé, vista agora sob outro angulo,
como mostra a foto do alto do monte do Bonfim e nela, na rodovia, as placas
indicando a variante para Itaúna... Meu coração amolecia ao ler aquelas placas
indicativas, a cada vez das centenas de viagens de Lavras a BH e sempre
pensava... “a qualquer hora” tomo essa rodovia e chego à Itaúna para rever a
terra onde o menino frequentou o Seminário. Nunca “tive” coragem suficiente.
Foi preciso esperar tanto tempo para revê-la e tomar um avião na distante
Brasília. Valeu a visita, pois o amor plantado no coração nunca fenece!
Em tudo dai Graças ao Senhor.
Amém!
Brasília,
setembro de 2013
Paulo
das Lavras
A velha Capelinha do Morro do Bonfim, em Itaúna-MG,
do mesmo jeito, 55 a nos depois da visita em 1958
O Morro do Bonfim, visto do centro da cidade de Itaúna
Vista da cidade do alto do morro do Bonfim.
Horizonte de mais de 50 km
Passei por um prédio muito conhecido pelos seminaristas de então...
... e parei para fotografar aquela que me levou até o Seminário,
numa viagem de 16 horas para percorrer apenas 507 km de distância.
Hoje são menos de 200km pela
rodovia Fernão Dias
e apenas duas horas de viagem.
Fotos do autor –Itaúna/MG, setembro
de 2013
Embalagem de Queijo Cheddar, doado pela USAID
às entidades filantrópicas no Brasil até o ano de 1980
Foto: internet