domingo, 26 de maio de 2024

O Morro do Bonfim

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(parte do livro em produção: Um Seminário na Década de 1950)

           

A excursão dos seminaristas ao Morro do Bonfim, situado a menos de três quilômetros do centro da cidade de Itaúna-MG, foi a mais interessante das atividades externas dos seminaristas de 1958, tanto pelo seu caráter de exploração e aventura na escalada, como pela beleza do lugar. Antes, bem cedo, passamos pelo refeitório e pegamos um sanduiche de presunto e queijo e uma garrafinha de guaraná. Ainda me lembro da embalagem do queijo tipo Cheddar ... donated by the people of United States of America. Partimos, todos em jejum, para a santa missa que seria celebrada na Capela do Senhor do Bonfim,  situada no topo do monte. O ar fresco da matina batia no rosto e chegamos ao alto depois de quase uma hora de caminhada e narizes avermelhados pelo frio. Missa no altar, com a maioria dos seminaristas pelo lado de fora da pequena capela, cânticos em latim de parte do ritual, a comunhão, e finalmente o ite missa est - ide, a missa terminou, com as últimas palavras do celebrante. Assentados na relva os meninos puderam então lanchar e contemplar a belíssima vista por todos os quadrantes, com o sol matinal irradiando luz nos semblantes alegres dos seminaristas. Nenhum seminarista possuía e tampouco os padres levaram máquina fotográfica para registrar o belo cenário com o sol se levantando. Vasculhei, em 2013, os arquivos fotográficos na Secretaria do Colégio Sant´Anna e não encontrei registro algum dessa visita ao Morro do Bonfim.

Hoje, setembro de 2013, num hiato de 55 anos e de volta à cidade que abrigava o Seminário, no mesmo Colégio Sant´Anna, onde o menino passou um ano, a visita ao Morro do Bonfim não poderia faltar, ainda que de automóvel e sem o piquenique com sanduiche de queijo cheddar e guaraná. Foi gratificante retornar a aquele local e contemplar novamente o belíssimo cenário que, da mesma forma que recebeu as orações do menino de então, ali o acolhia de volta em visita sentimental. Quanta emoção! Os registros fotográficos até ficaram prejudicados pela emoção do menino de hoje, 55 anos depois. A capela, o cruzeiro, a relva, estavam todos iguais, do mesmo jeito que havia visto naquele distante ano de 1958 e orado a Deus, sonhando em ser sacerdote e um dia ali voltar para celebrar uma missa. Por isso, ali presente tanto tempo depois, em profunda reflexão,  menino já encanecido elevou sua alma mais alto que aquele monte, que ainda abrigava a mesma capelinha, agradeceu a Deus por tudo e pela graça da vida. Uma prece de gratidão, nada devendo a outras formas de oração como aquela missa desejada pelo menino, mais de meio século atrás. Estava, ali, naquele momento, celebrada minha comunhão com Deus.

Ali, agora, no alto da montanha e na solidão da alma, comparou os sonhos do menino e os que efetivamente haviam sido realizados naquele longo período. Em tudo encontrou a Graça de Deus, a começar pelas belas e privilegiadas paisagens dos vales e montanhas que se descortinavam no vasto horizonte que alcançava mais de cinquenta quilômetros ao redor. O mesmo cenário, o rio São João, o leito da ferrovia e as incontáveis montanhas de puro minério de ferro. Verdadeira paz de espírito, um encontro com Deus, abençoado pelo tempo que  nem parecia ter passado, pois ali estava como se fosse o mesmo menino, com a mesma alegria de tanto tempo atrás, embora, depois, tivesse trilhado caminhos muito diferentes. Quantas vezes passou pela Fernão Dias, logo ali naquela serra de Igarapé, vista agora sob outro angulo, como mostra a foto do alto do monte do Bonfim e nela, na rodovia, as placas indicando a variante para Itaúna... Meu coração amolecia ao ler aquelas placas indicativas, a cada vez das centenas de viagens de Lavras a BH e sempre pensava... “a qualquer hora” tomo essa rodovia e chego à Itaúna para rever a terra onde o menino frequentou o Seminário. Nunca “tive” coragem suficiente. Foi preciso esperar tanto tempo para revê-la e tomar um avião na distante Brasília. Valeu a visita, pois o amor plantado no coração nunca fenece!

 Em tudo dai Graças ao Senhor.

Amém!

Brasília, setembro de 2013

Paulo das Lavras


A velha Capelinha do Morro do Bonfim, em Itaúna-MG,

do mesmo jeito, 55 a nos depois da visita em 1958

 

O Morro do Bonfim, visto do centro da cidade de Itaúna

 


 

Vista da cidade do alto do morro do Bonfim.

 Horizonte de mais de 50 km


Passei por um prédio muito conhecido pelos seminaristas de então...



 

... e parei para fotografar aquela que me levou até o Seminário,

numa viagem de 16 horas para percorrer apenas 507 km de distância.

 Hoje são menos de 200km pela rodovia Fernão Dias

 e apenas duas horas de viagem.

 

Fotos do autor –Itaúna/MG, setembro de 2013



 

Embalagem de Queijo Cheddar, doado pela USAID

às entidades filantrópicas no Brasil até o ano de 1980

Foto:  internet

 

 




 











domingo, 19 de maio de 2024

Meus 80 anos - Ode à Vida

 

 



  •  412.067 visualizações neste blog até 11/06//2024- estatísticas do blogge

Oitenta anos de idade? É muito. É tempo demais... No dia 05 de abril, completei setenta e nove anos e recebi uma profusão de cumprimentos e votos de vida linga. Que benção, os amigos na vida da gente!  Setenta e nove anos completos e entrei para a casa dos oitenta. Não é assim que se contam os séculos? Estamos no século 21. Então não seria o ano de 2100? Não! O século 20 terminou em 31/12/2000. O primeiro dia de janeiro de 2001 já faz parte do século 21. Por isso estamos vivendo este século assim identificado: Século 21 ! Pela mesma razão digo que estou vivendo os 80 anos de vida.

As pessoas se assustam com o tempo já decorrido. 80 anos? !!!  Eu não me assusto, apenas me encanto com tanto tempo de vida já passado. Tenho algo diferente dentro de mim. Não sei exatamente o quê. E não é aquele temor que as pessoas sentem, a proximidade da finitude. Não, não é isso. Sinto que meu corpo está envelhecendo, mas, paradoxalmente não me sinto assim por dentro. E nem é “a criança” que existe em nós, segundo os poetas e filósofos. É algo que tenho preservado e aceito com naturalidade esse passar do tempo que, para mim, nos torna mais sábios, ricos em generosidade para com os demais, dos jovens aos idosos. É o tempo do olhar para o passado com alegria. A alegria de ter vivido uma infância feliz, em meio à família, ter recebido primorosa educação e ter podido fazer aquilo que gostava ao longo de toda a vida. A alegria dos tempos de colégio, a juventude com os amores e as incontidas paixões pelas garotas mais lindas e eternas para sua vida de adolescente que acordava para a vida. A alegria do jovem profissional, nova família, pai pela primeira vez e avô com incontáveis alegrias.  E agora, só porque cheguei aos 80, aos olhos dos outros sou um velho. Será assim? Só porque os 80 chegaram tudo aquilo acabou?  Não, não acabou nada, eu sou eu, pois está tudo dentro de mim, de forma vivíssima a alegria presente com todos aqueles momentos da vida, com a idade e a alegria de todos aqueles que um dia fui, a criança, o jovem e o adulto e, por isso mesmo,  me sinto com a idade que quero. Essa história de que 80 anos é idade de velhos, é apenas o olhar dos outros. O meu olhar é diferente e garanto que o seu também, pois pare, pense quantos anos você tem... e verá que  a sua alma dirá: não parece..., acho e que tenho a metade disso. Para nós mesmos, somos eternos jovens E isto é bom, pois nos permite sermos o quisermos ser.

 

É, mas tem a morte... Ora, como bem disse outro poeta e filósofo, Rubem Alves, “quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente, mas morrerá em pleno voo”. E ninguém melhor que ele, para definir o medo da morte: “.... Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza”. Prossegue Rubem Alves, afirmando que concorda com  Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver. A vida é tão boa! Não quero ir embora... Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza”, conclui aquele autor.

 

 

 

E então, 80 anos..., quantos mais virão? Não importa. Para quem quase morreu aos dois anos, submetido a uma grande cirurgia, tendo passado nove meses no colo, literalmente, se recuperando e ainda escapou com vida de três acidentes aéreos, afogamento antes dos 2 anos  e agora, chegar até aqui..., foi o maior lucro que poderia se ter na vida. A vida humana não se define biológica e temporalmente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia, disse o mesmo filósofo já citado. Como na  "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços, imagino que a morte, naqueles braços... do amor, do aconchego, o morrer deixa de causar medo. Não tenho medo do passar do tempo, ou da morte como muitos temem, mas, Tenho tristeza. A vida é muito boa, repetimos.  Mário Quintana, nosso grande escritor disse: "Morrer, que me importa? O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...”. Nem eu tampouco...


            E por isso curto a vida a cada dia, a cada manhã ao abrir a janela e contemplar as árvores, flores e pássaros a cantar. Gosto de ir à chácara onde tudo isto acontece de forma mais pura e cristalina, pois até mesmo o meu cavalo, que ali vive há mais de duas décadas  e os quatro cães se agitam em puro ritual de saudação pela nossa presença. Por tudo isso dou Graças a Deus pela Vida. Um dia que se renova, pois já estou no lucro há muito tempo. Derrotei por 7  vezes aquela senhora da capa preta com foice às costas, à cata de vidas. Sim, sete vezes eu a driblei e a última vez, em acidente aéreo, foi há mais de 30 anos. E agora, ou melhor, desde então, e contrariando um pouco o que disse antes, eu até acho que a criança ainda mora em mim, pois elas, as crianças, sabem que a vida é só alegria e nem há em suas mentes puras, inocentes, o ontem e o amanhã, mas somente o hoje, o agora, a alegria! E é certo, também, que a alma dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria! O problema sempre foi procurar alguém para envelhecer juntos, quando o verdadeiro segredo está em achar alguém com quem possamos ser crianças para sempre! Voltei a ser criança no sentido alegre da vida e por isso gosto de escrever crônicas contando os casos dos tempos da infância e da juventude. Viver é ter histórias para contar. E tenho muitas ainda para contar... Cada dia que virá será um renovar de alegrias junto aos entes queridos, amigos e leitores e com os quais compartilho a alegria de viver.

Que Deus me mantenha assim até a finitude, com alegria e sobretudo riqueza em generosidade para com os demais, dos jovens aos idosos, como disse antes e especialmente com a mesma gratidão de sempre aos pais, mestres, amigos e familiares que nos fizeram assim como somos.

Obrigado aos amigos pelas inúmeras manifestações de carinho, especialmente aos nossos leitores. 

Amém!  

 

Brasília, 19 de maio de 2024

 

Paulo das Lavras.



 Uma trajetória de vida.... aos três anos  


 
aos 11 anos 


 aos 12, seminarista em Itaúna-MG  


aos 70 ainda na labuta diária  de  oito a dez horas de trabalho


Quero chegar aos 90 ou 100 (igual a meu pai que viveu até os 101 anos), 

com a mesma alegria e disposição, como nesta foto aos 72 



e a mesma garra e veemência, aos 78, como no podcast de março de 2024.



... e a tranquilidade, firmeza e não menos entusiasmo às véspera do aniversário

  de 79 anos, ...


... quando defendeu a preservação do paisagismo de Brasília,

na Assembleia Legislativa do DF, em 04/04/2024.

 


A Universidade de Pittsburg, na Pensilvânia, afirma que “caminhar é

 lembrar”  e proporciona melhoras neurológicas, diminuindo

 os riscos de dedenvolvimento  doenças como o Alzheimer. Como nesta foto de Pittsburg, nas minhas caminhadas de 5 km, renovo as energias e as conexões neurológicas. Que venham 10 ou mais anos!

Fontehttp://www.cuidardeidosos.com.br/caminhar-pode-ajudar-a-prevenir-demencia/

  



 

... caminhar, digitar... e escrever livros técnicos e crônicas,  paixão

que nunca se acaba no “menino”. Quem sonha nunca morrerá, pois ao tombar terá caído

durante o mais puro e doce sonho de realização..., de Vida, como bem disse o poeta e filósofo Rubem Alves: “quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente, mas morrerá em pleno voo”.

 


80?  Ora que venham mais anos e que Deus nos dê a alegria, saúde, sonhos  e entusiasmo como no vídeo abaixo, de 04/04/2024:

https://www.facebook.com/pauloroberto.dasilva.39/videos/392271227069021