A rede
Ferroviária Sul Mineira foi inaugurada em 19...
(post em construção...)
A rede
Ferroviária Sul Mineira foi inaugurada em 19...
(post em construção...)
Não!
Definitivamente não é uma mania de agrônomos como se poderia imaginar e nem são
as poinsétias vermelhas tão comuns na época de Natal... Seria mais adequado
dizer que é um costume bem antigo e que nossas mães sempre cultuaram e dela
herdamos esse saudável hábito de gostar das flores em casa. Talvez pela origem rural, quando as cidades
eram ainda pequenas vilas, ao redor das quais ficavam as propriedades rurais
com todas as suas atividades agrícolas de plantio de cereais e o gado pastando
nos verdes campos. É sabido que o verde, com grandes espaços livres e a beleza
das cores das flores, tem efeito terapêutico sobre nossas mentes. O homem não foi criado para viver confinado e
nossa ancestralidade está ligada à lida no campo, a agricultura, caça e
pesca..., a Natureza no seu mais puro conceito. A mudança desse saudável hábito
para o meio urbano de hoje, concentrado em arranha-céus com minúsculos
apartamentos, como gaiolas suspensas de onde não se pode dar um passo além da
porta da sala, tem causado elevado nível de estresse mental nas pessoas.
Ninguém gosta de viver enclausurado entre quatro paredes e ainda mais nas
alturas, literalmente. Nesse sentido, a saudade da Natureza, dos espaços verdes,
fez com que as pessoas trouxessem para dentro de suas casas as plantas e até
mesmo pequenos animais de estimação.
O efeito
terapêutico das plantas em casa é notório e tem despertado os especialistas
para estudos e pesquisas nessa área. A ciência já demonstrou que elas promovem
o bem-estar mental, baixando o estresse, reduzindo a depressão, recupera o foco
da vida, melhora o desempenho cognitivo e o humor das pessoas, além de aumentar
a autoestima e a sociabilidade. Não é pouco, e tudo isso, como dito, comprovado
por pesquisas científicas. Os estudos realizados em todo o mundo demonstram
esses efeitos das plantas em ambientes domésticos e até mesmo em quartos de
hospitais. Os hormônios do estresse (cortisóis) se reduzem sensivelmente,
diminuindo a fadiga, irritabilidade e pressão arterial, pois a presença das
plantas aumenta os níveis da serotonina, o hormônio da alegria, do humor.
Concluíram os cientistas que cuidar das plantas aumenta a concentração da mente
naquele momento, trazendo sentimento de realização em vez de ficarmos remoendo
as preocupações cotidianas. É assim
quando, por exemplo, regamos a planta ou colocamos algumas gotinhas de adubo,
ou ainda a removemos uma folha seca ou simplesmente assistimos o despontar de
um novo broto e por último, sentir o cheiro das plantinhas aromáticas e talvez
o mais emocionante, o desabrochar das flores. Aprendemos até mesmo quantos dias
dura uma determinada flor, de tanto que dela cuidamos. Isto sem contar a
presença de pássaros como o beija-flor que vem enfeitar as janelas, onde
costumamos colocar nossas plantas ornamentais. Há, é verdade, os pássaros
predadores como os periquitos, maritacas e papagaios que tudo destroem por onde
passam. Mas ainda assim nos alegramos e até recordamos da passagem bíblica que
diz: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em
celeiros; e vosso Pai celestial as alimentam”. Tudo é alegria, bálsamo para a
alma.
Dizem os
especialistas que uma única plantinha já faz grande diferença e é suficiente
para “mexer” com a nossa mente, pois desperta-nos o interesse de dela cuidar. E
então começa o ciclo virtuoso..., os cuidados geram desenvolvimento da
plantinha, vemos e sentimos esse desenvolvimento, o cheiro, as cores das
maravilhosas das flores, a presença de insetos e pássaros e tudo isso cria uma sensação positiva do
humor a cada interação e a cada lembrança que nos aflora, geralmente da
infância alegre, feliz. Alguém me presenteou com um vasinho de alecrim
perfumado. Está em destaque na jardineira de meu quarto. A cada manhã que abro
a janela contemplo o seu esplendor, retiro uma pequena folha filamentosa,
macero-a entre os dedo e sinto o seu aroma inebriante. Dispara o gatilho das
sinapse neurológicas e as imagens da infância afloram, com as reminiscências de
minha mãe na fazenda, com seu enorme forno à lenha, varrendo com vassoura de
alecrim as brasas, amontoando-as no canto circular do forno e o cheiro que
exalava do alecrim queimado pelas brasas se espalhava por todo o ambiente. Ao final,
os biscoitos de polvilho e as pamonhas de milho, enroladas em folhas de
bananeira, ficavam também impregnadas pelo aroma do alecrim. Ah... que saudade!
A mente entra em doces recordações de puro amor e como dizem e comprovaram os
cientistas, a serotonina se derrama generosamente e o dia começa com alegria e de
início a retribuição à plantinha com a rega matinal para enfrentar o sol forte
do planalto central. Deus é sábio. Criou o Homem para viver no paraíso... a
Natureza!
Cuide de uma
plantinha em sua casa, apartamento, escritório ou onde quer que seja. Leve uma
também, de presente, quando for visitar um amigo, até mesmo num quarto de
hospital, pois ali, seu efeito terapêutico sobre o paciente será maior do que o
causado em você, pois ele a contemplará
24 horas e notará mais facilmente sua beleza e a grandiosidade da
Natureza.
Ah..., em
tempo, sou agrônomo, paisagista, mas não tenho produção e nem comercializo
flores, apenas gosto de compartilhar com os amigos essas maravilhas da
Natureza... e sempre recomendo: Sejamos gratos à Natureza, pois o Solo nos
alimenta na vida e nos acolhe na morte e as flores enfeitam e alegram nossa
alma. E literalmente as flores enfeitaram a minha vida inteira, por isso as
cultivo com amor.
Brasília, 24
de dezembro de 2023
Dá para acreditar que, com esse
histórico floreado e florado desde o nascimento, passando por toda a vida,
literalmente, o menino não seria apaixonado pelas flores e deixaria de comprar
a tradicional poinsétia vermelha, de Natal?
Sonho que se
sonha só,
é só um sonho que se sonha só,
Mas sonho que se
sonha junto é realidade.
(Raul Seixas- “Prelúdio”)
O curto poema em epígrafe,
escrito por um cantor popular, revela toda a essência de um sonho. Se sonhamos
sós ou então em conjunto, compartilhando os desejos e planos para a vida, faz
toda a diferença, E os sonhos planejados são ainda mais factíveis quando
acontecem em parceria. Já os sonhos
oníricos quase sempre revelam situações ainda não resolvidas, armazenadas,
escondidas nos escaninhos da alma e que afloram de vez em quando. Estes, por se
tratar de eventos que fogem ao nosso controle quase sempre nos intrigam e neles
a questão tempo e espaço se confunde, numa mistura de eventos distantes tanto
no tempo como no espaço físico. Há quem diga que na alma não há espaço e tempo
distintos medidos como comumente o fazemos. É possível medir as distâncias em
metros ou em quilômetros, mas, no fundo do coração, tempo e distâncias são
iguais. Estão distantes e próximos! Veja que pérola de declaração. “Às
vezes, recordo um episódio com uma pessoas específica em minha terra natal e,
quando algo parecido acontece aqui, bem distante, sinto que vivo em toda parte”,
disse Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que vive em exílio dourado na
cidade Eterna de Roma. Acrescento, ainda, que isto também acontece com as
coisas materiais. Uma ponte em arco ou uma bela torre metálica avistada por
aqui, me remetem a distantes lugares como Paris ou Nova York, relembrando-me
aqueles passeios que um dia fiz por lá. Mas, sem dúvida as lembranças de
pessoas queridas nos levam até elas, onde quer que estejam. Por isso se diz que
não há tempo nem espaço nas lembranças em nossa alma. O coração não se engana e não mente
nunca com aquilo que amamos. O príncipe dos poetas, Guilherme de Almeida assim
se expressou:
Tudo muda, tudo passa
Neste mundo de ilusão;
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
Mas sempre, sem que te iludas,
Cantando num mesmo tom,
Só tu, coração, não mudas,
Porque és puro e porque és bom!
Tempo e espaço são iguais no fundo do nosso
coração..., e quer saber? São mesmo! E tem mais, com o passar do tempo as
alegrias aumentam e isso nos faz esquecer que o tempo passou. Não me sinto
velho, naquela acepção de cansado, triste, sem sonhos, apenas aguardando a
finitude de meus dias. Nada disso. Nas vezes que penso na idade, ela me parece
errada, falsa. Não pode ser..., penso,
eu com essa idade? Isso tudo? Dou uma boa gargalhada e, do fundo do
coração, digo para mim mesmo..., não é possível..., sinto-me como uma criança
que adora a vida, a alegria de viver e sempre compartilhando a vida com os
amigos por meio de minhas crônicas! Só alegria? Até parece criança que só pensa
no “hoje, o agora”. Mas não estou só, pois outro poeta e filósofo, que foi professor em minha cidade, Rubem
Alves ( 1933- 2014), assim escreveu:
As almas dos velhos e
das crianças brincam no mesmo tempo.
As crianças ainda sabem aquilo que os velhos
esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada
serve, a não ser para a alegria!
E assim vou levando a vida onde vivo, enganando a saudade,
sem pensar no tempo e no espaço que me separam da infância e juventude que são
caros a todos. Ah..., ainda tem o tempo de professor universitário, ensinando
aos jovens. Talvez daí decorra o fato de sempre pensar que somos iguais a eles,
jovens, que têm que aprender uma profissão e pensar no futuro. Vício de
professor. Para mim, tempo e
distâncias são mesmo iguais e o coração não se engana, como dizem os poetas:
Tudo muda, tudo passa, neste mundo de ilusão; Vai para o céu
a fumaça, fica na terra o carvão... e mais, as almas dos velhos e das crianças
brincam no mesmo tempo. As crianças
sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é
brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!
E os sonhos fazem parte da Vida..., Sempre! E hoje, nesta data, vou me tornar criança no show de Paul McCartney. É dia de recordar daquela cartinha, em inglês, que recebi de uma amiga da Dinamarca, de apenas 16 anos, em abril de abril de1963. Na cartinha, com desenho feito por ela, à bico de pena, mostrava uns caras cabeludos com guitarras e outros instrumentos, com a legenda “The Beatles”, aqueles quatro meninos que saíram de Liverpool e foram tentar a sorte em Hannover na Alemanha, onde ela, a garotinha dinamarquesa, fora assistir seus shows. Voltou ensandecida com o estilo dos garotos de Liverpool. Eu morria de inveja dela que, a toda hora atravessava o canal da Mancha e ia assistir a seus shows, já com o sucesso estrondoso daquele conjunto de rock na Europa. Aqui no Brasil o sucesso deles só começou alguns anos depois e em 1968, minhas noites solitárias em BH, eram embaladas ao som das rádio Atalaia de BH e a famosa Rádio Mundial do Rio de Janeiro, em meu não menos icônico radinho de pilha e fone de ouvidos, da marca Mitsubishi. Só tocavam músicas dos Beatles, Hey Jude, Obladi, obla da, Imagine, Yesterday do vocalista destaque da banda e tantas outras.
Ah... Rubem Alves explicou... os velhos se
tornam crianças... e, literalmente me tornei assim em 2014 quando fiquei mais
de seis horas no show de Sir Paul McCartney, no Estádio Nacional de Brasília...
E hoje tem... já “estou” criança de novo!
Brasília, 30 de novembro de 2023
Paulo das Lavras
O Professor é
o berço de todas as profissões, frase lapidada por um educador e que reflete
com profundidade o papel que eles representam em nossas vidas. Desde o primeiro
dia de aula, já durante a alfabetização,
estabelece-se um vínculo de confiança entre o aluno e seu professor. Na adolescência
eles nos inspiraram e plantaram a semente da busca do saber, o amor à ciência,
ao conhecimento que nos liberta dos tabus e nos tornam livres. O Professor é um
agente transformador e hoje, mesmo decorridos mais de 70 anos depois do
primeiro dia em sala de aula, somos capazes de nos lembrar da alegria do
aprender a ler e do sorriso da professora ao ver nossos progressos. O gosto
pela leitura e as ciências foram sendo incentivados e, ao final, chegamos a um nível
desenvolvimento suficiente para a escolha da profissão e sempre com os
professores nos orientando. Era, e ainda hoje é notável a dedicação dos
mestres, pura devoção em prol de seus alunos. Foram e são agentes de
transformação na vida de seus alunos,
todos nós, sem exceção.
Hoje, 15 de
Outubro, é o dia de comemoração, de celebração aos Professores. Não há como não
se recordar de alguns deles que além de detentores de esmerado e avançado
conhecimento, nos marcaram de forma particular, exercendo forte influência na
moldagem de nosso caráter, nossa vida. Nos educaram com arte, paciência,
dedicação e amor acima de tudo e quando lhe perguntávamos o que seriam, caso
não fossem professores, a resposta era uma só: PROFESSOR ! Nunca se arrependiam,
embora nem sempre tivessem o reconhecimento e valorização profissional que
mereciam. Sentem-se gratificados quando veem o sucesso profissional de seus
ex-alunos. E essa era a única recompensa que esperavam e que também reflete seu
próprio sucesso como educador.
Orgulho de ser
Professor. Salve o Professor neste seu dia especial, hoje e sempre!
Brasília, 15
de outubro de 2023
Paulo das
Lavras
Não importa que tivésemos 3, 9 ou 11anos. Ainda éramos
crianças... E depois, adulto de 25 anos, na flor da idade e mais tarde na
adultice dos 70 ou mais... ainda somos e permanecemos eternas crianças. E neste 12 de Outubro celebra-se o Dia da Criança, quando se comemora a infância, que é a etapa mais importante do
desenvolvimento físico e intelectual da criança. Elas são livres, almas puras
que tentam voar, não ficar de canto, amarradas ou limitadas a espaços e ações
cerceadas, completa o escritor e filósofo.
As almas dos velhos e das crianças brincam
no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm
de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para
a alegria!
As redes sociais estão cheias de
mensagens otimistas dos amigos cinquentões ou setentões e todos celebram a
infância, ou melhor o tempo feliz de sua própria infância com doces
recordações. Quer alegria maior que recordar os tempos da infância? Nós vemos
o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si
e essas belezas nasceram e prosperaram na infância.
Criança feliz...,
adulto feliz e se o adulto tem prazer em recordar e contar as alegrias da
infância, com certeza ele foi uma criança feliz! E o menino parece que gostava
de gravata desde os 9 anos e a usou durante toda a vida profissional e sempre a
cantar a infância guardada nos escaninhos da alma
Vivam as crianças! Bençãos
de Deus em nossas vidas. Saúde para aqueles que, já na adultice, tomam chá de criança e vivem alegres como
elas.
Brasília, 12 de outubro de 2023
412.067 visualizações neste blog até 11/06//2024- estatísticas do blogge
O meu primeiro amor- Renato e seus Blue Caps:
Demorei, mas encontrei
O meu primeiro amor.
Para mim tudo na vida
Agora tem valor...
O meu primeiro amor,
Que eu tanto quis, enfim
Chegou pra mim - o amor...
Como é bom a gente ter
Na vida alguém pra amar.
Tudo agora é tão lindo,
Eu vivo a cantar...
Foi só no primeiro olhar e eu
senti, então
Senti, então, bateu forte como nunca o meu coração...
O meu primeiro amor!...
Ricardo sempre
foi um menino certinho, como era normal nos anos 50 a 60 e,
tal qual na música de 1965, dos Beatles, You Gonna Lose That Girl,
versão cantada por Renato e seus Blue Caps, com a letra na íntegra, acima,
demorou para encontrar o seu primeiro amor, pois foi seminarista, ainda que
apenas por um ano só. Mas não demorou nem tanto assim, pois foi ali, naquela
ampla varanda da casa da fazenda de uma tia, que sentiu pela primeira vez o
bafejo do amor, o coração palpitar a mil por minuto, por amor de uma linda
menina, vitória e glória de sua vida pelos próximos anos.
A educação em um Seminário, com seu regime enclausurado, monástico, é um regime bastante triste, para se dizer o mínimo. Era assim nos anos 50 do século passado. Não era maneira de se formar homens sociais, com certeza! Tolhe, inibe, coíbe todas as manifestações espontâneas da alma, a imaginação e o desenvolvimento afetuoso do coração dos meninos. Aquele devotismo austero, rígido e os rituais eclesiásticos cultuados 24 horas ao dia com liturgias, sermões, cânticos gregorianos, missas e leituras infindáveis do breviário em latim, em constante oração, não deixavam espaço e tempo para nada mais do que o culto à vocação e o aprendizado litúrgico e teológico. Os meninos não eram preparados para enfrentar a vida, mas apenas para serem os pregadores de doutrinas e conhecedores das raízes teológicas. Doutrinas e dogmas que, ao mesmo tempo,lhes cerceavam o direito de viver em sociedade, tornando-os inábeis para o convívio com pessoas normais que trabalham, se divertem, constituem família, praticam esportes, tiram férias e, enfim, levam a vida com normalidade, com erros e acertos comuns a todos os seus semelhantes. Os clérigos constituem-se em castas, de regime de vida fechado, isolado da vida real, lutando contra as manifestações do corpo e da alma. Aqueles que passam alguns anos reclusos em seminários e desistem de seguir a carreira eclesiástica, apresentam problemas quando voltam para casa. Quanto mais tempo no seminário, maior o problema de reajuste à vida social. Por mais inteligentes e instruídos que sejam, passam por dificuldades quando em sociedade. Ficam inibidos, retraídos ao extremo e, pior, se porventura têm natureza tímida ficarão assim para sempre.
Ricardo foi
para o Seminário ainda menino, aos 12 anos, por única e exclusiva vontade própria.
Ninguém lhe sugeriu e tampouco o obrigou, mas, mesmo assim lá ficou apenas um
ano e voltou definitivamente para casa. Não tolerou a clausura e o freio que
lhe foram impostos, embora até apreciasse a rotina litúrgica com seus cânticos em
latim, as aulas de piano e o domínio da voz no coral ensaiado diariamente no
horário de recreio. Clausura, freio psicológico e ausência dos entes queridos
não são coisas facilmente toleráveis. Ficar preso entre quatro paredes, em meio
a dezenas de colegas, em absoluto silêncio, amarrado aos estudos e à oração,
era de fato uma tortura para o menino de 12 ou 13 anos acostumado que foi à
liberdade, seja na cidade ou na fazenda onde passava férias.
Além da clausura, Ricardo se
digladiava com sua própria consciência que se recusava a aceitar certos dogmas
da igreja. As respostas dos padres para essas questões mais espinhosas nunca
eram convincentes. Um deles respondeu-lhe de pronto: “O povo gosta de circo”. A
pergunta se referia ao culto de imagens e certos ritos religiosos,
indagando-lhe, qual a razão de haver procissões com imagens de barro carregadas
em andores e encenações de crucificação se o nosso Deus é Espírito e quer
apenas a felicidade de seu povo e não o sofrimento? “O povo gosta de circo”... e Ricardo se calou,
porém não concordou e contou mais tarde aos amigos que havia pensado em
responder ao padre, dizendo-lhe que não se pode fazer o povo de escravo da
ignorância. Era preciso instruir o povo, explicando melhor sobre a
espiritualidade de Deus e não transforma-lo em imagem de barro e colocar um
cofre a seus pés para oferendas de promessas e graças supostamente alcançadas
por “intercessão” de intermediários divinos, os santos de devoção de cada fiel.
Ricardo pensava tudo consigo próprio e suas meditações eram verdadeiras orações
dirigidas diretamente ao Criador. Contou aos amigos, anos depois, que aquele
frustrante diálogo se passara em abril, durante a Semana Santa e se porventura
tivesse replicado à resposta imbecil daquele padre teria sido expulso no ato.
Mas,
o garoto, adolescente abandonou o Seminário logo no final do primeiro ano
letivo. De volta à casa, passou os primeiros meses inibido, cansado de dar
explicações aos familiares e amigos que se surpreendiam com sua presença na
cidade já no período aulas. Passou por momentos difíceis com a sua própria
alma, sua vida. Aos poucos foi se libertando daquele “problema” de ter deixado
o seminário, contrariando certos dogmas da igreja e abandonado o desejo de ser
padre, pastor de almas e ainda ter que dar explicações para todo mundo. Afinal,
lá ficou um ano só, o suficiente para renegar o estilo de vida monástica e
conhecer certas hipocrisias de alguns religiosos que pregavam algo e agiam de
outra forma. Pesou muito aquela posição de ironia e culto à ignorância dos
fiéis, quando lhe responderam que o povo gosta de circo. Ora, as coisas de Deus
não podem ser tratadas como circo ou diversão. A alma é sublime., grandiosa e
reflete a presença de Deus.
Pouco mais de
um ano se passou e as férias escolares chegaram. Como era costume no interior,
com famílias conservadoras, aos meninos era permitido passar férias na casa de
parentes, geralmente nas fazendas de tios ou mesmo em outras cidades. Ricardo,
já recomposto e integrado ao seu meio,
embora ainda com algumas reservas, foi passar as férias na fazenda Vista
Alegre, pertencente a uma de suas inúmeras tias, situada bem próxima fazenda de
seus pais. Lugar conhecido, casa grande, bonita e ampla vista para as distantes
montanhas, gado, cavalos para passeios, era tudo que Ricardo queria...,
descansar, desfrutar do bucólico lugar e meditar sobre a nova vida que se
iniciava.
O tio levava semanalmente revistas e livros de bolso de histórias de far-west. Não era bem o estilo de leitura de Ricardo que estava acostumado aos clássicos, mas acabou gostando de O Coyote, escrito por J. Malorqui, um seriado mensal de umas 100 páginas em formato de livro de bolso, com histórias da resistência dos hispânicos à conquista americana da Califórnia. As leituras desse estilo literário serviam-lhe para atenuar o turbilhão de conflitos religiosos que ainda povoavam sua mente.
Mas,
tudo isso, as cavalgadas, os passeios pelas matinhas e ribeirões e até a
leitura do Coyote, desapareceu como num passe de mágica desde o dia em que
chegou à fazenda a linda menina, Glória Augusta, irmã de coração de Tibério, o
marido de sua tia Ivana. Ricardo ficou desconcertado com a menina de seus 14
anos e simpatia sem igual. Cabelos longos, sedosos e sorriso maravilhoso, foi
logo flechando o menino inexperiente nessas questões do coração. Como na letra
da versão de Renato e seus Blues Caps, o menino Ricardo assim se sentiu:
“Foi só no
primeiro olhar e eu senti, então, senti, então..., bateu forte como nunca o meu
coração...., encontrei o meu primeiro amor! Para mim, tudo na vida agora tem
mais valor, tudo é tão lindo e eu vivo a cantar!”
Motivos não faltaram a Ricardo para se sentir daquela maneira, pois, além
de tudo, a linda menina, Glória, revelou-se
muito culta, polida e estudava no melhor colégio interno da cidade. Irradiava alegria com seu
belo sorriso. Coincidentemente, viera também usufruir da hospitalidade e
belezas da fazenda Vista Alegre. Mas, imediatamente alguém percebeu o “clima”, foi a tia Ivana, que fez o maior gosto naquele
despertar juvenil para o amor.
Os
dias se passavam, passeios juntos pelo pomar em busca de frutas, o moinho de
fubá, a usina de produção de energia elétrica com um pequeno gerador movido
pela água represada acima, os passeios a cavalo, tudo agora lhe parecia encanto ao lado da
formosa donzela. Em menos de uma semana Ricardo entrara definitivamente no
“paraíso”, das paixões recíprocas, talvez pelo elo comum de que ambos passaram
por experiências quase idênticas, o internato. Ela com menor rigidez, pois no
seu internato colegial lhe era permitido passar alguns fins de semana com
parentes, na cidade ou na fazenda de seus pais. Mas, nos primeiros dias a
aproximação, ou melhor, a revelação dos sentimentos mútuos foi bem difícil.
Olhares de soslaio, sempre temerosos da reprovação da tia que a tudo estava
atenta e, principalmente a inibição própria dos adolescentes. Como iniciar uma conversa?
O que dizer? Como se expressar? A grande emoção do primeiro amor lançou uma
nuvem sobre a alma do menino e mais, com o coração disparado faltava-lhe fôlego
para falar. Falar o que se a língua ficou paralisada, travada, engasgada mesmo.
Dia seguinte, ainda meio mudos em relação aos sentimentos, estavam os dois na
varanda coberta da casa da fazenda conversando amenidades de colégio,
professores e colegas, quando Glória, sorridente e com ar provocador, correu
para o canto da varanda. Ricardo levantou-se, correu atrás e a encantoou entre
a parede e o guarda corpo da varanda em ângulo de 90º, cercando-a
com os braços abertos. Surpreendentemente ela o abraçou, com olhar mudo e o
primeiro beijo aconteceu espontaneamente, apenas o roçar dos lábios, puro, e
por um átimo de tempo, mas o bastante para marcá-los como “eternos” apaixonados.
Refeitos do “susto”, trataram de se afastar um pouco, até por medo de que a tia
os vissem. Mudos estiveram antes e durante aquele enlace espontâneo. Parecia
que o mundo desabou, tal a intensidade dos sentimentos. Nenhuma palavra foi
dita. Já assentados nas cadeiras de balanço da varanda, cada qual imergiu em
profunda meditação, imaginando o quão lindo era aquele estado de paixão da alma. Como era lindo o amor. Com o coração a mil, Ricardo caiu na real e deu graças a
Deus por aquele belo e puro sentimento de amor. Adeus seminário, aliás, adeus
às lembranças daquele tempo de clausura, adeus a rezar e fazer penitências
diárias com promessas de futura carreira ,sacerdotal... Tudo
fugiu de repente, desapareceu da mente do menino adolescente, pois a paixão pela
linda, meiga e sorridente menina foi maior que tudo e prometia um futuro só de
alegrias e amor. Que benção, tudo diferente e infinitamente melhor, pois o amor
compartilhado reforça os sentimentos da alma que se une a outra e nunca mais se
sentirá só ou aprisionada O amor liberta e o poeta Renato Barros bem
disse em sua canção acima: ... Para mim, tudo na vida agora tem mais valor, tudo é
tão lindo e eu vivo a cantar!”.
Ninguém dormiu naquela noite, tal a excitação da alma. Nem Ricardo, nem a menina Glória que, dia seguinte lhe dissera isso entre risos de alegria. Aliás, o dia seguinte foi a vez de ambos falarem. Ricardo, sentiu-se livre contou as agruras que passara no Seminário, mas que tudo se evaporara na tarde daquele memorável dia anterior. Desapareceram por completo aquelas lembranças dos tempos de solitário internato. Agora, já de mãos dadas, ali na mesma varanda onde tudo se iniciou, sentia-se leve, solto, flutuando. Glória contou-lhe sobre a rotina de seu internato, comandado por religiosas norte-americanas com disciplina bem rígida e sem nenhum contato com rapazes. Tinham permissão apenas para ficarem, nas noites de sábado, debruçadas sobre a mureta que separava o colégio em dois níveis, com a calçada da principal praça da cidade um pouco mais baixa. Morriam de inveja dos casais de namorados e muitos outros rapazes e moças que faziam footing. Apenas olhavam de longe sob supervisão das missionárias. Nenhum rapaz ousava se aproximar daquela calçada e se dirigir às meninas, mas mesmo assim Glória fez Ricardo prometer que todos os sábados fosse vê-la, ali naquela mureta, ainda que distante, pelo outro lado da rua e sem se aproximar da mureta. Fizeram juras de amor e trataram de achar uma forma de dizer à tia Ivana e pedir-lhe para que não deixasse Tibério saber do romance. Temiam que ele não aprovasse e os mandassem de volta, cada qual para a casa de seus pais. Nunca soubemos se ela contou ao marido, pois o importante era que ela, a tia, vibrou com o romance de seus queridos adolescentes, relembrando-lhe sua própria juventude. Também ele, o tio apreciador de contos do velho Oeste, nunca presenciou qualquer situação que pudesse denunciar a proximidade dos jovens apaixonados.
Ricardo, o
seminarista até os 13 anos e tanto, tinha 15 ao iniciar o namoro com a menina
Glória de 14 anos. Trocaram juras de amor e se encontravam nas férias escolares
do meio do ano e nas de dezembro a fevereiro, sempre na fazenda dos tios onde
tudo começou. Costumavam passear a cavalo, com os tios até a fazenda de seus
pais, numa cavalgada de uma légua. Era
divertido passar ali alguns dias, onde também se reuniam os primos e até mesmo
algumas colegas de internato de Glória. Difícil era suportar os olhares das
amiguinhas que ainda não tinham tido um amor para curtir. Mais difícil ainda
era guardar segredo de modo que os pais da menina de nada soubessem. Ricardo
era muito benquisto e por isso não despertava suspeita alguma. A fazenda dos
pais de Glória era bem maior, com ampla produção de café e leite, com fábrica
de laticínios que produzia os melhores queijos da região, exportados para o Rio
de Janeiro, maior consumidor desses famosos produtos do sul de Minas.
O
romance do menino ex-seminarista durou quase três anos. Terminaram o namoro nas
férias de um fim de ano. Ricardo temia a reação dos parentes, especialmente de
Tibério que estava sempre atento e rigoroso como era, jamais admitiria que algo pudesse acontecer com aquela jovem hóspede de sua fazenda. As famílias eram muito ciosas naqueles anos
50/60 e o namoro, para os padrões patriarcais de então, somente era permitido
quando os jovens já tinham planos e condições para se casar. Muito cedo ainda
para os jovens de 16/17 anos. A última vez que Ricardo viu sua adorada e bonita
Glória Augusta, foi em março de 1964, já algum tempo depois de terem terminado o namoro.
Participava do trote de calouros da faculdade, os quais eram obrigados a
desfilar de tanga e ligeiramente alcoolizados, ao longo da mureta que separa o
colégio da praça principal da cidade. Todas as demais 200 meninas do internato
ali estavam, debruçadas a contemplar aquele bizarro desfile de calouros da
faculdade. Glória lá estava e sabia a quem deveria procurar com os olhos entre
os calouros fantasiados e em plena algazarra semi-etílica. Felizmente ela não
viu aquele com o qual dividiu seu coração por bastante tempo e que ali estava e
nunca mais o vira. Ricardo portava um
grande cocar de penas coloridas e tinha a cara pintada de vermelho e preto. Ao
avistar Glória, a linda menina que foi a vitória augusta de sua vida, bem ali,
a um metro acima de seu colorido cocar indígena e cercada pelas colegas por sobre a mureta assistindo ao ridículo espetáculo, o rapaz bastante
envergonhado cobriu o rosto pintado com o lenço que estava dependurado em sua
lança indígena simbolizando uma bandeira de guerra ou competição. A flecha que
flechou seu coração não existia mais, quebrou-se para sempre. Passou-lhe pela
mente aturdida um misto de alegria e tristeza, sem ainda entender os desígnios do destino. Ricardo nunca mais viu a menina Glória, que, no ano seguinte
concluiu os estudos, deixou o internato, casou-se e foi cuidar de negócios da
família numa cidade vizinha, disse-lhe sua tia Ivana muito tempo depois. Ricardo
também se casou e constituiu família.
Sufocada a paixão ainda latente no peito, outras preocupações ocupariam a mente do menino. Já adulto, na universidade, era hora de priorizar seus projetos profissionais, mas as lembranças de Glória lhe traziam satisfação, pois aquele amor, puro, quase pueril, serviu-lhe para apaziguar a alma angustiada que muito lhe incomodava antes de conhecê-la. A dúvida estava sempre a martelar sua mente. Aquela drástica decisão de abandonar o Seminário. Teria sido correta? Não deveria ter se proposto a realinhar suas críticas aos dogmas eclesiais? Mas, a dura rotina clériga e enclausurada e principalmente as suas “desavenças”, nos mais profundos escaninhos da alma, o deixaram confuso, introvertido, diante de uma sociedade que tudo lhe inquiria e queria saber. Teria agido certo, sufocar aquela vocação de pastor de almas? Por que tantos lhe cobravam explicações? Teria sido algo muito errado? Mas, Deus, zeloso para com seus filhos puros de coração, cuidou de mandar-lhe um consolo para o coração ferido. A encantadora menina Glória, com sua meiguice d´alma, simpatia e beleza natural, dedicou-lhe afeto e assim, indiretamente, o fez compreender que a vida é amor e que há caminhos distintos para ser feliz. Ricardo nem entendera muito bem o quão auspicioso foi para a sua alma a presença de Glória Augusta. Ela lhe trouxera confiança, paz, amor pela vida sofrida diante da emblemática e dolorosa decisão que tivera que tomar, abandonando a vocação sacerdotal. Gostava de dizer, tempos depois, que o sacerdote, ou pastor, alimenta a alma das pessoas e ele, Ricardo, não conseguiu ser um pastor de almas para a seara do Senhor, como desejava aos 12 anos, mas tornou-se produtor de alimentos e assim, na seara dos campos das terras do Senhor, produziu alimentos que nutriram, não a alma, mas os corpos que são o sacrário da alma. Há lugar para todos que praticam o bem. Deus foi misericordioso demais para com o menino que tomou importantes decisões desde os 12 anos de idade. Enfrentou a solidão e o isolamento em clausura, longe dos amiguinhos e da família, enfrentou dilemas dogmáticos na religião e sofreu cobranças de todos por esses atos. A presença de Glória Augusta, que inesperadamente chegou para ocupar seu coração, foi um bálsamo para a sua alma sofrida.
Ricardo,
sempre foi grato a Deus por lhe conduzir nos caminhos certos da vida e afirmava
isto com frequência aos amigos. Para ele, a estada no Seminário se por um lado
foi dura, cheia de solidão e dilemas religiosos, por outro moldou-lhe o caráter
na retidão, iniciando-o na arte da meditação, como decorrência dos momentos de
solidão quase sempre devotados à oração a Deus. Ali, pôde também cultivar e
esmerar o aprendizado das artes, da cultura, das letras e muitos idiomas
estrangeiros, além das músicas clássicas e cânticos gregorianas, num ambiente
de respeito, de estudos e muita fé, que nunca lhe deixava tempo e espaço para
os maus pensamentos. Sua volta para casa foi seguida de questionamentos e
colocada em dúvida por todos e às vezes vacilava em relação à drástica decisão
tomada por conta própria. Mas, em meio a esse turbilhão de dúvidas que lhe
ocupavam a mente, apareceu Glória Augusta que por três anos ajudou-lhe a
compreender que havia outros caminhos para a vida, lindos, e que mereciam viver
a cantar com a alma repleta de alegrias. Seus tios, Ivana e Tibério, sem querer
e sem saber, abriram-lhe a janela descortinando a nova vida para o coração do
menino em puro e doce amor juvenil. Deus estava presente.
Certamente foi assim, pois, Ricardo embora nunca
mais tivera visto Glória Augusta, contava essa história até o dia de sua partida final, em paz!
Brasília, 29
de setembro de 2023
Paulo das Lavras