Nem preconceito, nem choque. Professor desde os dezesseis anos, aprendi a conviver com alunos de 15 a 70 anos. Sou da geração baby- boomer, aquela nascida entre 1945 e 64, ou seja a geração, do período do pós-guerra, quando a humanidade se deparou com grandes avanços tecnológicos, mudanças políticas e viu o homem ir a lua, presenciou o início das lutas pelos direitos humanos e a liberação da mulher (Twiggi de minissaia e outras ativistas como Betty Friedan que queimou o sutiã em praça pública). Foi a época da explosão demográfica do pós guerra, com todas as mudanças pelas quais o mundo passou, incluindo até mesmo o surgimento de novos estilos musicais como o Rock´n´roll, Twist. Ah... suspiram os mais velhos..., quem não viu, vibrou, dançou em festas abrilhantadas pela turma da Jovem Guarda? Wanderlea, Vanderley Cardoso, Carlos Gonzaga, Roberto Carlos e tantos outros em shows na cidade de Lavras? Para quem não sabe, Roberto Carlos, em início de carreira, no ano de 1962, apresentou-se num pequeno circo instalado na Praça Santo Antônio, ali na minha cidade natal, Lavras. Alegria geral da meninada adolescente empolgada com a Jovem Guarda do yeh, yeh, yeh . Bem depois dessa turma do pós-guerra, cujos princípios focavam no intenso trabalho em busca da prosperidade e valorização da família com costumes tradicionais e elevada religiosidade, chegou a nova geração, a Geração X
Acostumei-me
a trabalhar com os jovens e isto levou-me a absorver os seus hábitos e jeito de encarar a realidade.
Conectar-se à diversidade de assuntos dos jovens e perceber seus ideais e então
orientá-los para a vida profissional, mais que o ensino das ciências, era um
desafio ao qual me impus. Costumava dizer a eles, meus alunos, que o mais
inteligente era aquele sabia fazer perguntas desafiadoras ou até mesmo
inusitadas diante de um problema e não aqueles que tinham a resposta da
múltipla escolha do certo, errado, não sei. Ora, se já havia resposta certa,
alguém já havia se debruçado na questão e encontrado a solução. Se já existe
resposta certa, para que, então, uma empresa iria querer um profissional
medíocre que decora as respostas? Não, o mundo corporativo vai atrás de talentos
e os talentosos não se contentam apenas com a decoreba do certo, errado, não
sei. Os talentosos são curiosos, exploram o desconhecido em busca de soluções,
inovadoras, para o problema da empresa que está inserida no mundo corporativo
de grande e acirrada competitividade. Assim, sempre consegui acompanhar a
agitação dos jovens e estar à frente e junto a eles. Nunca apliquei uma prova
de múltipla escolha com o famigerado certo, errado, não sei. Sempre foram
estudos de casos, com consulta à bibliografia, internet e outros meios, com
resolução individual ou em grupos e ainda com orientação do professor.
Trabalhoso? Sim, demais, ler, corrigir, ouvir explanações em grupos...! Mas,
valia a pena, pois estávamos lidando com jovens ávidos pelo saber e ansiosos por
ingressar no competitivo mercado de trabalho, hoje mais voltado para o
empreendedorismo. Todo educador sabe que devemos formar profissionais de nível superior para serem “empregados” e sim
empreendedores. Antigamente, até os anos de 1970, os cursos de graduação
primavam em formar “empregados”, principalmente para o serviço público. Era
comum terminar a graduação e o recém formado já ter o emprego garantido no
serviço público como no caso das ciências agrárias, na EMATER, M. da
Agricultura, Secretarias estaduais e municipais de fomento e pesquisas
agrícolas. Hoje, ao contrário, impera o agronegócio com avançadas tecnologias e
estudos de mercados internos e externos, bem apropriados às gerações Z e Alpha que lidam com a Agricultura 4. 0 e
suas sofisticadas ferramentas de otimização integrada da produção e gestão
agrícola em diferentes estágios, com a precisão de controles remotos, monitorados
por satélites, drones, softwares e outros dispositivos, como também forma de se
trabalhar e gerenciar tudo à distância, no conforto de seu home-office. Assim, não há por que se falar em conflitos de
gerações, sejam elas X , Y,Z ou Alpha. Na minha experiência de mais de 60 (sim,
sessenta) anos de magistério posso afirmar que todo profissional, ou mesmo quem
não se adaptar às novas exigências corporativas está fadado ao esquecimento ou
a mediocridade. O que viria primeiro, o
esquecimento ou a mediocridade? Não sei,
penso que caminham juntos. Minha adaptação às diversas gerações aconteceu
automaticamente, com o convívio diário em sala de aula e foi fantástica pois
vivia e respirava o ar e as inquietações dos jovens que são ágeis, rápidos. A
diferença era que, em sendo mais velho e experiente, sentia-me na obrigação de
incentiva-los a desenvolver sua próprias capacidades intelectuais,
sintonizando-os com os problemas atuais e buscar soluções criativas,
empreendedoras como agentes ativos dessa mudança que está acontecendo a cada
dia.