Havia uma moça debruçada na janela de uma casa
antiga. Era uma moça branca e gorda, os seus cabelos desciam pelos ombros. E
era feia. Diziam que enfraqueceu do juízo, que ficara assim depois de uma
desilusão. Nunca falei com ela. Passava pela sua calçada e a via debruçada,
olhando a rua com olhar distante. A casa era a última
da rua que ainda servia de morada.
Todas as demais foram transformadas em lojas e
farmácias. Era uma casa de dois pavimentos. A moça ficava na janela do chão,
bem perto da rua. Até que um dia ela sumiu.
A janela foi fechada. A casa também fechou as
portas. Mais tarde deixou de ser casa, virou loja de sapatos. E a moça
misteriosa nunca mais foi vista.
Foto e autoria: Tião Lucena -
2019
A
janela foi até
recentemente e desde imemoráveis épocas, a primeira e mais fidedigna fonte de
informações. Dali as pessoas espreitavam o movimento das ruas, de dia, de noite
e de madrugada. Não importava a hora, pois de dia a cortina ou a própria folha
da janela escondia o curioso. De noite, a mesma escuridão que impedia a total
visão da identidade dos transeuntes, protegia também a do bisbilhoteiro por
detrás da janela, a olhar pelas frestas. Aliás, nessa arte de bisbilhotar a vida
alheia, a literatura é farta e nos relembra que o hábito era tão usual e
frequente que se tornava fácil identificar as pessoas mesmo nas mal iluminadas
ruas, pelo simples fato de que já se conheciam os hábitos do andarilho. Sua
silhueta, o modo de andar e o som das botinas e tamancos, ainda que o caminhar
fosse furtivo, pé ante pé, tudo contribuía para a sua identificação. Dia
seguinte todos sabiam o que se passou nas ruas. Era quase uma profissão, a de
fofoqueiros e fofoqueiras que tudo sabiam sobre a vida alheia, principalmente
das escapadas amorosas de cônjuges infiéis ou infelizes. Os pais, muitas vezes,
trancavam e amarravam as tramelas das janelas, principalmente à noite, não
apenas por medo de ladrões, mas também para resguardar a privacidade de sua casa e prole, ou mesmo para esconder da
família suas próprias escapadelas para o bar ou o clube noturno, como faziam aqueles
contumazes frequentadores do Bar Vesúvio, cantado e decantado por Jorge Amado,
em Gabriela Cravo e Canela em terras
baianas cacaueiras de Ilhéus dos anos de 1920. Coisas de antanho, diriam alguns
sobre essa curiosidade na vizinhança ao lado de casa.
Um mouse e a tramela. Ambos travam e destravam janelas, a convencional e a virtual.
A maior janela de bisbilhotice já vista,
no casario de Ilhéus-
Ba, no romance de Jorge Amado
Fotos: 1 e 3 internet . Tramela, casa da fazenda Retiro dos Ipês,
foto do autor -2019
As
janelas de hoje
Adeus bisbilhoteiras das janelas dos tempos das vovós e
de Ilhéus de Jorge Amado, que ficavam à espreita nos vãos das janelas, por
detrás de cortinas ou pelas frestas entreabertas. Porém, nem tanto esse adeus,
pois ainda hoje tem-se o hábito de se olhar pelo “olho mágico” da porta da
sala. Olhou..., não gostou da visita,
não se abre a porta. Mas, atualmente os métodos da bisbilhotice evoluíram, tudo
se fazendo confortavelmente assentado em casa, pela internet, a moderna janela
planetária. Assim, a bisbilhotice que antigamente se restringia à vizinhança
imediata, agora se ampliou para a esfera global, planetária. E pior, não
bastassem os mecanismos eletrônicos disponibilizados para isso, contamos,
infelizmente com novos tipos de gatunos e piratas, os hackers ou ciberpiratas,
especialistas em invadir redes da internet. Por seis vezes em menos de um ano nossas redes
sociais foram invadidas. Um hackers localizado em Nova Mutum- MT, dois em Valparizo
de Goiás e Brasília e outras três mais recentemente. Esses bisbilhoteiros de
hoje são exponencialmente mais perigosos que as fofoqueiras de antanho, das
janelas que espreitavam as ruas dia e noite. Invadem sua pagina, seu perfil nas redes sociais, compilam dados sobre sua vida,
família, amigos e montam versões fantasiosas, espalhando calúnias e difamações
em escala. Há notícias de que muitos chegam a praticar até extorsão, pedindo
dinheiro aos amigos da vítima que teve sua identidade usada para tal. Pior que
nem precisam ser ciberpiratas, basta lhe enganar e pedir aceitação de amizade,
ou nem isso, pois na maioria das vezes se vale da conivência de amigo comum,
geralmente um parente próximo que conste
como amigo na lista da vítima, alvo da má ação.
Uma janela
convencional à esquerda, com vistas para o jardim e um smartfone
que se transformou na grande
“janela” planetária, abrangente, com a
internet querealiza vídeo
chamadas e teleconferências
Foto:
internet
Este
é o risco que se corre quando se aceita um estranho para amigo nas redes
sociais, ou seja, mal comparado é o mesmo que dormir com o inimigo. Isto porque
os membros de nossas listas de amigos não são mais pessoas que conhecíamos ou víamos
pela vizinhança, colégio ou onde quer que estivéssemos, mas, sim, multidões de
desconhecidos e as vezes travestidos, exibindo um perfil previamente maquiado.
Maquiagem de dados e qualidades pessoais e imagens são comuns, pois os aplicativos de Photoshop as deixam 20 ou 30 anos mais jovens... Ah...,
que dificuldade temos para reconhecer certas pessoas ao vivo, presencialmente.
Estão sempre a maquiar o visual e não raras vezes nos assustamos quando
encontramos pela primeira vez alguém na rua e ouvimos: “oi, sou a fulana, sua
amiga no Face, não se lembra de mim? Dá vontade de responder..., ah, sim, desculpe-me
mas tenho a impressão que nosso encontro “foi há 30 anos” e só me recordava
daquela imagem visual... Lógico que ninguém fará isso, até porque a pessoa, na
maioria das vezes é e quer demonstrar gentileza.
Voltando
à janela de hoje, a Internet, ela já teve outros nomes, televisão (há 70 anos) e mais antigamente o telefone que
foi inventado por Graham Bell em 1876 e imediatamente trazido para o Brasil, pelo
Imperador D. Pedro II, em 1877, após se extasiar com o invento na Exposição de Filadélfia,
nos EUA. Mas isso já passado quase que remoto, de 150 anos.
O
telefone antigo da fazenda Criminoso, pertencente a meu avô, usado até o final
da década de 1950. O segundo, de cor preta e muto pesado, representava o grande avanço para os anos 60, come discagem direta.
Foto do autor – Londrina-PR - 2013
A Telefonista dos anos de 1940, em Lavras. Era o mais perigoso dos vírus (ou software?), pois fazia todas as conexões das ligações. Girávamos a manivela
do telefone, a campainha tocava em sua mesa. Atendia e bastava dizer-lhe o
número desejado. Ela podia escutar todas as conversas. Discrição a toda prova. Valia ouro, espiã
potencial...!!!
TV
Telefunken, importada -1957. A novíssima janela que as crianças adoravam .
Foto: arquivos de Renato Libeck
Hoje
a internet revolucionou as relações interpessoais com suas redes sociais,
blogs, sites especializados em buscas, lazer, fofocas e tudo mais, acessados a
um simples toque no mouse ou no teclado do telefone. E melhor, tudo ao vivo e a
cores em tempo real, a um clique no aparelhinho de bolso, o smartfone. Hoje não há pergunta que fique sem resposta e
até as crianças nos desafiam. A tramela que segura essa grande janela é apenas um
teclado ou um mouse. Aliás, este último até se parece fisicamente com as
antigas tramelas das janelas. Movimentando-se essas modernas tramelas, tudo se
abre com velocidade ultrassônica. Ao mesmo tempo que podemos adentrar o Museu
do Louvre ou o Smithsonian e contemplar os maiores e mais belos tesouros artísticos,
ou assistir a uma ópera com grandes e famosas orquestras e tenores, podemos
também entrar na redação dos grandes jornais e ler as notícias em primeira mão.
Da mesma forma e em tempo real, com as vídeo-chamadas entramos na casa de
amigos e familiares, ou onde quer que estejam as câmeras, por mais indiscretas
que sejam. Há porém, segundo narra a bibliografia, um problema com as vídeos
chamadas. Algumas moças e senhoras mais recatadas só aceitam as videochamadas
com hora marcada e ainda assim depois de passarem pelo salão de beleza. Até
certo ponto é compreensível, pois o gênero sempre foi mais cuidadoso com o
visual, o look. Mas, chega ser
engraçado algumas delas se apresentarem com as microcâmeras dos aparelhos
celulares veladas, lacradas.
Mas, se as janelas das casas foram, durante séculos, a
vitrine, o local de contemplação e dali partiam as impressões e os comentários
sobre os passantes da rua, hoje são muito diferentes. Houve mudanças e em menos
de 20 anos depois da chegada do Orkut (2004 a 2014- extinto), Facebook (criado
em 2004 por M. Zuckerberg para que as pessoas pudessem se encontrar e trocar
ideias e fotos – encontrei
amigos de infância depois de mais de 60 anos sem contato algum)
e por último o Instagram criado em 2010. Mudou-se completamente o panorama, a
começar pela velocidade de propagação da notícia e, principalmente pela
quantidade de pessoas alcançadas instantaneamente. Enquanto que da janela se
avistavam um número limitadíssimo de pessoas, a internet tem alcance planetário.
Portanto a eficiência e a eficácia das novas “janelas” são indiscutíveis.
Janelas...,
ah, as janelas, para que servem as janelas? Se a porta da casa é o limiar pelo
qual passamos e ganhamos o mundo lá fora, a janela sempre foi um espaço de
interiorização e por ela, mais que olhar, espiamos o mundo, passando a ser
nosso espaço de exteriorização como metáfora de esperança para todos nós. As
janelas, convencionais ou virtuais, servem para o bem e para o mal, pois é por
elas que também espalha-se o vírus oportunista das fake news, especialmente em tempos de guerra. Cuidado, busque a
verdade, sempre!
Quarentena
Se
antes a população já vinha se valendo dessas novas “janelas eletrônicas”, o que
dizer agora em épocas de quarentena obrigatória, imposta a todos pela pandemia
do coronavírus? Nem mesmo os ladrões saem às ruas para trabalhar ou roubar, diz
a crônica policial nos jornais e TV. Em minha cidade natal foi aprovada uma lei
que proíbe a colocação de arame concertina sobre os muros (aqueles arames
espiralados e com lâminas pontiagudas, contra os ladrões), pois estavam matando
os gatos que visitavam as gatas preferidas em outros telhados da vizinhança.
Coitados dos bichanos, chegavam aleijados junto Às namoradas e se esvaim. Virou
piada na cidade: Protegem-se gatos e liberam a passagem furtiva dos gatunos. Mas,
a tranquilidade nas ruas e por consequência a extinção do prazer de ficar à
janela olhando a vida passar, gerou outro tipo de problema. Em apenas três dias
de quarentena foi o bastante para a surgirem reclamações nas redes sociais.
Amigos da cidade natal ficaram indignados com a quantidade de “espiões” nas
redes sóciais e nas ruas. Protestaram e tomaram medidas drásticas. A
bisbilhotice pela internet, com invasão de privacidade de pessoas e familiares,
seguida por disseminação de fofocas e fake
news, tem atingido níveis insuportáveis, beirando mesmo ao crime
cibernético. Alguns amigos já avisaram em suas redes sociais que vão eliminar,
deletar ou bloquear “supostos amigos”
que, na prática só fazem bisbilhotar a pessoas, sua casa, os familiares e seus
costumes para, em seguida, inventar e espalhar boatos prejudiciais à imagem e
honra das pessoas. Outros , um pouco mais indiretos, conclamam: “Não abra a
porta da sua casa para estranhos, nem a janela para ver o estranhos fazem na
rua. Cuide de você de sua casa”. O mesmo
amigo ainda disse: “cada um faça a sua parte, não devemos ficar vigiando a vida
dos outros. Será que até na pandemia não desistem? Aff, tenha dó!” Uma amiga foi direta à questão: “Vou
aproveitar a quarentena e diminuir os “amigos” do facebook. Já foram quase 1.000, ontem” e continuou no dia seguinte: “Para 5.000
“amigos”, estou nos 3.000 e poucos...rsrs... glória!”. Outra, anuncia em tom
profético: “ hoje é o dia de separar o joio do trigo no meu facebook”. Chega a
ser assustador, pois em apenas quatro dias de quarentena , muitos já se deram
conta que é necessário colocar um freio na situação, primeiramente limitando-se
o numero de amigos no perfil, selecionar criteriosamente e expurgar aqueles que teimam em praticar o
crime da difamação.
Enxugar as redes sociais
É compreensível, portanto, que alguns já falem
abertamente em eliminar milhares de amigos, depurar o ambiente que de certa
forma acaba sendo hostil, devido à impossibilidade real de se relacionar e
conhecer a todos. Antigamente as pessoas não tinham mais que cinco amigos aos
quais se podiam recorrer e confiar informações pessoais. Havia laços de
verdadeira amizade, compadrio em defesa da família. Tínhamos cerca de trinta ou
um pouco mais de colegas de escola, aos quais chamávamos de “conhecidos” e
mantínhamos apenas relações estudantis. Some-se a esses os conhecidos da
vizinhança, com os quais trocávamos apenas cumprimentos e chegaremos a um total
de, no máximo, meia centena de pessoas, entre “conhecidos” e amigos. Hoje, com
as redes sociais, são milhares. Há os que mantem dois perfis distintos nas
redes, Fulano 1 e Fulano 2, pois há limite
de até 5.000 “amigos” para cada perfil. Quantidades
exageradas, pois, estudos realizados em universidades e centros de pesquisas
sociais indicam que não se deve ter mais que 200 amigos numa rede social. Com o
tempo chegamos à conclusão que a rede social só tem valor para manter contato
com grupo reduzido de pessoas, até porque é impossível e improvável tanta gente
se interessar por alguém, dizem os especialistas.
Há diversos métodos para essa
“desintoxicação” de amigos, embora pareça dolorosa. Alguns anunciam a limpeza
por absoluta falta de condições de administrar a situação, ou pelo desinteresse
de muitos, que não acompanham, não curtem nem comentam. Representam apenas
número, quantidade, como se isto fosse importante. Não é! A qualidade deve
prevalecer nas relações interpessoais. Outros anunciam de forma mais polida que
irão realizar um enxugamento de amigos e que só ficarão os que clicarem em
“curtir” ou fizerem um comentário naquele post.
Ambas as formas funcionam como um primeiro filtro de seleção, mas, é
logico que precisamos analisar cuidadosamente cada nome antes de se eliminá-lo ou bloquear um “suposto amigo”, suspeito de
ser um amigo da onça que captura informações para produzir intrigas. Outra
alternativa é criar um segundo perfil, com numero mais reduzido e pessoas
selecionadas para assuntos mais pessoais. Entretanto, se já é problema
administrar um perfil imagine dois, portanto não seria recomendável.
O enxugamento faz parte da evolução
natural das redes sociais e o Facebook, por exemplo, se antecipou a isso, pois
deixou de distribuir seus posts para todos os amigos da lista. Apenas 25 dos
seus amigos recebem os comunicados, e só. Mas, na hora do enxugamento é comum a
gente se assustar, pois não gostamos de assim agir.
Mas, infelizmente, isto se torna necessário, pois assim evitam-se problemas como a perda de tempo
na qual se transformou a rede social para muitos, especialmente para os
exagerados em quantidade de “amigos”. Dê preferência aos que realmente
contribuam e deixe de fora aqueles do tipo classificado pelo filósofo Umberto
Eco, citado mais adiante. Por outro lado, deve se considerar que o fato
de você ter reencontrado, muito tempo depois, um amigo de infância ou de
colégio não significa que tenha
muitas coisas em comum com ele e por isso, muitas vezes, nem é conveniente
mantê-lo em sua lista. Bastou postar uma opinião contrária a um post de um
amigo dos tempos de colégio, sumido havia quase 60 anos e recém encontrado e...,
estrilou. Logo a seguir postou em seu perfil, como post do dia: “não aceito que
venham à minha página contrariar aquilo que publiquei. Se quiser publique suas
opiniões em sua própria página”. Evidente que a carapuça foi sob medida e
restou, então, ir à sua pagina e excluir todos nossos comentários em diversos
de seus posts, geralmente político-partidário e em seguida o “amigo” foi
definitivamente bloqueado. Nem mesmo a prometida visita à sua cidade ou simples
alô foram realizados. Imagine, um professor da maior e mais reputada
universidade brasileira, culto, mas radical e ególatra que queria apenas expor
e impor a suas opiniões. Distância de gente assim é o mínimo que se pode fazer,
pois as redes sociais são para o congraçamento, cultivar vínculos com o devido
respeito.
Ação
e reação contra bisbilhotices
As razões para a publicação de um post especial,
anunciando a exclusão de mil ou dois mil amigos de sua rede social, certamente
tem como fundamento possíveis ataques difamatórios
à pessoas ou a seus familiares próximos. Não chegamos a tamanha quantidade de pessoas nas listas de “amigos” e por isso os
expurgos tem acontecido em escala mais reduzida, mesmo depois de vários ataques
de hackers e amadores. Estes, pedem a amizade ou simplesmente “passeiam”
diariamente pelo perfil das vítimas nas redes sociais. Esses piratas amadores
são mais fáceis de serem identificados, pois a própria rede social informa quem
andou passeando por ali. Foram identificados os propagadores de intrigas,
beneficiários diretos. Alguns estavam na lista de “amigos” e outros se valiam
de parentes para entrar no perfil alheio. Assim, mesmo não constando da lista da vítima eles conseguem, via
terceiros, todas as informações constantes do perfil nas redes sociais. Com
esses dados em mãos e também a relação de todos os amigos da vítima, o inimigo monta as fake News, fofocas fantasiosas,
sempre com o objetivo de denegrir o titular da conta e eventuais amigos. O
passo seguinte para a identificação dos hackers ou de piratas amadores é montar
a rede de contatos entre eles e assim facilmente chega-se ao espião ou espiões
disfarçados de amigos na sua rede social. Passo final, o expurgo sumário
daqueles que integravam a rede de intrigas. A propagação das intrigas sempre
ocorre por meios virtuais e em encontros de amigos em clubes e bares. As vítimas não têm como
combater diretamente a rede de intrigas. Só mesmo uma solução drástica,
cirúrgica, cortando o mal pela origem,
no nascedouro com bloqueios sumários desses inimigos nas redes sociais.
Uma
pena que pessoas sofram com essas ações de invasores. Antigamente os ladrões ou
bisbilhoteiros eram facilmente identificáveis e segregados do convívio social
sadio, amigo, ético e solidário. Mas, as técnicas e ferramentas de rastreamento
cibernético, cruzadas e cotejadas com informações diretas de amigos receptores
das fake news, permitem a identificação
de piratas criminosos. O bloqueio a essa gente de má índole, bisbilhoteira, tornou-se
inevitável e lá se foram mais de uma dúzia na cidade natal, na capital e outro
em uma cidade do interior paulista, todos conterrâneos das vítimas e
contemporâneos dos tempos de estudantes. Estão certos, portanto, os amigos que
reclamam nesse período de quarentena do coronavírus. Essa gente maldosa se comporta como verdadeiros voyeurs que
não têm coragem de realizar suas próprias fantasias e assim, busca
satisfazê-las projetando-se nas outras pessoas. Precisam mesmo de expurgo,
bloqueios sumários. Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e
ainda assim..., para dizer a verdade, nem acho que o principal problema seja o
hacker ou o simples bisbilhoteiro que vive a passear pelos perfis alheios das
redes sociais. Estes são de fácil identificação, pois falam e propagam demais suas
fantasiosas mentiras sem se darem conta que há pessoas sérias, éticas e que
imediatamente se reportam às vítimas. Ainda há verdadeiros amigos e quanto aos
invasores e caluniadores, é fácil aplicar a regra, identificar, checar,
confirmar e em seguida o bloqueio total e imediato nas redes sociais e, se for
o caso, cabe até processo judicial, dependendo da extensão e gravidade das ofensas.
Há leis que regulam os crimes cibernéticos com punições severas. Sobre eles,
informam os peritos judiciais, quase sempre são pessoas frustradas, de mal com
a vida, que procuram descarregar suas decepções e derrotas em outros. Freud
para eles! Afinal não passam de coitados doentes mentais. O problema maior e de
difícil combate, são os tolos, idiotas, como bem definiu o escritor e filósofo
Umberto Eco (1932-2016. Autor do livro “O
Pêndulo de Foucault”, de 1998), que não apenas escrevia romances. Foi um
filósofo e professor, contemporâneo falecido recentemente. No caso dos ignorantes/idiotas
que frequentam a internet, ele explica que “a internet empoderou os ignorantes,
pois no passado o idiota de aldeia permanecia humilde na consciência de suas
limitações, mas, com a internet, um Premio Nobel tem o mesmo espaço de fala do
que um tolo”.
Fotos
do autor:
Musée des Arts et Métiers - Paris - dezembro de 2013
Église Saint Martin des Champs
O livro escrito
por Umberto Eco, em 1988, “ O Pêndulo de
Foucault”, inspirou-nos a visitar o Musée des Arts et Métiers, em Paris, onde
se passa boa parte da trama do romance. Alí, no Museu, pudemos assistir a mais
bela, simples, didática e clara demonstração do cientista Léon Foucault, que em
1851 comprovou, ali no adro da igreja Saint Martin des Champs, a teoria de que
a terra gira em todo de seu eixo, o chamado movimento de rotação, que dura 24 horas diante do sol, dividindo o tempo em
dia e a noite. No livro de Umberto Eco aquele museu serviu de esconderijo para
um dos principais protagonistas do enredo que, com sua teoria conspiratória,
pesquisava os planos secretos dos Templários para dominarem o mundo.
Foi uma das mais emocionantes visitas
que fizemos a museus e palácios da França. Ali está a demonstração cabal da
ciência dos combatidos, excomungados e perseguidos pela igreja, como Nicolau
Copérnico (ousou desafiar a “ciencia” da doutrina da igreja, com a teoria do
heliocentrismo)
Veja
detalhes da visita no site internacional- Trip Adviser: https://www.tripadvisor.com.br/ShowUserReviews-g187147-d265615-r212521831-Musee_des_Arts_et_Metiers-Paris_Ile_de_France.html# (Clique na foto que aparece em baixo, no
site e veja a sequencia de outras fotos
do museu)
Mas,
afinal, o que leva uma pessoa a inventar uma história que sabe que vai
prejudicar alguém ou várias outras? Antes mesmo da definição do filósofo
italiano, sobre a imbecilidade de certas pessoas, Nelson Rodrigues, escritor e
contista dos costumes brasileiros (1912-1980 – autor da série de contos “A vida
como ela é”), escreveu que “os idiotas iam dominar o mundo, simplesmente pelo
fato de serem muitos”. Portanto, não é de se estranhar que haja pessoas
(desocupadas e de mentes vazias) imbuídas desse espirito de maledicências pelas
redes sociais e pelos bares e botequins de frequentadores inveterados, onde
prevalece a pós-verdade. Sim, disseminam factoides onde os fatos objetivos e verdadeiros
são ignorados na argumentação, expondo apenas a sua visão estritamente
particular e descompromissada com qualquer realidade. Uma falsa verdade,
divulgada com rapidez astronômica de fatos desconectados do contexto e versões
acerca de tudo, com ou sem relação com a realidade ou possibilidade de
comprovação. Assim, se constroem a calunia e a difamação, longe das vítimas,
sem chances de se defenderem. Alegria doentia dos idiotas descritos pelo
filósofo italiano e pelo escritor brasileiro.
Mas,
a toda ação corresponde igual reação em sentido contrário, diz a lei da física
que aprendemos no colégio. Não à toa a Unisys, gigante mundial da tecnologia de
informática, calcula que haverá um aumento de 400% (quatrocentos por cento) nos
ataques de hackers desde o inicio da quarentena do Covid-19. Afirma seu diretor
no Brasil que é preciso entender que a proteção dos dados e do computador não é
diferente da proteção da saúde. Um bom antivírus ajuda, mas os cuidados em acessar sites e
abrir arquivos suspeitos devem ser redobrados. Todos em casa... é a ordem quarentenária
e consequentemente o fluxo de bytes cresce em proporções exponenciais.
Janelas,
para que servem?
Janelas...,
ah, as janelas, para que servem as janelas? Se a porta da casa é o limiar, a
soleira pela qual passamos e ganhamos o mundo lá fora, a janela sempre foi um
espaço de interiorização e por ela, mais que olhar, espiamos o mundo, passando a ser nosso
espaço de exteriorização como metáfora de esperança para todos nós. As janelas,
convencionais ou virtuais, servem para o bem e para o mal, pois é por elas que
também espalha-se o vírus oportunista das fake
news, especialmente em tempos de guerra.
Embora estejamos sujeitos a toda sorte de invasões pelas
“janelas” virtuais, as redes sociais são ferramentas importantes para a
comunicação e aproximação de amigos. Pena que alguns idiotas, usando o termo
empregado pelo filósofo italiano, teimam em não entender isto, interpretam à
sua moda e saem espalhando boatos. De nossa parte, continuaremos a escrever produzindo crônicas para os poucos
e seletos amigos e os cerca de 300 mil leitores, sim trezentos mil, com acessos
ao blog do Menino das Lavras. Ler e principalmente escrever são a melhor
terapia para a alma. Aproveitemos, pois, a quarentena do coronavírus, com o distanciamento
social necessário e recomendado, aproveitando o tempo para fazer agir um outro
vírus benigno, o vírus compulsivo da leitura e da escrita. Estes, sim, a
leitura e a escrita, nos enlevam, curam e nos aproximam dos amigos e proporcionam
a felicidade da alma.
Mas, afinal para que servem as janelas, título figurado
desta crônica? Na atualidade não valem mais? Ah, sim, valem muito desde que
usadas para iluminar, arejar o ambiente, contemplar a natureza e relaxar a
alma. Já se foi o tempo em que a única diversão era ficar à espreita nas
janelas. Certamente era um hábito muito cultuado. E há provas ainda hoje, pois se
observamos as fotos antigas veremos que as casas pareciam ter mais janelas que
paredes. Pudera, não existiam ainda a internet, televisão e sequer o telefone. A
comunicação era visual e direta e para isso nada melhor que a janela. No
conforto de sua casa, observava e saudava os passantes, alguns eram convidados
para um dedo de prosa e cafezinho, ali mesmo na varanda. Costume português,
cujo senhor, o coronel vivia na fazenda e nos finais de semana vinha para a
cidade, assistir missa e festas religiosas. Repare as fotos a seguir:
Mas...,
são muitas janelas... e varandas..., mais janelas que paredes. Os fazendeiros e
coroneis, que viviam nas fazendas e só passavam fins de semana na cidade. Faziam
questão das janelas e varandas para apreciarem o movimento das ruas. Até mesmo as igrejas eram
fartas de janelas.
Fotos:
Lavras-MG, anos de 1960 - 1ª e 2ª, da coleção de Renato Libeck. A terceira do
autor (2019). Ultima Catarina Júlia (2018)
O
menino, de origem rural, não negou a tradição dos ancestrais portugueses. Conviveu
e apreciou todos os tipos de janelas em sua vida de mais de sete décadas, da
casa onde nasceu, toda florida de ipês amarelos, do internato, do bonde, a janela do quarto onde estudei para o vestibular e com vista privilegiada
para o jardim da cidade, ou ainda a janela panorâmica, de trabalho no Rio de Janeiro com vista para a praia de
Botafogo e o Pão de Açucar. Isto sem
contar a janela do saber, que é a universidade, as janelas do trem, do carro, as janelas do avião por sobre a belíssima Serra da
A janela florida da Fazenda
Sítio do Retiro dos Ipês, exatamente no quarto onde nasceu o menino, há
sete décadas. Tempos depois, matando saudades na mesma
janela. Janelas têm um simbolismo marcante
Fotos do autor: agosto de 2013
e 2019
Bocaina, plantações, mar,
cidades e, por que não a janela da cozinha? Como se vê, nada temos contra as
janelas. Ao contrario sempre as apreciamos, a começar pelas antigas tradicionais.
Se elas, antes, silenciosamente eram utilizadas para espionar a vida alheia nas
ruas, ao contrário, sempre as utilizava para contemplar a natureza ou valer-me
de sua luz para a leitura, estudos e aprimoramento. Mas, à parte os saudosismos
das janelas, é interessante notar que em tempos de quarentena a janela voltou a
ter o seu protagonismo, pois muitos de nós sequer chegávamos a ela. Agora virou a nova rua com a moderna e
grande janela, a Internet com câmeras espalhadas por toda parte em verdadeiro
Big Brother a vigiar ruas e praças. Mas essa grande e planetária janela nos
serve, principalmente, para o nosso trabalho e comunicação com o mundo, visitas
virtuais a amigos e outros locais, conhecendo pessoas sem sair de casa.
Da janela da cabine de comando
de um Aeroboero, aproximando-se da Serra da Bocaina, em Lavras, para
contemplar a beleza da natureza...
De outra janela, num computador, planejando
e executando atividades da área da engenharia em todo o país, graças à
Internet.
Fotos do autor:
Lavras 2013 e Brasília 2009
Mas, resta ainda uma dúvida, será
que as janelas convencionais só foram construídas e apreciadas dessa maneira no
passado? Nas casas, nos trens, automóveis e nos aviões? Não! Não podemos nos
esquecer das janelas dos navios. Ali, são importantíssimas, pois os passageiros passam dias em
suas cabines enquanto a nave singra os mares em busca de novos portos. Navios
de turismo que o digam. Se as casas antigas pareciam ter mais janelas que
paredes, os navios têm mais janelas que tudo. São milhares e nelas o viajante
fica a contemplar o horizonte dos mares, em busca de um sinal da terra que se
aproxima, do porto acolhedor que lhe espera. Ou antes, ainda, para o aceno
final, o adeus ao ente querido que fica em terra. E as janelas, ali nas cabinas,
são o consolo. O consolo de um acenar de mãos para quem fica, até mesmo para um
desconhecido barqueiro que passa ao lado do navio, enquanto no horizonte vão
desaparecendo as silhuetas das montanhas. Terra que fica, janela que descortina
horizontes e faz a alma flutuar em doces lembranças da terra e dos entes
queridos que ficaram. Quem nunca
experimentou a dor gostosa do adeus enquanto o apito característico do navio
ecoa melancolicamente numa despedida que parece eterna e faz brotar as
lágrimas? Certa vez, em minhas longas permanências de trabalho no exterior, fui
ao porto de Nova York só para ver a bandeira brasileira tremular no mastro de
um navio cargueiro da Petrobras. De longe acenei para alguns marujos no convés,
justamente na hora de sua partida, fazendo ecoar de seu apito. Numa época em
que não existiam celulares, e-mails e tampouco vídeo-chamadas, entrar na loja
da Varig para ler o Jornal do Brasil e falar português ou ver um navio de
bandeira brasileira atracado no porto, já era um bálsamo para alma saudosa, de
quatro a seis semanas longe da pátria.
Um belíssimo navio
de turismo zarpando do porto de Santos. Milhares de janelas e em cada uma há um
passageiro dando adeus para a terra, a um ente querido ou
simplesmente para o barqueiro desconhecido que passa ao lado. Uma janela de avião sobre outro avião, a cidade de Brasília a 1.200
metros de altura. Assim como o passageiro do navio contempla a terra que
fica distante na linha do horizonte, o menino sempre buscou a janela
do avião para admirar, em pura e bela contemplação, o azul do céu, os rios,
o verde... ou, ainda, a mais bela visão de
“outro avião”, dourado e pousado em meio
escuridão da noite, como uma foto da sua própria cidade- Brasília.
Cruzeiros turísticos em modernos e
luxuosos transatlânticos são a oitava maravilha do mundo, desde que você
navegue, aporte e zarpe a toda hora para destinos previamente escolhidos. Mas,
não se pode esquecer que há quem goste de quarentenas em navios e ali ficar
trancado até 40 dias, isolado na cabine. Foi o que nos contou, em belíssima
história de amor, o grande escritor e romancista colombiano Gabriel Garcia
Marques, em: “O amor nos tempos do cólera”. Inspirada na verdadeira história de
seus pais (século XIX) e ambientada nos mares do Caribe (século XX), o autor
narra o romance de dois setentões apaixonados, Florentino Ariza, que esperou 50
anos a sua amada da juventude. Ela, Fermina Daza, havia se casado com um
médico, por imposição de seu pai que não aceitava Ariza, um simples
telegrafista. Depois que o médico morreu a viúva Daza reencontrou, casualmente
a bordo de um navio turístico, com o antigo amor, Ariza. Ele com 72 anos e ela
um ou dois a menos, viveram um encontro idílico enquanto o navio ficou de
quarentena, distante do porto, por conta de uma epidemia – a peste do cólera.
Prometeram, ali, se casar e assim o fizeram logo que desembarcaram. Entretanto,
na lua de mel, ele, todo empolgado subiu numa escada para apanhar, numa enorme
laranjeira, algumas frutas para sua amada. Caiu da escada e morreu. Nenhum dos
dois, ele e nem ela comeram da cobiçada fruta da lua de mel.... Triste fim para
um reencontro apaixonado de meio século de espera. Não acreditei que pudesse
ter sido uma história baseada em fatos reais e lá fui a Cartagena de Las
Indias, terra do autor citado, visitar museus e sua casa naquela cidade
caribenha de 500 anos. Concluí que Fermina Daza e Florentino Ariza tiveram de
fato um cenário paradisíaco a partir da
janela do navio ancorado, um pouco distante do porto e aguardando o tempo da
quarentena da peste do cólera. Entusiasmado com os achados históricos em
Cartagena, perdi o voo de volta para o Brasil.
Capa do livro, a laranjeira e a escada da qual
Ariza se estatelou no chão, durinho e morto, ficando sem lua de mel, depois de
50 anos de espera. à direita a casa de Gabriel Garcia Marquez, em Cartagena de las Indias
o menino em visita à museus e ao centro a casa de Gabriel Garcia Marquez, o Gabo, em Cartagena, no caribe.
Por conta dessas visitas perdeu o voo de volta para o Brasil. Na falta de celular e internet.., só mesmo um cartão postal.
Ao chegar em casa, impressionado com a queda e morte de Ariza em plena lua de mel,
não quiz saber de subir na escadas. Deixou a limpesa e pintura do telhado para um mais jovem...
Linda história de amor contada pelo
famoso escritor, Gabo. Tomara que hoje,
a quarentena do coronavírus, de duração incerta, nos traga também “janelas” com
belos cenários para a alma. Saibamos aproveitá-la. E pensar que há pessoas que
não sabem usá-las. Ora, pois..., janelas. Para que servem as janelas? Não custa
repetir, janelas têm grande utilidade para o corpo e a alma. Nelas buscamos o
ar e a luz e na contemplação da natureza encontramos paz. Nas janelas virtuais
da internet também encontramos grande utilidade, especialmente em tempos de
quarentena. E deveriam ser utilizadas apenas para o bem. São lamentáveis as
queixas de amigos que têm sido vítimas de bisbilhotices e maledicências. Mas
nem por isso vamos condenar as janelas, quaisquer que sejam. Em todas e de
todas devemos sempre buscar o saber e o engrandecimento da alma. Janelas
deveriam servir tão somente para isso, sobretudo para a solidariedade e o amor.
Não deveriam ser, jamais, r usadas para
a espreita do mal e a difusão da calunia, a difamação. Saibamos explorar e usar
as moderna janelas, as redes sociais e seus mecanismos de busca na internet
para praticar apenas o bem, aprender, crescer, se alegrar e sobretudo fazer e
cultivar amigos. E agora, justamente nos momentos de quarentena, façamos o
melhor uso delas e principalmente, sejamos solidários. Muito bom cultivar
amigos, presenciais e virtuais. E que das mesmas antigas janelas, de onde antes
partiam olhares silenciosos que espreitavam furtivamente pessoas, saiam agora
apenas olhares de contemplações que engrandeçam a alma.
Até
mesmo as autoridades estão a nos incentivar a ficar em casa e consequentemente,
fazer uso das janelas. Usemos e abusemos delas, tanto das tradicionais como das
virtuais, mas sempre com o olhar voltado para o bem, para o amor ao próximo,
até porque atualmente lá fora está o coronavírus. Portanto, “Fique em casa”, dizem
os outdoors de governadores e prefeitos municipais engajados nas campanhas anti-coronavírus. Este, o vírus maligno, não quer saber sua cor,
condição socioeconômica, se tem ou não dinheiro $$$, orientação sexual, preferencia
politica ou seu time de futebol e religião, embora o governo até ache que quem
se reúne numa igreja está imune ao vírus.... Também não quer saber quem matou a
vereadora do Rio, o prefeito de Campinas e onde estão o queiroz, alguns
ex-presidiários de Curitiba, ou ainda em quem você votou e o que faz aquela
pessoa na rua. Ataca indistintamente. Aproveite a quarentena, fique em casa
mesmo, é mais seguro e leia, leia muito, escreva, assista filmes, faça faxinas
na casa envolvendo as crianças nas tarefas, cozinhe, lave pratos e talheres até
mesmo para aprender a valorizar o trabalho de quem os faz, ou mesmo para cobrir
a falta dos empregados domésticos. Que arrumem os armários e despensas (tem
amigos armazenando comida para um ano..., e não são poucos). Faxine também as
listas de amigos das redes sociais, como aqui citado. Mas, acima de tudo, reflitamos
bastante e reavaliemos nossas posições de modo a sempre preservar o respeito ao
próximo e os princípios éticos. Seja solidário! Fique em casa! Não custa
repetir, essa é a coisa certa a fazer enquanto dure a tempestade. Por que
desafiar a ciência e as autoridades sanitárias mundiais? Recomendamos isso até
mesmo para aqueles que em apenas uma semana já se cansaram da faina domestica.
Um amigo, professor universitário, chegou a postar nas redes sociais uma foto, trabalhando
em home office, alegando que seu
notebook estaria infectado e por isso estaria usando a máscara facial.
Esqueceu-se que o cenário da foto era a sua cozinha e ao fundo, sobre a bancada
da pia, uma montanha de louças e talheres recém lavados e secando sobre o
escorredor. Lógico, estava louco para sair às ruas e trabalhar em seu gabinete
na universidade. Restou-nos perguntar-lhe o que fazia, instalado com
sua estação de trabalho na mesa da cozinha, usando o notebook e tendo a louça
já lavada. Certamente estaria esperando o bolo assar, para servir à família no
lanche da tarde e, portanto, era compreensível a vontade de sair às ruas. Não
há mal nenhum na cozinha. Apenas se tornou, em tempos de quarentena domiciliar,
o lugar mais policiado da casa. Qualquer um que ali entre é policiado,
monitorado por todos. Ao abrir a geladeira, torna-se alvo de toda sorte de reprimendas
coletivas, como se criminoso fosse..., já vai comer de novo? Olhe a
balança...!!! Mas, afora esse período excepcional, os homens deveriam frequentá-la
mais vezes. Fazer um beef ancho é muito fácil.
À
parte as brincadeiras, fiquemos, pois, em casa. Sair às ruas significa risco
desnecessário de levar o vírus para dentro de casa e matar seu pai, sua mãe,
seus avós, seu filho, seu vizinho ou amigo querido. Infelizmente o número de
idiotas tem sido maior que o de infectados com o vírus letal, pois são eles que
infectam nossas redes sociais com fakenews
e outras falsidades. Faça diferença, fique em casa. Use as “janelas”
disponíveis e somente para o bem! Com certeza, passado esse período de reclusão,
com distanciamento social e que esperamos seja breve, não seremos mais os mesmos.
Teremos mudado nossa maneira de encarar a vida e, com certeza, seremos melhores.
Janelas...,
ah, as janelas, para que servem as janelas?
Brasília, 31 de março
de 2020
Paulo das Lavras
E até no internato do Seminário, onde estudou
menino, profusão de janelas
Na janela do bonde..., esperando alguém que apareceu
algum tempo depois
Foto: arquivos de
Renato Libeck
O menino
passou todas as tardes, de um ano inteiro, no quarto cuja janela fica à direita,
no segundo andar, do prédio do antigo Banco de Crédito Real, em frente à Casa
Juca Procópio. Vista completa, panorâmica, inclusive para o jardim.
Agora pergunte o que eu via daquela janela... Nada! Não sobrava tempo, pois eu e o amigo Santa Cecilia estudávamos o tempo todo e resultou que passamos nos primeiros lugares do vestibular da recém federalizada, Esal, hoje Ufla ... Janelas..., ora, as janelas... para que servem?
Agora pergunte o que eu via daquela janela... Nada! Não sobrava tempo, pois eu e o amigo Santa Cecilia estudávamos o tempo todo e resultou que passamos nos primeiros lugares do vestibular da recém federalizada, Esal, hoje Ufla ... Janelas..., ora, as janelas... para que servem?
Foto: arquivos de
Renato Libeck
Janela panorâmica na sede da Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária- ABMES
10º andar, ao
lado do Aeroporto Santos Dumont- Rio de Janeiro, com vista para o Pão de Açucar
Foto do autor – Rio
2011
Uma janela para o saber, a Universidade
Foto do autor – UniLavras,
cortesia J.Argenta - 2019
O menino maquinista na janela da Maria Fumaça,
paisagens dos tempos
de infância, fumaça, barulhão das caldeira e o
saudoso apito.
Tudo muda, tudo
passa nesse mundo de ilusão,
vai para o céu a fumaça, fica na terra o
carvão! (Guilherme de
Almeida)
e ali tinha
carvão! E era colorida a janela de minha infância.
Foto do autor- São
Lourenço-MG - maio de 2014
...da janela do trem turístico, Mariana/Ouro Preto,
contemplei essa maravilha
Foto do autor – 05/09/2009
... da janela do carro, que emoldura a bela
arquitetura de Brasília, mostrada até mesmo no retrovisor
Foto do autor – 2014
Os jornais mostram os efeitos da quarentena – ruas desertas,
medo do coronavírus
Foto: Correio
Braziliense – 20/03/2020
Anúncios em todas as cidades... isolamento rigoroso
Foto: Jornal de Lavras
- www.facebook.com/jornaldelavras
Um professor, seu notebook- a janela para os alunos
e o mundo, com máscara protetora, em home-office com estação de trabalho na
cozinha. Provavelmente já cansado da jornada dupla...(ao fundo a louça e
talheres lavados) e certamente, almejando que a quarentena termine em breve.
Foto: Facebook, cortesia de J.A – Brasília,
03/2020
...janela que ilumina a cozinha..., para quem já
está acostumado a ficar em casa. Passando um beef ancho e aperitivo vinho do
Porto.
Foto do autor - 2017