sexta-feira,
29 de junho de 2018 (blog Contos das
Lavras)
Cap.
IX-2 de: Um Seminário na década de 1950
(Veja Nota Explicativa ao
final, com a estrutura completa do livro e links dos capítulos já
publicados neste blog)
Neste
dia de hoje, exatamente há 60 anos, o menino estava comemorando, por volta do
meio dia, a grande vitória da Seleção Brasileira de Futebol, na Suécia. Era o
dia 29 de junho de 1958. Que alegria, ali em meio a 70 meninos, rapazes e os
padres holandeses dirigentes do Seminário N.S. de Fátima, em Itaúna- MG.
Interessante que o menino nem era muito chegado a futebol. Talvez pelo fraco
desempenho nas peladas do bairro e as muitas gozações recebidas nas constantes
“furadas” ou dribles do adversário. Desde pequeno era ruim demais na bola. Para
participar de peladas era sempre o ultimo a ser escolhido, quando não sobrava.
Um poste, na gíria futebolística e não foi diferente quando interno no
Seminário. Essa situação, na infância, só melhorou quando ganhou uma bola de
capotão (eram assim chamadas as bolas de couro, semelhantes às oficiais. Eram
raras e caríssimas naquela década de 1950).
Tornou-se então “o dono do time” e passou a ser o primeiro a ser
escalado, por ele próprio, lógico, qualquer que fosse o time. Era praticamente
a única bola de capotão existente entre a garotada de toda a região do túnel e
da estação Costa Pinto.
Na
Estação havia um pátio escavado logo antes do túnel e os meninos o usavam como
campo de futebol. Embora pequeno e com um poste de ferro cravado bem ao meio,
lembrava um estádio. O barranco rampado, bem alto, contornava duas laterais e
servia de arquibancada para aqueles que sobraram na escalação dos times. Sr.
Lopes, o agente da estação ferroviária, pai do atleta Alfredão, depois professor
da Esal e colega na hoje Universidade Federal de Lavras, embora muito austero e
compenetrado na sua tarefa de administrar aquele terminal de passageiros e
carga com intenso movimento de locomotivas maria-fumaça, tratava os garotos com
cordialidade zelando pela segurança dos meninos desportistas das peladas de
futebol. Lembro-me que certa vez fui empurrado para um conflito bastante tenso
e ele, o Sr Lopes, acorreu em meu socorro. Mas esta é outra história a ser
contada em outra ocasião.
Além
dessa “experiência” de infância não houve progressos nos tempos de ginásio e
colégio. O treinador Deco bem que pelejava, mas havia outros tantos
meninos-craques da bola que sobressaíam. Os “postes” por mais que se
esforçassem e usassem boas chuteiras, compradas na Casa Curi, não conseguiam
mesmo avanço algum. Apenas uns dez a quinze minutos de treino e ainda assim, na
ânsia de mostrar garra, o máximo que o garoto conseguiu foi uma queda e quebrar
o braço direito com direito a 40 dias de tipoia, engessado pelo Dr Orlando
Haddad, um dos fundadores e beneméritos do antigo Colégio Aparecida, onde
estudava o menino. Nos tempos de interno no seminário, em Itaúna, repetiu-se a
mesma história... . Escalação? Não mais que vinte minutos e em posições de alfo
direito (eram assim chamados os jogadores do meio de campo), perneta sempre
guarnecido pelos beques e os atacantes de seu próprio time que eram obrigados a
recuar para salvar o desastre. E olha que era o ano da copa do mundo, com
Gilmar, Nilton Santos, Didi o folha seca, Pelé, Garrinha, Amarildo, Mazolla, Zagalo
e tantos outros que enfiaram um placar de 5 x 2 na poderosa Suécia e trouxeram
a Julles Rimet.
Bem,
mas estamos novamente em época de copa do mundo e desta vez na Rússia e muito
tem se falado sobre os sessenta anos da primeira conquista da taça de campeão,
na época chamada Julles Rimet. Posso dizer que fui privilegiado, pois vivi
aqueles momentos de passado tão distante, quando ainda despontava o jovem Pelé,
de apenas 17 anos e o grande Garrincha, pernas tortas, famoso por seus dribles
desconcertantes que deixaram os suecos tontos, desnorteados. Se hoje as
transmissões dos jogos se fazem via satélite, com imagens HD e chamadas ao
vivo, naquele tempo os jogos eram apenas “irradiados”, transmitidos via rádio,
por cabo submarino. Muita “chiadeira” nas transmissões e interferências de toda
natureza que prejudicavam a qualidade do som.
O rádio, bem grande, foi colocado numa prateleira improvisada, no alto
da escadaria do grande prédio do Seminário. Foi vibração geral, como mostram as
fotos do menino, justamente na hora dos gols, aliás, “goal”, como escreveu o
padre holandês logo abaixo da foto.
Bons
tempos, aquele ano da primeira Copa conquistada pelo Brasil. Depois vieram mais
quatro conquistas, tornando a seleção canarinho a única pentacampeã mundial.
Tomara que venha o hexa. A primeira batalha já foi vencida, classificando-se
para as disputas das oitavas de final.
Brasília,
29 de junho de 2018
Paulo
das Lavras
O menino sonhador com a copa do mundo, em Itaúna-
1958. O terceiro da
segunda da fila, de baixo para cima, trajando camisa
xadrez sob o blazer. Hvaia outro lavrense nesta foto,
Miguel Cesar Pedrotti Massimo, o primeiro à direita, com blazer claro,
Este foi o momoento do primeiro gol da Seleção Canarinho,
transmitido pelo rádio, via cabo submarino.
Gol da vitória de
5 x 2 sobre a Suécia, ou “goal” como escreveu o padre holandês.
O menino é o
primeiro, de costas, à esquerda
Garrincha em jogo contra a Olimpica de Lavras, em
1957.
Um ex-jogador desse time, colega de magistério,
contou-me que o
Garrincha passou a frequentar Lavras depois desse
jogo, pois arranjou uma namorada por lá.
Foto: arquivos de Renato Libeck
Pelé, deixando tontos os zagueirões da Suécia – 1958
Foto: internet
Seleção campeã de 1958, na Suécia
O Seminário de Itaúna- 1958
O menino das Lavras, na fileira do alto, é o terceiro da direita para a
esquerda.
Seminaristas que cursavam o 2ª ginasial, em
1958. O 2º garoto, da direita para a esquerda, também na mesma fila, o é Pedro Júlio de
Souza, o terceiro lavrense naquele Seminário, também lavrense.
A mesma escadaria onde ouvimos o jogo final de 1958,
entre Brasil e Suécia
Foto do autor - 2013, 55 anos depois.
Na Copa de 2014 os netinhos sonhando com a Seleção
Brasileira
e compondo o álbum de figurinhas. Sonhos que se
repetem.
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