Amigos nunca nos
deixam, ainda que partam para sempre. Permanecem eternamente em nossos corações
pelos laços de união e companheirismo que criamos e cultivamos ao longo da
vida. Assim foi com Luiz Onofre Salgado, que ontem partiu para sempre. E para
nós, que moramos distante, a notícia tem um impacto muito grande, sobretudo
quando ainda passados poucos dias havíamos recebido ligação daquele amigo,
cumprimentando-nos, desejando saúde e respondendo que sua saúde estava bem.
Em
1964 entrei na faculdade para cursar agronomia. Anos de chumbo, não só na
politica, como também nos trotes aos calouros, alguns até violentos. Veteranos
tinham exacerbada gana sobre os calouros. Banhos no lago do jardim na praça
central, com roupa e tudo, a qualquer hora, trotes sem fim partindo de todos
eles, os antigos alunos, chamados de veteranos. Mas, havia um em especial que
se distinguia dentre todos pela finesse, simpatia e empatia ao tratar com
pessoas. Natural de Nepomuceno foi logo me dizendo conhecer meu tio e sua
família que lá moravam. Amizade logo no início e parecia que já nos conhecíamos
havia tempo, tal o grau de empatia. Nunca me aplicou um trote, quando calouro
de cabeça raspada e portando uma ferradura de cavalo dependurada no pescoço (para simbolizar a “burrice” do
calouro, escravo dos veteranos...). Ao contrário, ele
deplorava a grosseria, a violência dos trotes e não concordava com os demais
que os praticavam com grande humilhação para os calouros. Nasceu daí a amizade
que aumentou com os contatos mais frequentes, inclusive na sede social do
Centro Acadêmico de Agronomia-CAA, para o qual fui escolhido como diretor social, com
a responsabilidade de fazê-lo funcionar de terça a sábado, com horas dançantes,
ao som de Ray Conniff, Billy Vaughn, Paul Muriat, Percy Faith, Bert Kaempfert,
Elcio Alvares, Românticos de Cuba, Mantovani e tantos outros LPs de sucesso.
Ali ele sempre comparecia com seus colegas de turma e aos sábados com sua namorada
Ana Maria. Formavam um belo par, admirado por todos à época. Mais tarde
casou-se com outra, divorciou-se depois de algum tempo e há uns dez anos
casou-se novamente, com a esposa que o acompanhou e dele cuidou com dedicação
até os instantes finais.
Luiz
Onofre formou-se em agronomia no ano de 1964. Trabalhou inicialmente na Bayer,
em São Paulo e em seguida foi convidado para integrar o quadro docente da
Esal/Ufla, ali se aposentando para então iniciar atividades empresariais na
área de testes de produtos fitossanitários. Frequentava Brasília constantemente,
quer na qualidade de chefe de departamento da universidade, ou chefe de
gabinete da diretoria da antiga Esal, aqui discutindo projetos junto ao MEC, na
Secretaria de Educação superior, onde trabalhei por 35 anos, ou em outros
ministérios como Agricultura, Indústria e Comercio e outros órgãos da administração federal. Recepcioná-lo na
capital era um prazer, sobretudo quando convidado para almoço em família.
Certa vez compareceu a uma recepção que oferecemos, em nossa casa, ao novo
diretor, Prof. Juventino Júlio de Souza, então empossado pelo Ministro da
Educação. Em qualquer ocasião sempre irradiava simpatia, alegria contagiante,
como mostram algumas fotos de nosso arquivo. Apenas para ilustrar, há cerca de
uns quarenta dias, ligou-me, depois de obter meu numero (disse-me que havia perdido a
agenda no celular e então o recuperara com meu irmão, com quem se encontrou
casualmente na rua), para cumprimentar-me pelo aniversário
transcorrido havia uns vinte dias. Fiquei honrado com a especial deferência e
disse-lhe duas coisas: aniversário comemora-se a qualquer hora e receber os
cumprimentos e votos de saúde dos amigos também pode e deve ser o ano todo, de
modo que nem precisava se escusar pela demora e que brevemente retornaria igual
gentileza em seu aniversário.
Professor
Luiz Onofre nos deixa muito entristecidos com a sua partida para sempre. Está sendo
velado, nesta manhã, no Salão Nobre da Universidade, a mesma que ajudamos, ele,
eu e tantos outros a construir física e institucionalmente. Muitas dessas realizações em conjunto ainda contarei, passadas aqui e na França, onde o levei certa vez para prospecção de acordos de cooperação técnica na área de fitossanidade. Para nós que não
pudemos estar presente, juntarmo-nos aos colegas nesta hora de dor para o adeus
final, é sim mais doloroso. Dia de luto na alma. Mas, como disse antes, permanecerá
eternamente em nossos corações. Apenas mudou de endereço, cancelou o número de
telefone celular que não atende mais, mesmo quando chamado nesses dois últimos dias de
agonia no Hospital da Beneficência Portuguesa, onde fora se tratar. Por isso,
não cumprirei a promessa que lhe fiz a uns dias atrás, de ligar-lhe na próxima
semana, dia 26 de junho, no seu aniversário. Ligarei, sim, mas de outra forma,
em oração aos céus agradecendo a Deus pelo amigo que lá está e que deixou-nos
muita saudade. Estará, sim, para sempre, ao lado do Altíssimo que nos ampara.
Em nossos corações também permanecerá par sempre, com aquele sorriso de alegria
que mostra nas fotos! Descanse em paz, Amigo!
Brasília,
19 de junho de 2017
Paulo
das Lavras
Dezembro de
1987, Luiz Onofre, alegre, sorridente, na recepção em minha casa, em homenagem
ao novo Diretor da ESAL, empossado horas antes pelo Ministro da Educação.
Foto: José Alves de
Andrade (Zé Planche), Cida esposa do Diretor Juventino e Luiz Onofre a meu
lado.
Atrás, o Diretor
Luiz Augusto de Paula Lima que acabara de repassar o cargo ao novo diretor.
Na mesma festa,
Eros Gomide, Agostinho, - meus irmão, Anizio Pereira da Silva,
Silas Costa
Pereira que viria a ser o próximo Diretor da Esal depois do mandato de
Juventino,
e o inesquecível
Luiz Onofre.
Festa de 50 anos de formatura na Esal, 2014. Luiz
Onofre e seus colegas
Luiz Gomes Correia, Daniel Lima Barrios e Roberto
Costa Carneiro, o famoso goleiro Peré
também falecido recentemente, em agosto de 2016.
Amigos que se foram. Saudades e muitas histórias que
fazem parte de nossas vidas.
Foto: Maria Lúcia Cunha Carneiro