Em
1977 a ONU instituiu o oito de março como Dia Internacional da Mulher. Nada
mais justo, embora discorde, em tese, da escolha de dias especiais para se
celebrar ou homenagear alguém. Dia das mães, dos pais, dos negros, dos índios,
da fraternidade..., por que isso se tais pessoas ou ações deveriam ser celebradas
diariamente? Nada é à toa na escolha de um dia para tal. E o motivo é um só,
faltam atenção, respeito, carinho e tudo mais que seria obrigação diária: reconhecer
os méritos. Por isso, vivam as Mulheres nesse seu dia e sempre!
Mas, esse dia especial também nos convida à reflexão sobre alguns problemas que o gênero feminino enfrenta na sociedade. Portanto, vejamos alguns. Ano passado o IPEA divulgou informações incorretas afirmando que 65% dos homens entrevistados teriam respondido que as mulheres merecem ser estupradas. Chocou-nos a todos, ainda que o número verdadeiro fosse 26% e não 65%. Virou piada nacional a incompetência do outrora conceituado instituto de pesquisas, onde técnicos e dirigentes até pediram demissão por conta do grave erro. Também, quer o quê, quando a pesquisa coloca em suas perguntas o viés machista, induzindo-se à resposta desejada? Qualquer pesquisador social sabe que não se pode formular pergunta induzida. Se for para induzir, por que não se usou pergunta de forma inversa e justificada? Bastaria perguntar se a mulher que não tem condições financeiras para se manter e não deseja abandonar os filhos com companheiro violento, embora tenha vontade de abandonar a casa, mas ainda assim é obrigada a continuar ali, merece continuar sendo estuprada? Garanto que a resposta chegaria a quase 100%..., de “Não”, pois quase ninguém ignora que há a Lei Maria da Penha e tem consciência do respeito que se deve a ela.
No
Brasil se tem notícia das injustiças que se praticavam contra as mulheres desde
os tempos do Pe. Antônio Vieira. Em seus textos, dos anos 1600, escreveu: “A
mulher só deve sair de casa três vezes: no batismo, no casamento e no próprio
enterro”. Mulher escrava, como ilustra o título desta crônica que à primeira
vista pode parecer incoerente, ou até mesmo grosseiro para uma data especial como
o 8 de Março. Mas não é, embora já se tenham passado 400 anos. Passou da hora
de se reconhecer os direitos iguais. Chega de machismo patriarcal. Elas são
maioria da população, maioria nas universidades, maioria na qualificação em
cursos superiores.... e então falta o que? Quer exemplos gritantes de injustiça?
A mulher ainda não tem o direito de ir ao cartório e registrar seu filho. Só o
homem pode fazer isso nos primeiros quinze dias após o nascimento do bebê. Ainda
sobre a maternidade, não se concede a licença de seis meses às mães que
trabalhem em micro e pequenas empresas. Somente aquelas de grandes empresas têm
esse direito. Nesse caso o legislador (machista, patriarcal?) ignorou a cláusula
pétrea da Constituição que garante a igualdade dos direitos, para atender, exclusivamente,
a interesses econômicos. Cientificamente está comprovado que os primeiros meses
de vida são os mais importantes para a vida da criança e do futuro adulto. É
nesse período que o cérebro humano exige condições adequadas do ponto de vista
da nutrição, afetivas e psicológicas para o seu desenvolvimento. Somente assim
a criança terá condições de consolidar seu crescimento de modo a sustentar,
mais adiante, a maturação da personalidade. A mãe ao amamentar nutre a criança
e cria nela a percepção da identidade, a alma do bebê. Nãos se pode discriminar
a mulher que trabalha na micro e pequena empresa. Por que só as que estão nas
grandes empresas têm esse direito? O impacto social negativo dessa
discriminação traz efeitos danosos, pois o nível intelectual da sociedade sofre
grandes perdas, com prejuízos injustificáveis em favor do poder econômico.
Mas,
não nos alongaremos tanto neste dia especial. Deixaremos para outra oportunidade
a discussão de questões como a injustiça da tripla carga horária de trabalho, a
má vontade de boa parte dos homens para a compatibilização das atividades
profissionais com as de casa e até mesmo na educação dos filhos, recaindo sobre
ela a maior responsabilidade doméstica. Cerca de 65% das mulheres trabalham
fora e são as provedoras do lar. Pesquisas no DF mostraram que
elas estão mais bem preparadas, tecnicamente, com mais tempo de estudos que os
homens e.... ganham 30% menos que eles. Enquanto isso, o pensamento machista
patriarcal ainda acha que o trabalho no lar não tem valor econômico. O PNAD
2011 revelou que a mulher que trabalha fora ainda acumula 22,3 horas semanais
de serviço doméstico, enquanto que os homens apenas 10,2 horas. Grande equívoco,
pois o lar é imprescindível para o crescimento da sociedade, da nação. Assim,
continuam reforçando a discriminação da mulher, relegando-a a papel
subserviente, subalterno como nos tempos da escravidão. Deveriam, sim, os
homens e os políticos, trabalhar para reforçar as ações em prol da família,
quer por meio da construção de creches, escolas em tempo integral e serviços de
cuidados com idosos. Talvez assim agindo, em nome de uma política socialmente
justa, possa a mulher, em futuro que espero seja bem próximo, ter a liberdade e
a igualdade de direitos na busca de seu futuro de acordo, exclusivamente, com a
sua consciência e sem ser ou se sentir vítima da discriminação, injustiças e
violência.
Que
nesse Dia Internacional da Mulher possamos todos refletir e desejar com todas
as nossas forças “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente
diferentes e totalmente livres”.
Mulher
não é escrava..., embora o título acima sugira a pergunta. Costumo dizer que
nós somos aquilo que elas, as mulheres, nos fizeram, do nascimento à
paternidade. Simples assim!
Meu abraço de respeito,
consideração e amor a todas elas. Sempre serão Flores em qualquer estação da
vida! E quanto mais o tempo passa mais
aprendemos a admirar as flores.
Brasília,
08 de março de 2015
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