A
minha primeira visita a um prédio do MEC foi no Rio de Janeiro, bem ali no
centro, na Avenida Graça Aranha, no Palácio da Cultura. Inaugurado em 1947, foi
projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, conforme diretrizes do esboço elaborado
pelo famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Quando o visitei pela primeira
vez, em janeiro de 1968, o Ministério da Educação não mais funcionava ali e sim
a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior. Não
achei tanta novidade assim no famoso prédio apontado como um marco da
arquitetura moderna no Brasil. Notei os pilotis vazados, no mesmo estilo que
Niemeyer consagrou em Brasília. Também o paisagismo de Burle Marx era bastante
notado, destacando-se ainda a bela escultura de autoria de Bruno Giorgio, o
Monumento à Juventude. Também os andares do prédio eram vazados, sem paredes e
com divisórias de madeira de pouco mais de 1,60 metros de altura. Bem mais
tarde, quando já trabalhava no MEC, em Brasília, frequentava o prédio no Rio
que, então, abrigava a Delegacia Regional do MEC. Atualmente funcionam ali
alguns órgãos do Ministério da Cultura.
Mas,
embora a escultura de autoria de Bruno Giorgio, ali plantada nos jardins do
Palácio da Cultura, retratasse o vigor da juventude, não foi aquela jovem
mulher que me atraiu. Encantei-me por outra mulher, no próprio MEC, em Brasília.
Mais madura e inspirava mais confiança e ternura. Foi amor à primeira vista,
encontrei-a bem ali no saguão do edifício na Esplanada dos Ministérios, o Bloco
L. Estava de pé, um pouco curvada e segurava uma toalha nas mãos apoiada sobre
a perna. Até parecia que tinha saído do banho e chamava a atenção não só por isso,
mas também pela sua grande estatura. Era bastante alta. O menino ainda era bem jovem,
28 anos apenas, mas já ocupava o cargo pró-reitor de Pós-Graduação da UFLA que
ainda era conhecida por ESAL e, assim, vinha frequentemente ao Ministério da
Educação. E a mulher, grandona, sempre estava lá e a admiração foi crescendo
até passar a pertencer-lhe, quando se mudou para Brasília e foi trabalhar
justamente no MEC. Todos os dias a encontrava, no mesmo lugar e ninguém
desconfiava da sua admiração por ela.
Chegar
diariamente ao local de trabalho e adentrar o enorme saguão do MEC, com
persianas verticais esverdeadas, cristal fumê revestindo de alto a baixo todas
as colunas de sustentação e também as paredes laterais dos seis elevadores e
ainda os espelhos de cristal no interior dos próprios elevadores, já era, por
tudo isso, bastante prazeroso. A arquitetura interior era bem refinada.
Imagine, ainda, ser recebido por aquela mesma mulher que cativou minha
admiração desde a primeira vez que ali pisei como visitante. Prazer redobrado,
diariamente. Há um ditado que diz que quem faz o que gosta..., não terá
trabalhado um dia sequer, pois a atividade lhe causa prazer. Mas, não durou
muito aquele amor no dia a dia, pois alguém, sem avisar, retirou aquela bela
mulher que me encantara. Sumiu, desapareceu, nunca mais tive notícia dela.
Lamentei, perguntei e... ninguém soube ou quis me dizer para onde ela foi.
Imaginei que tivesse migrado para outro Ministério, coisa comum em Brasília,
principalmente quando se troca de governo. Percorri vários Ministérios, ainda
que em missões de trabalho, mas mesmo assim nunca mais a encontrei. Perdi minha
musa, para sempre, imaginava.
Mas...,
subitamente, num belo dia do início de janeiro do corrente ano, acompanhando
meu irmão numa visita ao Palácio da Alvorada, eis que, não mais que de repente,
dei de cara com ela, justamente na entrada do mais belo salão do majestoso
Palácio onde reside a presidente da República. Ali estava ela, no enorme e belíssimo
Salão Nobre do palácio, como o mesmo olhar. Não pude conter certo grito de
surpresa, que chamou a atenção de todos que ali se encontravam. Exclamei diante
dela, de alto e bom som: Ah! Então é assim, sumiu do saguão do Ministério da
Educação para vir e ficar aqui, neste enorme e magnífico salão para receber
reis, rainhas e dignitários do mundo inteiro? Está bem..., é compreensível que
uma mulher dessa estatura e reputação escultural merecia mais, tinha mesmo que
ser exibida aos mais ilustres visitantes do mundo. Admiradores não faltam e
lógico, a preferencia é ficar no palácio. Mas, ainda assim a fotografei
bastante e diante dela contei a todos sobre o nosso relacionamento. Até o
mestre de cerimônia, daquele magnífico Salão Nobre do Palácio da Alvorada, parou
e ouviu a história.
Meu
irmão e sua esposa olharam-me incrédulos. Fotografei a outrora admirada e dei um tchauzinho carinhoso para
aquela que foi minha musa por muito tempo, ali no MEC e que ficara desaparecida
por mais de vinte anos. Acenei e disse: Gostei de te ver... está do mesmo
jeitinho, bonita e ainda não se cansou segurar uma toalha... O escultor Brecheret, seu pai, foi mestre na arte.
Paulo
das Lavras
Poucos dias depois de reencontrar o
mulherão, fui a uma
Exposição de esculturas do artista
plástico Victor Brecheret,
na Galeria do Museu dos Correios, em
Brasília. Escultor
famoso, é autor da estátua de Duque de
Caxias e Monumento
aos Imigrantes/Ibirapuera, ambos em São Paulo
A minha querida mulherona, “Morena”, de
Brecheret, ainda
no
saguão do MEC onde a conheci e admirava diariamente.
A bela “Morena”, escultura de Brecheret,
agora no Salão Nobre
do Palácio da Alvorada, reencontrada depois de
20 anos.
Morenas, de Brecheret, ornando a entrada
do belíssimo Salão Nobre
do Palácio da Alvorada
Outra vista do Salão Nobre
Visitando
o Alvorada. Surpresa ao reencontrar as esculturas de Brecheret
em seu interior. A fundo da
foto as “Iaras” de Alfredo Ceschiatti
O Monumento à Juventude, no prédio do
MEC no Rio de Janeiro