O
Dia dos Pais teria o mesmo glamour que o dia das mães? O que eles têm feito
para melhorar as relações na família e na sociedade? Você se se considera um
pai moderno? Mas, que perguntas inusitadas, afinal a data não é para festejar o
dia dos pais? Por que então provocar polêmicas? Não seria melhor falarmos sobre
o carinho e o amor que os filhos dedicam a eles? Receber o abraço de todos e
ouvir elogios ao paizão? Sim e não. Sim porque é sempre bom exaltar o amor dos
filhos aos pais, o reconhecimento e o respeito que devemos a eles. Nunca nos esqueçamos
de que, se hoje somos bem sucedidos, devemos tudo a eles. Portanto qualquer
homenagem que prestarmos a eles sempre será pouco em relação ao que recebemos. Mas,
por outro lado, numa sociedade moderna, onde todos têm acesso à educação e
amplos direitos, seria oportuno abordar questões mais abrangentes e de grande
importância no seio da família e da sociedade em geral.
Somos
frutos da cultura herdada, de geração em geração. Essa cultura é, antes de
tudo, a imitação dos gestos de nossos antepassados. E nesse meio da cultura
ancestral o pai sempre foi supervalorizado na família. Sempre houve o
predomínio do machismo, ou seja, uma hierarquia muito antiga entre homens e
mulheres que a antropologia explica muito bem. Mas, os tempos são outros e
mudaram-se os costumes. O homem não vai mais à caça nas florestas e rios para
alimentar sua prole. Passava o dia todo guerreando contra possíveis inimigos e
feras. Estas tinham que ser abatidas e levadas para alimentar a família. Não
participava da rotina da casa, ao contrário, chegava cansado e era alvo da
atenção de todos, inclusive saboreando a melhor parte da caça preparada pelas
mulheres. O “guerreiro caçador” era supervalorizado, pois não podia deixar de
prover o alimento conseguido por meio de sua força e destreza. As mulheres ficavam
relegadas em segundo plano, na tranquilidade da casa, daí surgindo a hierarquia
machista, da força, do provedor. Mas, hoje os pais são diferentes. Nessa sociedade
consumista as mulheres também têm que “ir à caça”, ou seja, trabalhar fora de
casa com as mesmas responsabilidades e obrigações dos homens no mercado de
trabalho. E aqui entra o novo conceito do Pai Moderno. Mas, o machismo ainda
está impregnado em muitos de nós, de forma inconsciente e cultural. Trinta anos
ou menos, nos separa do inicio da luta das mulheres pela igualdade de direitos,
a chamada revolução feminista. Desde então tem havido progressos, mas esse
tempo não é nada se comparado aos milênios da hierarquia machista. Por isso é
preciso que os Pais de hoje se conscientizem com mais interesse e disposição
sobre a nova função do pai na família.
É
preciso que nós, os pais dessa geração de transição cultural para a era do Pai
Moderno, ensinemos às nossas crianças essa nova forma de pensar o mundo, sem
machismo, racismo e todos os “ismos” que caracterizem discriminação, qualquer
que seja. E nessa nova tarefa educacional abolir o machismo e “colar” o
conceito de pai moderno, participativo e presente. Esse deve ser o nosso
desafio. Devemos pensar nas crianças e começar a conscientizá-las para esse
desafio. Não nascemos machistas, mas podemos nos tornar assim pela convivência
em meio que cultue essa prática. E é sabido que as crianças são menos
condicionadas que os adultos, portanto é mais fácil incutir nelas o sentimento
de igualdade entre homens e mulheres, pais e mães.
Nossa responsabilidade como pai ultrapassa, em
muito, a questão do sustento da família, até porque as mães, estatisticamente
já ultrapassam os pais como provedoras do lar. Dividir com as mães as tarefas
do lar e em especial a atenção aos filhos, não pode ser encarado como demérito
para os pais. Se ela, a mãe, está dividindo conosco a tarefa de prover o
sustento, a educação (caríssima, ainda que em escolas públicas) e tudo mais que
uma família requer hoje em dia, por que então os homens não podem fazer o mesmo
em relação ao lar? As consequências da “terceirização” da educação dos filhos
(formação moral e escolar) têm mostrado resultados nada recomendáveis em alguns
casos. É comum ambos os pais trabalharem em expediente integral, pois hoje o
consumismo nos empurra para os excessos de produtos quase que descartáveis como
celulares e eletrônicos obsoletos a cada dois anos, ou então a “obrigação” de
possuir dois ou três carros na família, sem contar que cada um tem seu celular
e até dois ou mais aparelhos por pessoa. É bom, traz conforto? Sim, mas não nos
esqueçamos de que não podemos relegar nossos filhos à babá, à creche, para os
que podem pagar, ou à rua que é a mãe da futura criminalidade. E infelizmente
essa criminalidade já atinge, hoje, meninos e meninas de até nove anos de
idade. Deve ser por isso que os consultórios de psicanalistas estão lotados de
pais que confessam: “não sei lidar com os filhos, ou pior ainda, não dou conta
deles”. Será que se os pais dividissem com as mães, com efetiva dedicação, a
tarefa de educar e estar com os filhos por mais tempo, não melhoraríamos o
mundo atual? Isto seria o máximo da modernidade de um pai. O mundo e
principalmente os filhos estão precisando desesperadamente disso.
Pois
quem pensava que nesse dia especial, de celebração do Dia dos Pais, só
falaríamos sobre as benesses da honrosa condição de pai, deve ter se
surpreendido com as provocações/reflexões aqui levantadas. Mas, tenha uma
certeza, pai moderno não é somente aquele que divide com o filho a carona até a
escola ou curte as redes sociais com eles e por isso se acha “antenado no
futuro”, mas antes de tudo aquele que é capaz de compreender esse momento de
transição da sociedade em que se tornou moda a “terceirização” da educação
desde o primeiro dia de vida, delegando a outros as responsabilidades de pai e
mãe. E nesse contexto, dividir de igual para igual com a mãe a gestão do lar e
principalmente a tarefa de educa-los é o melhor caminho. Somente assim teremos
uma sociedade menos violenta, justa e mais amorosa.
Hoje
é um bom dia para se refletir sobre o nosso papel na família e na sociedade. Pai,
o sucesso de seu filho é o maior sucesso que você pode alcançar e desfrutar
para o resto da vida. Faça diferença! É na educação dos
filhos que se revelam as virtudes dos pais.
Feliz
Dia dos Pais!
Brasília,
10 de agosto2014
Paulo
das Lavras.