quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

... e 2025 chegou!



... e 2025 chegou! Um Novo Ano, um novo dia que brilha. Renovemos nossos desejos, nossos planos e metas. Cuidemos com amor das três maiores preciosidades que Deus nos concedeu:
nosso corpo (a saúde – a vida); nossa família e nossos amigos

Brasília, 01/01/2025 


    

 

domingo, 29 de dezembro de 2024

Um Papai Noel escritor-historiador

 

       Recebi pelo correio um pacote de Papai-Noel com vários livros, totalizando quase 2.500 páginas de leitura. Presentão para quem gosta de literatura memorialista. Embora o primeiro mensageiro tenha entregado o pesado pacote na casa de um familiar em Lavras, este cuidou de encaminhá-lo a meu endereço em Brasília. Chegou às vésperas do natal.  Mas, esse Papai-Noel generoso não teve como ficar no anonimato, pois suas impressões digitais, mais que isto, estavam gravadas nas páginas iniciais de cada livro: tem nome, foto e ligeira biografia.  Trata-se de um papai-noel especial, o Dr João Amílcar Salgado que, além de médico e historiador da Medicina no Brasil, também foi professor na UFMG e produziu ensaios sobre o ensino médico em nosso país. Pena que não o conheci antes, quando dirigi, no Ministério da Educação, por algum tempo,  os programas de Residência Médica, pois certamente o teria convidado a integrar a Comissão Nacional de Residência Médica- CNRM, atividade primordial na formação de médicos, pois normatiza, credencia e financia bolsas de estudos para os médicos residentes. 

     Não bastasse seu campo profissional, o Dr. Amílcar adentrou e com competência a área da genealogia e por meio dela enriqueceu e continua a enriquecer a história, a memória de sua terra natal, a Vila de Nepomuceno e região, que abrange Lavras, berço da família Salles, ramo do qual ambos, primos, fazemos parte. Já me deliciei com os causos do “Sargado” em sua farmácia na Vila onde os “coronéis”, incluindo um dos meus tios, faziam ponto para contar casos e causos escabrosos e passar medo nos meninos arteiros. Como fui um desse “arteiros”, me lembro bem das ‘ameaças” do canivete para fazer suposta e aterrorizante cirurgia nos meninos, verdadeira tortura mental aos pirralhos que tratavam de evitar aqueles adultos, mas nunca deixavam de fazer estripulias. 

      Terei leitura por um bom tempo, ainda mais nos causos do riso dourado da Vila, pois gosto de ler, reler, assinalar com marca-texto e “viajar” no tempo e no espaço, pelos locais onde vivi e conheci, relembrando pessoas que nos marcaram. Deixo aqui o meu abraço de agradecimento pelo carinho da amizade desse notável professor da UFMG, de reconhecida competência na Medicina e na sua história de nossa terra. Desejo a ele e toda família um Ano Novo cheio de realizações.

Brasília, 27 se dezembro de 2024

Paulo das Lavras


 
Papai-Noel sempre foi generoso. Nunca se esquece de ninguém. Desta vez, nas vestes de escritor memorialista e historiador, bateu à minha porta com um volumoso pacote. Cinco livros, sendo quatro de sua autoria, totalizando 1.902 páginas para leitura, além de outro, o Erário Mineral, de 532 páginas. Presente melhor não há para quem, como eu, gosta e se dedica à leitura e ainda arranha algumas linhas escritas no gênero da narrativa memorialista.

 









 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Meu conto de Natal - 2024

 Chegou o Natal... e é incrível observar como nós, os adultos, também nos transformamos em crianças. Relembramos aquela Criança que um dia fomos, sonhando o tempo todo com a chegada do Papai-Noel carregado de presentes e com a certeza de que não faltaria presente para nenhuma criança. Todos receberiam o mimo de Natal. 

Haja expectativa, mas, hoje, para nós, a expectativa é maior, ao contemplar a alegria inata das crianças, os olhinhos brilhando em busca do Papai Noel ali no shopping ao entregar-lhe um cartinha contendo seus pedidos e, no dia de Natal, correr para a árvore enfeitada em busca do seu sonhado presente. Não esperam nem a ceia familiar da meia noite, tamanha a curiosidade, ansiedade para receber o pacote e ver com seus próprios olhinhos o que haveria dentro de tantas embalagens enfeitadas. 

Será que o Papai-Noel atendeu meu pedido, indagam a todo momento. Ah..., hoje, para vovôs corujas..., não tem dinheiro que pague contemplar esse cenário de pura alegria, puro amor infantil. E foi assim que rebuscando meus arquivos encontrei uma crônica que escrevi, para o Dia dos Pais, há alguns anos e que bem retrata esse sentimento, o amor das crianças, muito bem retratado na metáfora do conto “O Pássaro Encantado”. O autor, Rubem Alves, muito bem nos definiu, a nós os adultos, especialmente os avós: Adultos que tem crianças morando dentro de si e têm medo da solidão”! 

“As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!” (Rubem Alves)

E neste Natal de 2024, quero, por meio da crônica a seguir, que retrata o amor das crianças, levar o meu abraço a todos os amigos e leitores de minhas crônicas e contos. Natal é época maravilhosa em que celebramos o nascimento do Menino Jesus. Tenho muitas crianças morando em mim e agora é hora de festejar, abraçar, dar e receber presentes, como gostam as crianças. Que as crianças, que também moram dentro de você, extravasem a alegria, o Amor. 

Saúde...! Boas Festas e um Ano de 2025 cheio de realizações. 

Veja a crônica:  (copie o link e cole-o no seu navegador)

  https://contosdaslavras.blogspot.com/2018/08/a-saudade-que-encanta-as-pessoas-e-o.html



domingo, 10 de novembro de 2024

O sono de uma criança..., as fadas e um anjo que eleva e enleva nossa alma

         


        Pela primeira vez Pedro Henrique, de cinco anos, dormiu sozinho com o vovô. Ele numa cama e eu em outra, no mesmo quarto, lado a lado, distante do quarto onde dormiam a vovó e a priminha Sarah. Só o fato de ser a primeira vez já nos deixou a ambos antenados na curiosidade do “como viria a ser”. Sempre antes de dormir, ele na cama de casal com a vovó, era praxe pedir para que eu fosse contar uma historinha depois que já tivesse feito sua prece. Assim, cumprimos o ritual das poucas vezes em que costumava dormir na casa dos avós. Terminada a oração comecei a contar uma história baseada numa visita que fiz à Base de Lançamentos de Foguetes, em Kourou, na Guiana Francesa. Mal acabara de iniciar e descrever a sala de controles do lançamento e o enorme tamanho do foguete já fumegando, pronto para disparar, mas ainda atrelado à torre de lançamento, ele interrompeu-me: ihhh..., não..., vovô..., essa é da NASA,  eu já conheço. É semelhante, mas não é da NASA, é da França, de sua base lançamentos aqui na fronteira com o Brasil. Ah..., é a mesma coisa, eu já vi lançamento de foguetes e espaçonaves... Interrompida a história tive que inventar outra, pois certamente já vira, na TV, o “filme” das espaçonaves. Mas, o que mais me fez feliz naquela noite foi ver aquela criaturinha ir apagando-se aos poucos, piscares miúdos, como a sorrir zombeteiramente e por fim o sono dos justos.

        Nada é mais gratificante do que ver o filho ou neto, que acaba sendo filho em dobro, com dupla dose de amor, cair no sono, adormecer, entregando-se como a dizer com aquele rostinho angelical: está tudo bem, estou feliz, vovô cuidará de mim contra os fantasmas. Estou protegido contra todos e tudo. Tudo aquilo que alimenta sua alma infantil de doçura que acredita em fantasmas, tartarugas ninjas poderosas e fadas madrinhas do dentinho de leite. Não há felicidade maior do que estar ali ao lado daquele rostinho suave, pele brilhante, olhos fechados, tranquilos. Semblante feliz a ressonar suavemente. Tudo é paz. E ali ficamos a contemplar aquela cena, enlevados, com a alma flutuando e desejando que aquilo não terminasse nunca. Que fosse eterna a noite, tal o estado de felicidade por estar e ter sido o escolhido como guardião para aquele anjinho que se entrega em doce sono. Aquele mesmo contestador... ah... vovô conta outra história... essa eu já sei... e de repente, vencido pelo sono, silencia adormecido. Ah, quanta graça, quantas bênçãos de Deus por merecermos estar ali, fazendo parte daquele sonho.

        Naquela noite não consegui dormir plenamente. A todo instante olhava para o lado e pousava a mão sobre seu bracinho descoberto e o recobria. Lá pelas tantas, às três da matina, ele sentou-se na cama e disse: vovô, quero ir ao banheiro. Respondi, vou com você. Lá, acendi a luz e antes de voltarmos para a cama disse-me: “Eu vi a fada-madrinha em frente ao espelho, mas ela não trouxe meu dentinho novo, deve ser porque ele caiu no esgoto e o ratinho ainda não o entregou a ela”. Não entendi muito bem, mas confirmei... sim, a fada madrinha do dentinho esteve aí em frente ao espelho do banheiro..., e acrescentei que amanhã ela levaria o dentinho. Voltamos para a cama e antes de continuar o sono, ainda perguntou: Você vai me levar para a escolinha? Bem cedo, antes das sete, já estava olhando para mim, clamando para levantar e cochichando pediu-me para falar baixo para não acordar a vovó e a priminha Sarah que dormiam no quarto ao lado. 

        Um pouco mais tarde relatei o “sonho” da fada madrinha e a vovó explicou que no dia anterior ele havia perdido um dentinho que estava prestes a cair naturalmente. Não conseguira segurá-lo, pois caíra no ralo do lavatório. Decepcionado, por não ter podido recuperá-lo e entregar à fada-madrinha, que lhe faria nascer outro, a mãe lhe dissera que havia um ratinho lá no lago, onde desemboca a rede de esgoto, esperando o dentinho para entrega-lo à fada-madrinha. Assim, na pureza de sua alma absorveu a fantasia do ratinho coadjuvante e em seu sonho na alta madrugada, ficou sem entender por que a fada-madrinha veio visitar lhe, bem ali em frente ao grande espelho e não lhe deu o novo dente. Essa, certamente, foi a sua “visão”, vislumbrando a fada ali no lavatório igual ao de sua casa, onde havia caído seu dentinho que desceu ralo abaixo. E com o dedinho na banguelinha dos dentes incisivos, perguntava: Por que, vovô, por que será que ela não trouxe o dentinho novo? Talvez, porque o ratinho ainda não tivesse entregado a ela o velho dentinho que caíra no lavatório. Vai demorar um pouquinho, mas ela o trará para você. 

        Que belo momento esse do ninho, do aconchego da cama quentinha, onde a criança tem plena segurança e confiança naqueles que a cercam. Que privilégio conviver com uma criança tranquila, que só tem amor em seu coraçãozinho. O poeta e filósofo Rubem Alves disse que “um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma”! É verdade, além do que nos torna mais compreensivos e amorosos, pois somos “a segurança” deles, os pequenos. O nosso ninar, o abraço, o dar as mãos, o olhar, ou até mesmo a nossa palavra são os esteios seguros nos quais as crianças se apoiam.

        Ao chegarmos à escolinha pouco antes das sete horas, enquanto ele e eu conversávamos com a professora, chegou outro menininho que, quase choramingando,  abraçou o pai e diante do argumento " preciso ir", o filhinho perguntou: para onde você vai, pai? Papai vai trabalhar filhinho... E nesse ponto entra o Pedro Henrique e diz bem alto: "O meu vovô não trabalha, não, ele fica em casa".... Paguei o maior mico, pois todos acharam graça nas palavras do netinho, inclusive aquele que estava quase chorando. Coisas de crianças que disputam situações inusitadas. Mas, querem saber, mesmo? Jogo de mão dupla, pois, na verdade elas, as crianças, são os nossos esteios, pontos firmes de apoio e estímulo para a nossa alma, razão do nosso viver prolongando nossos dias aqui na terra. Anjos que elevam e enlevam nossa alma.

Amém!

Brasília, 25 de junho de 2014

Paulo das Lavras


 ...e a fada madrinha levou o dentinho... Vovô, por que ela apareceu
aqui, no espelho, nesta noite e não trouxe o dentinho novo?
Coisa de anjo que eleva e enleva nossa alma e
prolonga nossos dias aqui na terra
Foto do autor: o netinho em dia de festa na Escolinha aos cinco anos


 Aos seis, no judô e aos 15 no colégio e 
já independente no ir e vir.

 



 


sábado, 2 de novembro de 2024

02 de Novembro de 2024 – Dia de Finados

 

 Uma reflexão respeitosa diante do túmulo do soldado nº 125, Ray A. Lemmon, da 29ª 
Infantaria, Colorado. Tombou em 15 de junho de 1944 uma das batalhas que se sucederam 
ao  desembarque nas praia da Normandia.  Não há como não se emocionar diante do túmulo 
de um soldado que lutou e morreu para garantir a nossa liberdade. 
Foto do autor: Cemitério Americano da Normandia – França 


A celebração do dia de finados é bem antiga e foi unificada pela igreja católica, durante a Idade Márdia, há mais de mil anos. O dia 02 de novembro foi escolhido por ser o dia seguinte ao Dia de Todos os Santos. Por que dia de todos os santos ? Siplesmente porque os mártires morriam em grupos, especialmente no período da grande perseguição aos cristãos pelo império romano. Assim, essa foi a forma mais prática de se celebar a memória de todos eles. A escolha da data, de 1º de Novembro para o dia de todos os santos, foi para concorrer com as festas pagãs do Halloween. Um dos costumes dessa festa era levar flores  aos entes queridos nos cemitérios. Então, a igreja separou esses rituais e criou o dia especial, 02 de novembro, como sendo o Dia de Finados. Esse dia especial, celebtado no dia seguinte ao de todos os santos, é especialmente reservado para as homenagens aos entes queridos de cada família.

Este dia não deixa de ser um momento propício para a reflexão sobre a morte e vida. Não gosto, como a maioria das pessoas, de pensar e tampouco falar sobre a morte. Medo? Não! Prefiro a alegria da vida. O que é a vida? Assim perguntou Rubem Alves em sua obra “Sobre a morte e o morrer” e prossegue com mais perguntas intrigantes como o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? A vida é tão boa! Não quero ir embora. Ninguém quer ir embora, deixar a vida. Que coisa mais sem graça ser colhido no meio da festa (a vida, a convivência com a família e amigos), interromper tudo sem aviso

prévio e depois os amigos vão esvaziar suas gavetas, seu guarda-roupas, seus livros, seus mimos, aquel baú de afetos que todos nós guardamos com cuidado e carinho,, como que apagando todas as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Que coisa cruel, não para quem se foi, mas para aqueles que ficaram e choram a sua lembrança. Só quem já perdeu abruptamente entes queridos sabe avaliar essa dor irremediável, de se esvaziar “as gavetas da vida” de quem acabou de partir e deixou um vácuo, uma dor terrível na alma de todos.

Penso que a vida é uma dádiva de Deus e que devemos vivê-la de tal modo que ela, por si só, se torne uma jornada feliz, alegre, em paz consigo próprio e com todos que o cercam ou, em outras palavras, com amor. E isto é o céu. A qualquer hora que ela, a morte, vier nos buscar nos encontrará felizes e sem nenhuma dívida (falta) para com os amigos e aqueles com os quais convivemos. Tenho certeza que assim procedendo será mais fácil para aqueles que ficam. Assimilar a partida final não é fácil e,  “morrendo feliz” os amigos terão o conforto de que aquele, que partiu para sempre, praticou o bem e que suas faltas involuntárias nem contam diante do saldo positivo que deixou para todos. O filósofo Rubem Alves disse: “Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer. A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir”.

E hoje, Dia de Finados, também é dia de se lembrar daqueles que um dia fizeram algo memorável para a humanidade, Aqueles que tombaram em batalhas, defendendo a liberdade ou lutando por algo importante para a hgumanidade, Assim, neste dia, relembro alguns destes grandes homens que embora, não os tivéssemos conhecido, deixaram respeitável legado a todos nós. Mas, não somente neste dia, tenho uma palavra aos amigos:

“Feliz daquele que cuidou da vida de alguém que se preparava para partir. Cuidar para que a finitude  seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Portanto, neste dia de lembrança dos nossos entes queridos que nos deixaram para sempre, nosso coração se conforta com a lembrança do carinho e cuidado que dedicamos a eles, nossos pais e demais entes queridos, nos dias que antecederam as suas partidas para a Glória de Deus, justamente quando mais precisaram de  nós”.

 

Espero que as suas memórias neste dia especial, em relação aos entes queridos, tenham servido de conforto ao seu coração ainda dolorido. Nesse sentido, reproduzo as palavras que hoje recebi de amigo dos tempos de seminarista aos 12 anos de idade:

 

Dia de Finados: lembremos com carinho daqueles que amamos, daqueles que partiram antes de nós. Sinta saudade, mas não tristeza, pois, apesar da ausência física, o amor permanece intacto. Recorde os momentos felizes, agradeça a maravilhosa oportunidade de ter convivido com pessoas tão especiais...

 

Amém! E que você tenha depositado uma flor no túmulo de seus entes queridos, em sinal de respeito e amor, pois as flores nos inspiram isso. Também uma oração de agradecimento a Deus, pela oportunidade de ter convivido com eles, conforta igualmente a alma, onde quer que você esteja, ou tenha estado neste dia de hoje. Amém!

 

Brasília, 02 de Novembro de 2024    


   Paulo das Lavras


 Achei interessante, ali no Cemitério aa Normandia,  a Estrela de David, simbolizando a crença judaica, entre as milhares de cruzes cristãs  de soldados tombados na II Guerra Mundial. 
Foto do autor




 Memorial dos soldados lavrenses tombados (foto 1) e dos que lutaram  na II Guerra Mundial (abaixo)
Fotos do autor

 


 Memorial dos soldados norte-americanos tombados em guerra. 
Cemitério Nacional de Arlington- Washington – DC 
Foto do autor - 1977


 Dan Gammon e filhas, trouxeram, em setembro de 2008, as cinzas de Joseph Gammon e de um tio, Richard Rhea Gammon, para se juntarem aos restos mortais de Samuel Gammon, seu avô, sepultado  em Lavras-MG, no ando de 1928. O maior benemérito da cidade, fundador do IPG e ESAl/UFLA. 
Dan Gammon said: We sprinkled a small amount of my father's and my uncle's ashes at the grave of their parents in Lavras in 2008. Joseph Moore Gammon and Richard Rhea Gammon. 
And I said: Concerning the ashes of others that you sprinkled at the Gammon´s grave in Lavras, it was a good decision. So, they are all together over there, and live forever in the heart of all  Lavras´people. 
Fotos – Dan Gammon

 







 


 



quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Colegas de escola – saudades que se renovam

 

 João Júlio recebendo um presente, a foto do que mais amava..., a família 
Foto: arquivos da família Santos/Internet


        Nossos colegas de escola marcaram nossas vidas. Afinal, passamos longo tempo juntos, alguns desde os primeiros dias de escola primária. Não poderíamos esquecê-los nunca, tal o grau de proximidade e interesses comuns que nos uniram ao longo da vida e justamente no período em que estávamos buscando nossa própria identidade. Talvez isto, a consolidação da amizade, do vínculo fraterno, fosse mais importante que as horas em sala de aula ou juntos em horas e horas de estudos e elaboração de tarefas escolares. Por isso, alguns deles tanto nos marcaram, quer pela gentileza, simpatia, humildade, dedicação, inteligência e tantas outras qualidades e às vezes até mesmo as dificuldades naturais da vida de estudante, às voltas com matéria “chatas” ou de difícil assimilação e que estávamos sempre a nos ajudar mutuamente. Mas, chega-se à última formatura, na faculdade e nos separamos em definitivo, cada qual em seu novo rumo..., profissão, família , mergulhando em seus próprios sonhos, tornando-se independentes, em outro mundo social. Outro mundo social? Sim, outro ambiente, longe daqueles colegas que sempre o acompanhavam e ali estavam para o bem ou... para as eternas gozações próprias de amigos que têm camaradagem, companheirismo. Ah..., tempos bons, nos lembramos hoje, com muita saudade, 50 anos depois. Que saudade matadeira que faz derreter nossos corações. Quanta ternura na alma, relembrar os doces tempos e as figuras do colegas, sempre a sorrir e prontos para lhe “pegar” em algum escorregão, falha, que serviria de piada a semana inteira.

            Tempus fugit, diz o  clássico ditado... o tempo voa,  e de repente nos damos conta..., caramba, já são passados 57 anos de nossa formatura na faculdade! E onde estão os colegas? Nem éramos tantos..., apenas 30 formandos na turma de Agronomia/1967 da velha e hoje centenária ESAL/UFLA. A cada cinco anos nos reunimos e revivemos aqueles bons tempos. Famílias crescidas, com netos e bisnetos,  alegrias e bençãos que Deus nos envia para  prolongar nossos dias de glória na Terra. Encontro de irmãos que exala, transpira alegria, contentamento e gratidão por termos sido tão gratificados ao longo de nossa existência e em especial durante aquele tempo de convivência sadia com os colegas de escola, ali reunidos, a apresentar-nos suas famílias com a maior alegria e orgulho do mundo e ainda nos contando sobre seus sucessos profissionais. Que benção!

            Mas, infelizmente, ao longo desse quase sessenta anos que separam a nossa formatura e despedida escolar, temos também recebido duros golpes com o passamento de queridos colegas, aos quais sequer pudemos dar um último adeus. A distância, quase sempre, nos impede de chegar a tempo e temos que nos contentar com a solitária reflexão e dor do luto. Foi assim, justo no dia de meu aniversário, sem nenhum aviso prévio, apareceu na tela do celular uma mensagem com o obituário e convite para o velório do nosso doce, o mais gentil e prestativo colega de faculdade, aliás desde os tempos de colégio em Lavras: João Júlio dos Santos. Duro golpe, dor lancinante no coração... Lá se foi o mais doce dos colegas, aquele que estava sempre a sorrir e a nos levar a passear em sua linda, charmosa e histórica perua  Chevrolet ano 1929, conhecida por Tereza. Ah, meu caro João Júlio... , seu lago sorriso, como naqueles passeios, desfilando alegremente pelas ruas de Lavras na “nossa” Tereza , patrimônio carinhoso e zelado por todos nós, ficará eternamente em nossas memórias..., a sua alegria contagiante, finesse no trato e amor fraterno.

Que Deus nos conforte a todos, especialmente à sua querida família, ali  na cidade dos Perdões, vizinha a minha cidade natal.

 

Brasília, 06 de abril de 2024

 

Paulo das Lavras


 
Formatura do 3º ano Científico. Colégio N.S .Aparecida- Lavras, 1963 
Foto: do autor

 




Desfile de 7 de Setembro de 1963 (João Júlio à direita, último, 
próximo ao carro e Paulo Roberto, fila à esquerda, o segundo) 
Foto: do autor, cedida a Renato Libeck

 

  


 
Turma do 2º ano de Agronomia ESAL/UFLA – 1965. João Júlio é o terceiro assentado, 
 da esquerda para a direita. O primeiro da direita, em pé, é o autor, Paulo das Lavras 
Foto: do autor, 



 Modelo da perua Chevrolet -1929. A nossa “Tereza” 
Foto: internet




 João Júlio e Tuta (esposa) em evento social. 
Foto: arquivos da família Santos/Internet


 
Sem nenhum aviso prévio, apareceu na tela do celular 
 a mensagem acima. Duro golpe











terça-feira, 8 de outubro de 2024

Gigante pela própria natureza

 

  

Foto – AFP  –  FAB/ KC 30- 2901- 06/10/2024, chegando em São Paulo 



Dizem que o Brasil é gigante pela própria natureza.

 É gigante também pelo coração e acolhimento...

 Rudy El Azzi/Cônsul do Líbano em São Paulo



Minha cidade natal, Lavras e outras como São Lourenço, no sul de Minas, receberam muitas levas de migrantes sírio-libaneses. Gente laboriosa, tangida pelas contingências econômicas, políticas e religiosas, sobretudo pelos cristãos que fugiam do domínio mulçumano, turco do Império Otomano. Por causa do domínio desse império, os imigrantes sírios e libaneses tinham até o ano de 1892, seus passaportes emitidos pelos Turcos. Daí, surgiu o equívoco dos brasileiros, especialmente em minha cidade natal,  de chamar os imigrantes libaneses de turcos. Aprendi isto nos anos de 1960, quando meu colega de ginásio, Luiz Chalfoun, corrigiu-me educadamente: “... não somos turcos, somos sírio-libaneses. Em Lavras, os primeiros imigrantes sírio-libaneses, chegaram na virada do século IX  para XX, intensificando-se a imigração nos anos 20 e 30 seguintes.  Descendentes dos fenícios, tradicionais comerciantes desde os primórdios da humanidade, os sírio-libaneses eram exímios na arte de negociação e por isso se destacaram no comercio varejista e atacadista.

               A imigração sírio-libanesa para o Brasil originou-se das viagens de Dom Pedro II, em 1871 e 1876,  ao Líbano, Síria, Palestina e Egito. Ficou encantado com a cordialidade dos árabes e decidiu incentivar a imigração para o Brasil.  A grande maioria dos sírio-libaneses (80%) se estabeleceu no comercio de tecido e varejo de armarinhos. O Sul de Minas Gerais foi o preferido e quase todas as cidades os receberam e ali estabeleceram extensa rede comercial de varejo. Em Lavras e toda a região (Ribeirão Vermelho, Itumirim, Nepomuceno, Perdões e outras), há inúmeras famílias descendentes de sírios- libaneses, quase todos no ramo do comércio. Entrar numa loja desses comerciantes é quase 100% certo de que não sairá dali sem levar a mercadoria desejada. Se o preço praticado na praça era 100, não era incomum levar-se o produto por 50 ou 60, pelo simples prazer que o comerciante tinha de servir ao amigo que, realmente precisava da mercadoria e o dinheiro estava curto.

            Era assim nas Lavras do Funil a 50 anos atrás e ainda me lembro de alguns desses comerciantes que nos paravam (éramos meninos, ainda) e perguntavam-nos pela família. Agora, ali na sala de TV assistindo as cenas da chegada do avião de resgate dos brasileiros-libaneses, passou outro filme em minha mente, o filme do menino e os amigos sírio-libaneses de Lavras. Emocionado, descendo a rua Francisco Sales, iniciando pela sua parte mais alta, na atual Praça do Trabalhador, “revi” as lojas dos comerciante libaneses. O primeiro, o Sr. Abraão Chammon, que vendia roupas e sapatos, onde comprei meu primeiro par de sapatos envernizado, nº 29 e ainda me lembro deste detalhe, um luxo, para a cerimônia de Primeira Comunhão. Mais abaixo, João Arbex-Veículos e bomba de gasolina na esquina de Francisco Sales com Chagas Dória, que nos anos 50 mudou-se para esquina de Lourenço Menicucci/Chagas Dória. Paulo Guida/Marta Arbex (Pneus), Antônio Murad/Ary Murad/Armazém de secos e molhados. Na esquina localizava-se os Estabelecimentos Zakhia, de Jorge Zackia e outros. Mais abaixo havia o escritório de advocacia  Dr. Mauricio Haddad, seguindo-se a Casa Verde de José Antônio Issa e Anísio Haddad/máquinas e bombas d´água, Sr. Nicolau e Luiz Cherém (Casa Luiz), onde comprávamos ternos azul marinho de casemira inglesa, pois os meninos usavam terno e gravata nos anos 50. Bem verdade que a calça era curta, dois ou três dedos acima do joelho, sem dispensar o paletó e gravata. Mas, o primeiro terno de calça comprida, menino nenhum esquece..., foi o da primeira comunhão aos 10 anos de idade. O Sr. Nicolau Cherém, fazia a cortesia de “hospedar” os cavalos de meu pai e comitiva quando vinham à cidade fazer compras. Nos fundos da loja havia  um grande quintal com abrigos e cocheiras para os cavalos, Se a permanência fosse um pouco mais demorada, digamos um dia inteiro, ele soltava os cavalos no pasto anexo, que começava nos fundos da distribuidora do bonde (rua João Modesto atual) e se estendia por todo aquele bairro onde passa a Avenida JK. Ali era uma imensa pastagem, com água corrente, cuja nascente ainda existe e passa sob o aterro do buracão da rua João Modesto/Misseno e Pádua., contava meu pai, já com 100 anos de idade e saudoso das Lavras dos anos 20/40, quando ele era um garoto e vinha à cidade com amigos para as “baladas”, festas religiosas e os footings no jardim de Lavras. Não à toa, era ali na loja do Sr. Nicolau Cherém, e depois já com seu filho Luiz Cherém, que nós, os meninos vestíamos os ternos de casemira inglesa importados do Rio de Janeiro.

 Logo em seguida, descendo a Francisco Sales, havia o Bazar Mineiro, do Sr Naime, Sr José e Jorge Basil, um dos quais era o pai de Brenda, casada com meu colega Fernando Santa Cecília. Logo abaixo, do lado direito da rua, estava a Casa Tufy Cherém/material elétrico e bem mais abaixo, o Bazar Oriente de Nagib Hallabi bem defronte ao Grupo Escolar Firmino Costa. Este, coitado, não se casou, vivia só e tempos depois foi encontrado morto no interior de sua lojinha de artigos de bazar, Antes da Igreja Matriz havia venda do Sr. Nagib Jorge Chalfun que, mais tarde foi transformada em loja de consertos eletrodomésticos, administrada pelos irmãos Toninho ,  Edson e Sara.  Do outro lado da rua, o mais libanês de todos, sempre alegre, “laçava” a gente na calçada e fazia-nos entrar para comprar. Ninguém saía de lá sem nada levar: o Sr. Haical Haddad que nos vendeu de uma só vez, TV, geladeira, fogão, forninho elétrico, ventilador e muito mais, tudo em duzentas mil prestações e só não me vendeu um jeep Vemag/Candango, que ele tinha prazer em  demonstrá-lo “subindo” as escadarias da Igreja Matriz (dirigido pelo seu filho José, a quem chamávamos de Zé do Haica...). Não insistiu na venda do jeep porque sabia que já possuía  um lindo opala branco, quatro portas, zerado, comprado na loja de seu patrício, Ciro Arbex.  O Sr. Haical era perspicaz por demais. Contaram que certa vez um italiano, Sr. Guarino, carroceiro que transportava as mercadorias da Estação da EFOM para sua loja, pediu um aumento no valor do frete e para justificar ao Sr. Haical, disse que era obrigado a fazer isso, pois até mesmo a assinatura de seu jornal italiano, “Fanfulla” (antiga Gazzetta Del Popolo, publicada em São Paulo) havia encarecido muito e que ele não poderia ficar sem aquele jornal com notícias da italianada no Brasil, da distante pátria que um dia deixou para trás. Comovido, mas mais ladino ainda, o Sr. Haical respondeu de bate pronto: Não me pegas nessa, “Sior Guarino”, pois os jornais de Beirute, minha terra mais distante que a sua, continuavam a chegar a Lavras pelo mesmo preço... Não tem aumento nenhum ...! Finalizando essas curtas lembranças do Sr. Haical,  ele batizou sua loja com o nome de Haical Haddad e Cia Ltda - a Glória Lavrense, conforme propagandeava na Rádio Cultura de Lavras, na locução do radialista e meu colega de colégio, Itamar Mazochi. Ao lado dessa famosa loja, que trouxe a primeira TV para Lavras (instalou uma antena na torre da Igreja Matriz),

Continuando o périplo pela principal rua da cidade, onde os comerciantes sírio-libaneses dominavam mais 70% das portas, chegamos, em seguida à loja de Chafic Chalfoun, pai de meu colega de ginásio Luiz Chalfoun,  seguindo-se a Casa das Noivas, de Elza e Leila Murad, Abraão Curi, A Vencedora (móveis) de José e Elias Curi, Casa Santa Branca de Joseph Farage, Loja de Elias Semaan, Casa Raffe Haddad, Casa Alberto Murad, Abraão Curi, Ciro Arbex, do outro lado da rua, com sua Concessionária Chevrolet, que vendia carros para meu avô desde a sua fundação na década de 1920. Ali também comprava meus Chevrolet Opala e ainda admirava a competência  de seus chefe de oficina, João Foguete que de tudo entendia e nunca nos deixava na mão, qualquer que fosse a pane do veículo. Ciro Arbex , tinha para si, lindos cadilacs rabo-de-peixe, especialmente um vermelho dos anos 50.

Continuando e descendo a rua, havia outras libaneses, Casa Salem, de José Rachid e o belíssimo Hotel Vitória, onde gostava de me hospedar e degustar um peixe a belle meunière. Seguia-se a  Casa Curi, de José Curi onde comprei meu uniforme esportivo (flamenguista) para levar para o internato, aos 12 anos, no distante Seminário de Itaúna. Do outro lado da praça, o jardim de Lavras, o consultório do Dr. Orlando Haddad, mais tarde Hospital e Maternidade. Dr. Orlando Hddad foi um dos fundadores do Colégio Aparecida em 1942, juntamente com meu avô Anisio (Gaspar) Alves de Abreu.  Havia muitos outros comerciantes como Abdala Mustafá Zorkot, da Esquina Perfumada, Abílio Elias Ticle/máquinas de costura, já na rua Raul Soares. Inúmeras outras famílias de sírio-libaneses atuavam no comercio local,  Mansur,  Assad, Farah, Bachir, Jamil Lasmar/Padaria, Asmar (sem o “L” inicial), Salim, Fouad, Daher, Abbi-Saber, Simão, Chible/Padaria Santo Elias, Jorge Murad   e ainda o engenheiro, do qual fui estagiário em seu Escritório de Engenharia, Dr. José Alfredo Unes, pessoa extraordinária, de enorme coração. Muitas outras famílias descendentes de sírios libaneses viviam em Lavras, mas, não sou capaz de me lembrar de todos. O certo é que, além de nos marcarem com a presença de seus filhos, nossos coleguinhas de ginásio e colégio, como Michel Haddad, Toninho Chalfoun, Nelson Curi, Rui Haddad, Boueri, Mauro Assad e outros,  ele trouxeram a cultura árabe, que valoriza a lealdade, a honra, o tradicionalismo, a hospitalidade, o respeito, a paciência e a privacidade. Dentre os costumes árabes de negociação, trouxeram e implantaram a arte de vender a prestações a perderem de vista, facilitando aos mais humildes a aquisição de bens de valor mais elevado, da geladeira e TV ao automóvel.  Até parecia lei: entrou na loja..., não sai de mão abanando. Leve para casa..., depois “babai” paga e se não quiser, pode devolver! Qual o pai que voltaria à loja para devolver uma bola que já havia sido usada de imediato pelos filho? Os árabes eram terríveis na arte de venda. Também pudera, desde os tempos dos fenícios cruzavam os mares na busca de novos mercados.

 A cordialidade e hospitalidade no trato com as pessoas eram as marcas registradas dos sírio-libaneses que se instalaram em Lavras. Conheciam a todos pelos nomes e sobrenomes. Mas, tinham um segredo que não revelavam a ninguém... “os códigos” usados para marcar os preços da mercadoria.  Segredo de polichinelo. O Sr. Raffe Haddad tira vários pares de sapatos da prateleira ou do estoque, nos fundos da loja e nos fazia experimentar a todos. Bastava manifestarmos o gosto por determinado modelo e pronto. Parecia que nos tornávamos prisioneiros, pois não nos permitia sair da loja sem levar os sapatos. Ele cultivava dois segredos: Primeiro o cliente jamais sabia o preço do produto. Segundo passo, oferecer todos e deixá-lo escolher o de sua preferência, Pronto, depois disso, pegava a caixa do sapato, lia o preço em código e dizia-nos: é 100, mas para você, amigo da família, faço por 80, para levar agora e pague quando quiser e em quantas vezes for necessário e puder pagar. Eu já sabia... se oferecesse 40, ele baixaria a oferta  para 60 e ao final eu pagaria só 50. A cada lance naquele leilão de preço, literalmente, ele consultava o código escrito na caixa do sapato. Dava um largo sorriso, como a dizer... “você nem imagina o valor que aqui está escrito...”. Sabíamos que ali estava anotado em código indecifrável, o mínimo pelo que ele poderia vender e ganhar seu lucro. Mas não sabíamos e nem nunca soubemos quanto, pois ninguém era capaz de decifrar aquele código das arábias... A única certeza era que, se ali ficássemos uma hora ou mais e o impedíssemos de atender a outros clientes que chegassem à loja, ele sempre acabaria cedendo por um preço  próximo à metade do valor inicial. Às vezes era desgastante, mas quase sempre a conversa era agradável e eu, curioso, o provocava, pedindo para contar sua história de imigrante, sobretudo, sobre os parentes libaneses que  não vieram para o Brasil e estavam sofrendo com as guerras do Oriente Médio, já nos anos 60/70. Os irmãos Raffe e Haical Haddad, exímios comerciantes, marcaram minha vida em Lavras, desde os tempos de menino, quando acompanhava os pais nas visitas às suas lojas e mais tarde, já professor na UFLA, não deixei frequentar seus estabelecimentos. Como era bom conversar com eles e descobrir coisas das arábias. Estavam sempre alegres, calorosos. Acolhedores. Tinham um vínculo fraternal com meus pais e avós. Nos tratavam com distinção e carinho familiar. Assim foram e são os descendentes desses laboriosos imigrantes sírio-libaneses, que se radicaram em Lavras e em todo o Sul de Minas, Rio e São Paulo. Muito contribuíram e contribuem para o progresso da cidade.

Uma certeza eu tenho, de conversas e longas discussões históricas com o Sr. Haical Haddad e Rafe Haddad sobre eventos e guerras religiosas naquela região árabe, nos anos 70. E eles vieram  para o Brasil, tangidos muito antes, fugindo da perseguição religiosa. Eram muito bem informados, pois eram assinantes de jornais libaneses. Em Lavras, todos eles eram fervorosamente católicos e sempre admirei isso, pois os observava, quando eu era coroinha na Igreja Matriz e acolitava a distribuições da comunhão nas missas dominicais. Depois que conheci os motivos da imigração para nossa cidade, passei a admirar ainda mais a fibra dos sírio-libaneses de Lavras e os respeitava por isso. Coração grande, amigos, laboriosos, acolhedores... O cônsul de São Paulo sabia do que estava falando. Eles são assim também. Quem duvidar, que leia os livros de um grande amigo de Lavras, residente em São Lourenço, Filipe Nacle Gannam, sobre suas viagens ao Líbano. Puro amor e acolhida sempre!

Foi assim ,com esse olhar carinhoso do passado, que vi e ouvi o Consul libanês de São Paulo, declarar, à chegada  do primeiro voo da FAB de resgate dos brasileiros-libaneses que foram obrigados a deixar o Líbano:

 Dizem que o Brasil é gigante pela própria natureza.  É gigante também pelo coração e acolhimento...”

 ... É mesmo, pensei de imediato e me emocionei. Bem assim mesmo. Foi assim, como descrevi, que os libaneses me trataram e a todos de minha família, ali em Lavras, por todo o tempo e ainda hoje quando lá retorno, observo o mesmo comportamento. Cidadãos probos, religiosos, caridosos, amigos. Que Deus proteja seus familiares ali no Oriente Médio em guerra. Nosso coração brasileiro também é gigante e acolhedor, como bem disse o Sr. Rudy El Azzi/Cônsul do Líbano em São Paulo e não pude deixar de me emocionar ao assistir o desembarque daquelas mães, pais e suas crianças, portando bandeiras e desabando em apertados abraços de conforto nesta terra

          Meu abraço aos amigos se Lavras, São Lourenço e de  outras cidades que estejam sofrendo pela perda de seu lar e pelos parentes que lá ficaram. Que a Paz reine em toda a Terra. Amém!

 

 Brasília, 07 de outubro de 2024

 Paulo das Lavras 


A aeronave  KC 30 da FAB, nº 2901, estacionada em Beirute, para embarque dos 229 brasileiros-libaneses. Chegaram em São Paulo no dia 06/10/204. Sejam, bem-vindos! 
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil  



 
Casa do Sr. João Arbex e Belmira Dinamarco - Rua Francisco Sales 732 esquina Rua Chagas Doria/Lavras. Bomba de gasolina na esquina. Posteriormente, já nos anos 50, essa bomba 
 foi levada para o Posto Shell, de Joãozinho Arbex, para a esquina de Lourenço Menicucci 
com Chagas Dória. Meu avô, Anisio (Gaspar) Alves de Abreu só abastecia seus 
carros ali. O atendente da bomba era o Sr. Arlindo. Foi demolida nos anos 70 e 
 deu lugar ao Shopping Universo.

Foto- arquivos de Rogério Farah, in:https://www.facebook.com/rogerio.farah.  1/posts/pfbid028HXzV6XxmQKiVJNkxc1g9Zzx9bXhJNiQiWm8tRc7ZgQFXioBon9ECmHJf7PPnDX1l 



 O menino, de terno e gravata, comprados 
na Casa Cherém, em 1955 . Os comerciantes 
 libaneses marcaram a vida dos lavrenses. Boas lembranças, 
gente amável, acolhedora. O Consul libanês, de São Paulo, 
 sabia do estava falando... 
Foto: do autor





  
menino aos 11 anos, comprou nas lojas dos sírio-libaneses de Lavras, 
terno e gravata para a formatura do Grupo Escolar. meninos da sécada 
de 1950 trajavam terno e gravata...
Foto: do autor