Sonho que se
sonha só,
é só um sonho que se sonha só,
Mas sonho que se
sonha junto é realidade.
(Raul Seixas- “Prelúdio”)
O curto poema em epígrafe,
escrito por um cantor popular, revela toda a essência de um sonho. Se sonhamos
sós ou então em conjunto, compartilhando os desejos e planos para a vida, faz
toda a diferença, E os sonhos planejados são ainda mais factíveis quando
acontecem em parceria. Já os sonhos
oníricos quase sempre revelam situações ainda não resolvidas, armazenadas,
escondidas nos escaninhos da alma e que afloram de vez em quando. Estes, por se
tratar de eventos que fogem ao nosso controle quase sempre nos intrigam e neles
a questão tempo e espaço se confunde, numa mistura de eventos distantes tanto
no tempo como no espaço físico. Há quem diga que na alma não há espaço e tempo
distintos medidos como comumente o fazemos. É possível medir as distâncias em
metros ou em quilômetros, mas, no fundo do coração, tempo e distâncias são
iguais. Estão distantes e próximos! Veja que pérola de declaração. “Às
vezes, recordo um episódio com uma pessoas específica em minha terra natal e,
quando algo parecido acontece aqui, bem distante, sinto que vivo em toda parte”,
disse Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que vive em exílio dourado na
cidade Eterna de Roma. Acrescento, ainda, que isto também acontece com as
coisas materiais. Uma ponte em arco ou uma bela torre metálica avistada por
aqui, me remetem a distantes lugares como Paris ou Nova York, relembrando-me
aqueles passeios que um dia fiz por lá. Mas, sem dúvida as lembranças de
pessoas queridas nos levam até elas, onde quer que estejam. Por isso se diz que
não há tempo nem espaço nas lembranças em nossa alma. O coração não se engana e não mente
nunca com aquilo que amamos. O príncipe dos poetas, Guilherme de Almeida assim
se expressou:
Tudo muda, tudo passa
Neste mundo de ilusão;
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
Mas sempre, sem que te iludas,
Cantando num mesmo tom,
Só tu, coração, não mudas,
Porque és puro e porque és bom!
Tempo e espaço são iguais no fundo do nosso
coração..., e quer saber? São mesmo! E tem mais, com o passar do tempo as
alegrias aumentam e isso nos faz esquecer que o tempo passou. Não me sinto
velho, naquela acepção de cansado, triste, sem sonhos, apenas aguardando a
finitude de meus dias. Nada disso. Nas vezes que penso na idade, ela me parece
errada, falsa. Não pode ser..., penso,
eu com essa idade? Isso tudo? Dou uma boa gargalhada e, do fundo do
coração, digo para mim mesmo..., não é possível..., sinto-me como uma criança
que adora a vida, a alegria de viver e sempre compartilhando a vida com os
amigos por meio de minhas crônicas! Só alegria? Até parece criança que só pensa
no “hoje, o agora”. Mas não estou só, pois outro poeta e filósofo, que foi professor em minha cidade, Rubem
Alves ( 1933- 2014), assim escreveu:
As almas dos velhos e
das crianças brincam no mesmo tempo.
As crianças ainda sabem aquilo que os velhos
esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada
serve, a não ser para a alegria!
E assim vou levando a vida onde vivo, enganando a saudade,
sem pensar no tempo e no espaço que me separam da infância e juventude que são
caros a todos. Ah..., ainda tem o tempo de professor universitário, ensinando
aos jovens. Talvez daí decorra o fato de sempre pensar que somos iguais a eles,
jovens, que têm que aprender uma profissão e pensar no futuro. Vício de
professor. Para mim, tempo e
distâncias são mesmo iguais e o coração não se engana, como dizem os poetas:
Tudo muda, tudo passa, neste mundo de ilusão; Vai para o céu
a fumaça, fica na terra o carvão... e mais, as almas dos velhos e das crianças
brincam no mesmo tempo. As crianças
sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é
brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!
E os sonhos fazem parte da Vida..., Sempre! E hoje, nesta data, vou me tornar criança no show de Paul McCartney. É dia de recordar daquela cartinha, em inglês, que recebi de uma amiga da Dinamarca, de apenas 16 anos, em abril de abril de1963. Na cartinha, com desenho feito por ela, à bico de pena, mostrava uns caras cabeludos com guitarras e outros instrumentos, com a legenda “The Beatles”, aqueles quatro meninos que saíram de Liverpool e foram tentar a sorte em Hannover na Alemanha, onde ela, a garotinha dinamarquesa, fora assistir seus shows. Voltou ensandecida com o estilo dos garotos de Liverpool. Eu morria de inveja dela que, a toda hora atravessava o canal da Mancha e ia assistir a seus shows, já com o sucesso estrondoso daquele conjunto de rock na Europa. Aqui no Brasil o sucesso deles só começou alguns anos depois e em 1968, minhas noites solitárias em BH, eram embaladas ao som das rádio Atalaia de BH e a famosa Rádio Mundial do Rio de Janeiro, em meu não menos icônico radinho de pilha e fone de ouvidos, da marca Mitsubishi. Só tocavam músicas dos Beatles, Hey Jude, Obladi, obla da, Imagine, Yesterday do vocalista destaque da banda e tantas outras.
Ah... Rubem Alves explicou... os velhos se
tornam crianças... e, literalmente me tornei assim em 2014 quando fiquei mais
de seis horas no show de Sir Paul McCartney, no Estádio Nacional de Brasília...
E hoje tem... já “estou” criança de novo!
Brasília, 30 de novembro de 2023
Paulo das Lavras