Os
paulistas sempre foram lideres e nunca gostaram de interferências do governo
central em sua política local. O histórico de suas atuações confirma isto. No
final do século XVII iniciaram suas incursões pelos Sertões das Gerais e logo a
seguir, já no início do século XVII, intensificaram-se as chamadas Entradas e
Bandeiras. Foi assim em Minas Gerais no esplendor do ciclo do ouro. Nesse
contexto foi fundada a minha cidade natal, Lavras-MG, em 1720, há exatos 301
anos, quando ali chegaram os bandeirantes paulistas e se instalaram às margens
do funil, estreita garganta do Rio Grande. O espírito Bandeirante, de destemido
desbravador, foi usado nos cartazes de propaganda para a convocação dos
paulistanos para a luta contra o poder central, ditatorial, segundo se interpretava
nos idos de 1932. Getúlio Vargas era o Presidente da República e tornou-se,
sim, um ditador quando três anos depois de aprovada a Constituição, rasgou-a e
criou o chamado Estado Novo. Os paulistas estavam certos em seus temores de
1932. Mas, voltando 110 anos na história, foi ali em São Paulo,
coincidentemente, que D. Pedro I deu o famoso Grito do Ipiranga - Independência
ou Morte! Mais tarde o estado de São Paulo passou a liderar a revolução industrial
brasileira. Lastreado na riqueza de sua agricultura cafeeira, localizada
inicialmente no vale do Paraíba, foi fácil tornar-se a maior potência
industrial do país.
Assim,
influentes na politica nacional, os paulistas nunca aceitaram ficar à margem da
história de nosso país. Os eventos acontecidos em 23 de Maio de 1932, na
chamada Revolução Constitucionalista, não foram por acaso. Revoltaram-se
naquele ano de 1932 e convocaram o povo, especialmente os jovens a se alistaram
nas frentes de batalha. Na propaganda de guerra a figura do Bandeirante
Paulista foi escolhida para representar o sentimento paulista, conforme mostram
os cartazes de convocação à luta. A birra contra Getúlio era tanta que, até
hoje, não existe em São Paulo uma avenida sequer com o nome de Getúlio Vargas.
Existem sim, na cidade de São Paulo as Avenidas 23 de Maio e 9 de Julho, datas
em que, na primeira, morreram os quatro estudantes fuzilados pelas forças
militares do governo central e marcou o início do movimento revolucionário. A
data de 9 de Julho foi quando, de fato, deflagrou-se a chamada Revolução
Constitucionalista de 1932 que visava depor Getúlio Vargas. Este venceu os
revoltosos, instalou o Estado Novo, mas foi finalmente deposto em 1945. A Revolução
de 1932, verdadeira guerra civil, matou milhares de cidadãos brasileiros.
Ali,
na Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República, naquele dia 23 de Maio
de 1932, os manifestantes se reuniram para invadir a sede do Partido Popular
Paulista, grupo político-militar de sustentação ao regime do governo getulista.
Os militares se anteciparam à invasão e fuzilaram os manifestantes. Verdadeiro
massacre e foi assim que morreram os jovens Martins, Miragaia, Dráuzio e
Camargo, os mártires do MMDC, movimento que deflagrou a revolução paulista,
aliada à Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. O
dia 23 de Maio é simbólico para os paulistas. O massacre militar contra os
manifestantes, marcou o início da revolta de 1932. E hoje, quando vejo nos noticiários as rixas
entre o governador de São Paulo e o Senhor Presidente da República, cada qual
provocando o outro à sua maneira, confesso que me vem à mente aqueles embates
de 23 de maio de 1932. Tomara que acabe logo essa disputa individual por espaço
político em véspera de ano eleitoral. Puro egoísmo, em pleno século XXI e ainda
nos deparamos com disputas pessoais, ignorando os deveres da democracia, regime
sob o qual foram eleitos os políticos para nos governarem. Será que vamos ter
outra revolução? Seremos convocados à armas, com em 1932 ? Acho improvável. Prefiro
lembrar-me deste dia pela memória da expressa Avenida 23 Maio, por onde o carro
partia em disparada, do centro da cidade para o aeroporto de Congonhas e dentro
do carro exclamava: “missão cumprida”. Amo, São Paulo, não somente pelas raízes
de meus ancestrais, das terras paulistas e que chegaram à Lavras em 1750, como
também pelo sucesso profissional que ali obtive no âmbito do Conselho Federal
de Engenharia e Agronomia, das Universidades (supervisão e avaliação) e mais
tarde, na primeira década dos anos 2000, na gestão da Residência Médica com
credenciamentos da rede hospitalar de treinamento nossos jovens médicos. Não há
brasileiro que não tenha tido contato com São Paulo, seja pelas raízes atávicas,
pela ciência e cultura ou ainda pelos produtos de sua avançada indústria.
Parabéns,
São Paulo! Um abraço aos amigos paulistas, orgulhosos de seu passado.
Brasília,
23 de maio de 2021
Paulo
das Lavras
O Bandeirante, símbolo da bravura destemida. A seu
lado a mulher enfermeira e o jovem, recrutados para a luta armada contra o
ditador Getúlio Vargas
Foto: Wikimedia Commons
Em 23 de Maio de 1932, a população foi fuzilada em praça da cidade de São Paulo, onde se
manifestava. Houve muitos mortos. Tomara
que hoje, nessa guerrinha de egos entre políticos, a população não seja
convocada às armas, como os paulistas o fizeram em 1932.
Foto: Wikimedia Commons