A
crônica escrita pelo paisagista e editor da Revista Natureza, Roberto Araújo,
na edição de abril de 2019, e da qual plagiei o título, enaltece a nova fase de
nossa vida, de aposentado e geralmente depois dos sessenta anos. Diz ele que,
merecemos ter um refúgio, quando então pode brotar uma nova fase da vida.
Completa, o autor, afirmando que “num momento só seu podem renascer o
entusiasmo infantil e a crença de que, sim, o futuro pode ser muito
interessante de ser vivido. E você voltará à luta renovado e feliz”. Pura verdade e só mesmo quem já se aposentou
e tem todo o tempo do mundo para si, é capaz de entender e praticar isso. E nem
é preciso apelar para a sabedoria bíblica nos ensinando que é preciso se tornar
uma criança para ganhar o reino dos céus. E entenda-se como reino dos céus, a
felicidade a alegria, próprias das crianças.
Sou assim, ou melhor, estou assim! Acabaram-se
os compromissos profissionais, as cobranças, os horários, a cara de paisagem
ainda que o interlocutor tenha sido grosseiro ou injusto, os erros, as faltas,
invejas e ambições profissionais. No
âmbito familiar, os filhos já seguiram seu rumo e conduzem as próprias vidas.
Enfim, chegou a calmaria, tempo de se tornar criança, com elas brincar e entender
o que o filósofo Rubens Alves quis dizer: “Os
velhos...... no mesmo tempo a vida é alegria....
Assim,
temos tempo para tudo, ou melhor, para fazer
só o que der vontade...! E eu já estou nessa há tempo. Mergulhar nas
reminiscências da infância e da juventude e transformar os casos em crônicas é uma
das atividades que mais gosto. Buscar os netos no colégio ou lá participar de
suas atividades extracurriculares, como competições, exposições de trabalhos
manuais, artísticos e culturais nos dão um prazer enorme, como também leva-los às
atividades de lazer, tomar um sorvete e tudo mais. Tudo isso nos proporciona
enorme satisfação.
Fazer
só o que der vontade é, sim, mais que uma terapia. É colher os frutos daquilo
que plantamos. Nesse sentido, tenho ainda outra enorme paixão, o paisagismo.
Planejar, plantar e cuidar do jardins e sua fauna e ainda dos equipamentos dos
parques, é outra atividade que nos engrandece. O trabalho voluntário, de cuidar
da quadra-parque onde moramos, é sem dúvida dos mais gratificantes. Encontrar
ali as mães, cuidadoras e as crianças, usufruindo do ambiente acolhedor é, sem
dúvida, a mais gratificante das recompensas. Há mães que se deslocam de outras
quadras e vêm, com seus filhinhos, para o nosso espaço publico, pois aqui há
cuidados. Não tem preço ouvir isto de uma mãe.
Fazer
só o que der vontade é fazer aquilo que gostamos. E nem precisa ser aposentado.
Meus finais de semana em Brasília, quando não em viagem com a família, quase
todos são passados na chácara, meu paraíso. Ali, durante quase trinta anos
construí tudo, pessoalmente, da casa ao paisagismo e com profundo gosto pela
natureza, amor à terra, às plantas, jardins
e aos animais domésticos e silvestres. Estes, os animais silvestres, aprendi
a tê-los por perto oferecendo-lhes farta alimentação natural e proteção. Não
faltam para eles as fruteiras, lagos e florestas que ali plantei, especialmente
para isso. Nos lagos há peixinhos que servem para a pescaria das crianças que,
ao final, os devolvem ao seu habitat natural. Ali, na chácara, há de tudo para
o lazer das crianças e mais, grande variedade de fruteiras, das mais comuns às
mais exóticas como a pera, maçã, côco, lixia, caqui, noni, noz-macadâmia,
castanha portuguesa e tudo mais que um agrônomo sabe cultivar. Dizem que certas
fruteiras você planta para que os filhos e netos colham os frutos e devido ao
longo tempo de espera da frutificação, talvez você próprio não alcance a
colheita. Mas, felizmente, tenho colhido de todas as que plantei e assim a
satisfação é dobrada, ver os netos colherem e ainda lhe oferecer, às vezes lá
do alto da árvore.
Assim é, então, a arte de fazer só o que der vontade....
Pura felicidade!
Brasília, 31 de maio de 2019
Paulo das Lavras