“Para se curar da
adultite é preciso tomar chá de infância, virar criança de novo”.
Com a frase acima, de autoria do poeta, escritor, filósofo e
professor, Rubem Alves, homenageamos o Dia Nacional do Livro. Nada melhor do
que invocar a presença das crianças para propagandear a importância do livro e
da leitura. O dia 29 de outubro é o Dia Nacional do Livro. E por que esse dia?
Foi nesse dia, do ano de 1810, que se criou a Imprensa Régia em nosso país.
Veio no rastro da chegada da Corte Portuguesa que fugia da invasão de Portugal
pelo Imperador Napoleão Bonaparte. D. João VI trouxe para o Brasil milhares de
peças da Real Biblioteca Portuguesa, formando o princípio da Biblioteca
Nacional do Brasil. O primeiro livro publicado foi Marília de Dirceu, do poeta
Tomás Antônio Gonzaga que, por ironia tinha sido condenado pela mesma Corte por participar
ativamente da Inconfidência Mineira de 1789.
Aqui em Brasília, estamos
comemorando esse dia especial com a realização da III Bienal Brasil do Livro e
da Leitura, iniciada dia 21 do corrente mês de novembro. Dez dias de festa com
lançamentos de livros, palestras e sessões de autógrafos, além de milhares de
exemplares à venda com preços bastante acessíveis. E para celebrar o livro e a
leitura vamos falar um pouco sobre um dos melhores escritores, Rubem Alves,
falecido em julho de 2014. Considero como uma de suas melhores produções, o
livro “O amor que acende a lua”, que já se encontra em sua
15ª edição (2011).
Nesse
livro ele dá um passeio pelos ensinamentos dos filósofos Nietzsche, Bachelard e
outros, além de citar os poetas Cecília Meireles, Drummond e Fernando Pessoa.
Uma das descrições que mais gostei foi sobre a diferenciação entre paixão e
saudade. Ele ensina que paixão só
existe na ausência do objeto amado. É um desejo de posse que se satisfeito deixa
de existir, tal qual a fome que desaparece depois da refeição. Mais
precisamente, a paixão vive da ausência do objeto amado (a vontade de ter). O
apaixonado cria o objeto da paixão, a vontade de possui-lo, mesmo estando
presente.
Não
é a ausência física, é o olhar do apaixonado que torna o objeto amado encantado.
A dor da ausência física tem nome: Saudade.
E esta é curada quando o objeto amado volta. Paixão não tem cura, disse Rubem
Alves. Interessante, ainda, é a explicação dele para provar que poetas são
eternos apaixonados pela vida. “Para eles
a vida aparece sempre banhada por uma luz crepuscular”.
E
sabe de uma coisa? Ele está certo ao definir o poeta como um “apaixonado pela
vida”. Você já viu algum poeta deixar de cantar e exaltar a vida? Costumo dizer
que o bom poeta, escritor, contista, ou seja, lá que gênero literário tenha,
ele não representa, não inventa. Ele VIVE a história, o poema, o conto ou a
crônica. Qualquer assunto é transformado, por palavras, em uma trama ou enredo
agradável... Por quê? Porque ele está falando de sua paixão, a VIDA e quer
compartilhar essa maravilha com seus leitores.
Surpresa
nessa III Bienal do Livro e da Leitura. Assisti, presencialmente, a palestra de
outro grande ícone da literatura infantil, Ziraldo. A sessão de autógrafos foi
transformada em extensão da palestra, intitulada “Como ler para crianças”. Uma
menina de dez anos perguntou-lhe como encontrava tanta inspiração para criar e
escrever tantos livros (mais de 50). E a resposta foi a mesma de Rubem Alves,
mas, com outras palavras. Explicou à criança que o poeta, escritor e contista é
um apaixonado pela VIDA e está ligado, antenado em tudo ao seu redor. A simples
queda de uma folha de árvore pode lhe render uma crônica, um conto, onde ele, o
escritor, enfeita a situação com palavras, agrega outras lembranças e torna o
enredo agradável ao leitor. É uma paixão, escrever é vida para o autor,
completou Ziraldo.
Por
conta dessa resposta de Ziraldo à criança-leitora, impressionada com a sua
elevada produtividade literária, veio-me à mente as sábias palavras de Rubem
Alves:
“Os poetas desejam voltar
às suas origens. É lá que mora a verdade que os adultos esqueceram. Fogem da
loucura da vida adulta. Buscam reencontrar a simplicidade da infância. Para se
curar da adultite é preciso tomar chá
de infância, virar criança de novo...”.
Não à toa meus simples escritos, em forma de crônicas e contos,
se referem em sua quase totalidade à simplicidade da infância, como se
desejasse a ela retornar. Em sendo impossível, tomamos chá de infância, pois,
como bem disse nosso poeta, “As almas dos
velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo
que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que
para nada serve, a não ser para a alegria! ”
Celebrar esse dia de hoje, em meio à uma Exposição Bienal
Dia do Livro e da Leitura, é sem dúvida um privilégio, sobretudo quando levamos
as crianças e com ela compartilhamos a alegria da leitura e do convívio com
escritores.
Brasília, 29 de outubro
de 2016
Paulo das Lavras
III
– BBLL -Brasília- 21 a 30 de outubro de 2016
Melhor
lugar não há para se comemorar o Dia do Livro,
em companhia dos leitores mirins, futuros escritores
Rubem
Alves, alguns de seus livros entre outros autores
Ziraldo,
autografando e respondendo como é capaz de criar e escrever tantos livros....
O
melhor da vida é mesmo a leitura. Crianças são fascinadas pelas
historinhas,
mesmo aqui, entre um voo rasante e outro da Esquadrilha
da Fumaça, num dia do Aviador e da Força
Aérea, à beira do lago de Brasília.