Enfim
de volta à cidade depois de uma temporada de 25 dias na chácara. Férias de
caseiro sempre é um transtorno. Substitutos não há e se aparecem são
oportunistas, nada sabem e não fazem nada a não ser cuidar de seu próprio
interesse e maltratar os animais e as plantas. Geralmente são migrantes que
vieram para o Distrito Federal e não deram certo e ficam atrás de um emprego de
30 dias. O suficiente bastante para juntar o dinheiro da passagem para retorno
à terra natal. Quando levam só as suas coisas, que se resumem num saco levado
às costas, ainda vá lá...., mas o pior é quando contratam um caminhão e levam
tudo na calada da noite, desde geladeira, móveis, roupas de cama, mesa e
pessoais, além dos demais eletrodomésticos. Uma limpa geral, muito comum aqui
em Brasília, praticada por migrantes, turistas travestidos de caseiros de
chácara. Melhor mesmo é planejar uma temporada na própria chácara e cuidar dos
afazeres rotineiros como tratar dos animais, colher ovos, frutas e verduras, podar
o gramado, rastelar as mangas caídas (175 de cada vez, no carrinho) cuidar da
irrigação dos jardins, da horta e dos piquetes do cavalo. Sim, embora seja
verão, tempo próprio das chuvas, enfrentamos um veranico que já conta, hoje, 23
dias sem uma única gota de chuva. E tome água para as hortaliças e as viçosas e
belas flores que compõem o paisagismo.
Além
dessa rotina surgem os imprevistos como trocar uma lâmpada num poste de mais de
quatro metros de altura, substituir disjuntor avariado no quadro geral de
eletricidade, consertar cerca do galinheiro, adubar plantas, banhar e casquear
o cavalo, desembaraçar sua crina e a ponta da cauda (especialidade de meu
irmão, Anízio, que me ajudou por 15 dias), cortar, à machado, galhos de árvore
derrubados pelo vento, encabar enxada, trocar o óleo do microtrator, aspirar a
piscina, varrer os arredores das casas... e um sem fim de pequenas tarefas. Ufa..,
haja fôlego e disposição, pois nunca se entra para a casa antes das oito da
noite, justamente quando começa a escurecer e se tem a certeza de que nenhuma
galinha ficou de fora do galinheiro e pode-se trancá-lo. É a última tarefa e muito
importante, pois tem a finalidade de evitar os visitantes noturnos, o gambá e o
saruê – uma espécie de gambá, menor e todo branco, que adoram degolar as aves.
Interessante é que esses predadores não as comem e nem as levam embora para a
suas tocas. Mais parecem um vampiro que só chupa o sangue da jugular.
Mas,
essa trabalheira toda tem lá suas vantagens. Adeus computador, poltrona, filmes
na tv até tarde..., hábitos urbanos que não têm vez na lida de uma chácara,
ainda que apenas de lazer, mas com muitos afazeres. Além disso, contamos com as
visitas dos amigos e desta vez para uma temporada de duas semanas do mano e
esposa que vieram nos ajudar na lida. Nos fins de semana vêm os netos, que
movimentam a todos, contagiando-nos com alegria e brincadeiras sem fim. Afora a
piscina que exerce igual fascínio, são incríveis as diferenças entre as
preferências do menino e da menina. Esta, mais acomodada, arrisca-se a pegar no
colo um pintinho recém-nascido, uma pescaria de anzol ou quando muito uma
voltinha no cavalo. Já o garoto é espevitado. Além de fazer do tio-visitante um
escravo de suas brincadeiras malandras, quer ver e fazer de tudo na natureza.
Calça as botas e anda por todos os lados, dirige trator, pilota helimodelo,
joga futebol, colhe frutas, especialmente peras, goiabas, cajus, ameixas
amarelas e mangas aos montes, além de acompanhar os trabalhos na horta. Ali
fica admirado com o sistema de irrigação com água corrente e o desenvolvimento
das hortaliças. A colheita é sua atividade predileta..., couve, alface,
cebolinha pimentão, jiló, beterraba, brócolis, maracujá, chuchu e quiabo são as
verduras disponíveis neste janeiro. Ah..., havia também abóboras de várias
formas e cores. Muitas..., um montão, como relatou em casa. Queria colhê-las,
todas de uma só vez, sem pensar na logística de como levar aquele peso enorme e
quem iria consumi-las.... Como é interessante observar o comportamento dos
pequenos. Os tratados de psicologia infantil nos garantem que para eles não há
o ontem e nem o amanhã, mas apenas o presente, o momento atual e quase sempre
só alegria e travessuras. E o momento era de “colheita”, nada importando quem
iria recolher, armazenar ou consumir aquela montanha de abóboras... O convenci
a deixar essa para outro dia, com o trator e carreta, quando sairíamos, com ele
dirigindo e distribuindo as abóboras para a vizinhança. Adorou a ideia, mas
tomara que não se lembre dela tão cedo.
Logo
depois, dois dias apenas e já na cidade, sentou-se à mesa para o almoço no
lugar do vovô que ainda se encontrava na chácara. Ao ver o quiabo em seu prato,
apontou para um pedacinho maior e disse: “olhe,
vovó, esse é aquele quiabinho tortinho que eu colhi”. E comeu todos os
verdinhos com mais prazer ainda. Em outra ocasião disse à cozinheira, Dice, sua
eterna amiga: “Seria muito bom se cada
família tivesse uma porta para entrar na horta do vovô e colher as verduras.
Assim não precisariam ir ao supermercado”. Doce inocência infantil que só
pensa no bem. Não presenciei a cena mas posso imaginar que, certamente
lembrou-se que tivemos que destrancar e abrir o portão da horta para levar
algumas cenouras para o cavalo que pastava ao lado. Assim, na sua imaginação,
para evitar o transtorno de trancar e destrancar o portãozinho, que passa pelo
piquete da baia do cavalo, seria melhor fazer várias portas com acesso direto à
rua lateral.... Criança é joia preciosa que Deus nos colocou nas mãos.
Resta-nos lapidá-la, dar forma e faze-la brilhar.
Bem,
mas e o regime da presidente que faz parte do título acima? Embora os jornais
se acumulassem sem que fossem lidos, ainda assim vi uma notícia que a
presidente fez um regime para aparecer esbelta na posse. Perdeu 4 kg em 10 dias
com o tal regime argentino, Ravenna. Restrição calórica e exercício físico é a
receita. Outras amigas de trabalho também aderiram, como Katia Abreu e a
lavrense Eleonora Menicucci. Mas, por mais sucesso que elas façam com o tal
regime importado, tenho o meu próprio: exercício físico o dia todo, bastante
frutas e água aos toneis (o mano fez a proeza de “encontrar” na chácara um pé
de pera que produziu maçãs, mangas, peras e tomates...rsrs... Foi o café da
manhã mais divertido, ao pé da inusitada multifruteira...) Assim sobra pouco
espaço para arroz, pães, bolos, biscoitos (e como rolam essas guloseimas na
chácara). Ah... quando digo exercício o dia todo é literalmente isso mesmo. Muito
trabalho, caminhadas forçadas e vale até mesmo a piscina e a sauna. Nada de tv,
computador de 3 a 7 horas por dia nem pensar. À noite, lanche rápido, banho
demorado com hidromassagem e bumba na cama, às nove horas, sem jornal de tv e
assim acordar e levantar antes das sete.
Os galos, galinhas, cavalo e outros bichos, especialmente a passarinhada, não
esperam para avisar que o dia começou e querem liberdade.... Outro mundo,
acreditem. Valeu o spa forçado de três semanas. Perdi três quilos e adeus
pança. Nem mesmo o netinho me chama mais de vovô pançudo...
Brasília,
19 de janeiro de 2015
Paulo
das Lavras
P.S-
dedico essa crônica à aniversariante Neusa Diniz, ao amigo e médico Ivan
Sebastião de Castro, que aniversaria nesse dia 20, na mesma data que a cidade
de São Sebastião do Rio de Janeiro e aos aniversariantes da semana.
De volta à cidade, caminhada logo pela
manhã para não perder
o
embalo de três semanas de exercício contínuo na chácara.
Os visitantes, Anízio e Neusa, Pedro Henrique e
Sarah
O fascínio das crianças pela piscina
Cuidando do pintinho carijó
Corajoso..., adestrando Tobi, o filhote
de Fila
Montando o Ciclone, sem medo
Aparando grama....
Vamos pescar?
Colhendo cenouras
Vamos alimentar o cavalo, lá do outro lado da
cerca?
Vovô..., que tal um suflê de chuchu?
Acordar e ser convidado pelo irmão para
colher pera, maçã, manga caju
e
tomate no mesmo pé de frutas.... só mesmo por obra do contador de
causos, Anízio, importado de Lavras. Nem a UFLA
faz milagre assim...
De qualquer modo, frutas compõem a dieta
da chácara e adeus pança...
Anizio e Neusa se despedindo. Retorno à
Lavras com escala de três dias
em Uberlândia. Afinal para que pressa?