Embora hoje seja o Dia da Árvore, 21 de Setembro, que prenuncia no
hemisfério sul a chegada da Primavera, a estação das flores, não vamos falar
sobre flores. Ou melhor, falaremos de “outras flores” mais belas ainda e que
enfeitam nossas vidas, as crianças. A
Semana da Criança está próxima. Dia de presenteá-la. Que tal um livro, um CD de histórias
infantis? Contar, ouvir e ler histórias abre janelas e portas, descortina
horizontes para novos mundos. Quem nunca prestou atenção nos olhinhos
faiscantes de uma criança ao ouvir uma história contada pelos pais? Elas ficam
na expectativa de saber o desfecho do enredo. São tomadas por uma incontida
curiosidade para saber se o príncipe vai derrotar o vilão ou se a princesa será
encontrada por ele. Elas são especiais e tem uma enorme capacidade de “entrar”
na história e imaginar o cenário, decorrendo daí as mais surpreendentes
indagações a respeito do desenrolar e desfecho do enredo. E assim são capazes,
em suas fantasias, de viajarem e imaginar novos mundos. Por isso as histórias
as fascinam tanto. Para as crianças a história tem ainda um valor educacional
muito importante, pois além de despertar interesse e imaginação, provocam
emoções nas mais diversas situações possíveis, da alegria à tristeza. E assim
elas vão descobrindo o mundo real por meio de suas brincadeiras.
Mas, em contrapartida é
necessário que haja sensibilidade dos pais. É preciso ter ouvidos para escutar
as freqüentes perguntas durante a história e ao mesmo tempo saber contornar
situações e aproveitar a oportunidade para inserir um comentário incentivador à
imaginação de modo a ampliar o mundo para elas. Contar histórias para crianças
é uma arte. Sempre observo isso em relação aos netos. Ver e ouvir a mãe ou a avó
pegar um livro e contar historinhas para eles é um deleite sem limites. Não tem
tablet e nem filminho que os façam trocar as historinhas contadas ao vivo. Nem
mesmo a euforia pela zoada dos aviões da Esquadrilha da Fumaça, em pleno show
no aniversário de Brasília, foi capaz de desviar a atenção da historinha
ilustrada que o vovô lia para eles, justamente sobre aqueles aviões e a Força
Aérea Brasileira. Outro dia me emocionei quando uma amiga, que trabalha à
noite, voltou mais cedo e encontrou a filhinha, de quatro anos, ouvindo,
atenta, na cama antes de dormir, o pai a ler e contar-lhe uma historinha. Não
se conteve, fotografou a cena e postou, numa rede social, toda contente com a
bela surpresa até então desconhecida para ela. Mais contentes ficamos nós por compartilhar
um ato tão carinhoso e que certamente torna a criança mais feliz e no futuro um
adulto equilibrado, que sabe dar e receber amor na medida exata.
Pensei que eu fosse de
um tempo muito antigo quando, na escola, até encenávamos historinhas. A
preferida era aquela dos caçadores com espingardas às costas, na verdade cabos
de vassoura. Saíamos com garbo e valentia marchando ao redor da sala de aula, cantando
estrofes à procura do lobo mau que assustava Chapeuzinho Vermelho na perigosa e
temida floresta do imaginário do garoto de oito anos. Pensei que apenas a minha
imaginação ainda se lembrava daqueles doces tempos infantis e que influenciaram
até mesmo a vida de adulto que, certa vez, na Alemanha, fez questão de adentrar
a Floresta Negra da Baviera só porque “a conhecera” na infância pelos contos dos
irmãos Grimm. E aquela floresta, temida na infância, ao contrário do medo à
época, lhe pareceu acolhedora e ainda mais bela justamente por evocar a memória
de um passado tão feliz. Além disso, ali estava à bordo de uma reluzente e
veloz Mercedes deslizando pelo circuito de Hockenheimring, a pista de corridas
da Fómula1, onde nosso campeão Airton Sena brilhara tantas vezes. Nunca vi ou
achei floresta mais bonita que aquela, pois a carga emocional, da infância às
corridas automobilísticas, era mais que real naquele momento. Mas, voltando à
questão do “tempo”, esse receio atual de parecer “antigo” é infundado. Vejo que
a arte de contar história nunca se acabará. É como o circo. Alguém é capaz de dizer que
ele desaparecerá? Lógico que não, pois enquanto houver crianças existirá o
circo. Da mesma forma contar e ouvir histórias, imaginar um mundo encantado, faz
parte da vida do homem desde infância até o final de sua vida. Tive um amigo
americano com o qual trabalhei, lá nos EUA, um grande cientista pesquisador da Georgia
State University - Agricultural Experiment Station e que depois, para minha
surpresa, tornou-se um escritor de contos infantis. Faleceu recentemente,
vítima de insidioso mal. Após o repentino desenlace sua esposa publicou um de
seus contos infantis e me presenteou com um exemplar. Sua bela historinha dos gansos
migrantes integra a biblioteca mirim de nossos netinhos. Pedro Henrique, com apenas dois
anos naquela ocasião, adorou as ilustrações e ouvir a tradução contada pela vovó. Ao
flagrar tão linda cena, de olhinhos arregalados e atentos também eu, a exemplo
da colega de trabalho já mencionada, não me contive e fotografei silenciosa e
discretamente para não quebrar o encanto daquele doce e terno momento.
Assim são as crianças e
também nós, que temos o privilégio de conviver com elas, sempre seremos...
eternas crianças. A vida nos retribui tudo de bom, pois o que tivemos e
recebemos reverte mais tarde como bônus. Como não relembrar das gostosas
histórias que o pai contava ao menino franzino de três anos, ou pouco menos, que
passara nove meses no colo restabelecendo-se de delicada cirurgia torácica?
Assombrações, lobisomens, lobos, onças ferozes, coelhos espertos na mata, sapo
que entra na viola do urubu e vai de carona à festa no céu e ao ser flagrado na
volta ainda engana a raivosa ave que, lograda, o atira na água e não na pedra?
Ah... histórias contadas pelos pais nos tornam, sim, mais felizes, mais
sensíveis, pelo menos o bastante para entender, valorizar e repetir isso às
crianças de hoje. Ah... quisera eu, ser como Monteiro Lobato, o contador de
histórias infantis e que desejava fazer um livro onde as crianças pudessem
morar. Talvez devêssemos atualizar e dizer “fazer um site” para elas acessarem
e... “curtir/comentar/compartilhar”. Seria um sucesso neste mundo digital de
hoje, com certeza!
Que elas, as crianças,
sejam felizes não só nesse dia dedicado a elas, mas, sempre! Criança feliz,
adulto feliz! Assim, construiremos um mundo melhor.
Parabéns a elas e aos pais, tios,
avós, professores e todos que cuidam para que elas sejam felizes.
Brasília, 21 de setembro de 2013
Paulo das Lavras
Pedro Henrique, aos dois anos ouvindo a historinha
"O vovô e o Ganso", do amigo Charles Laughlin
Sarah e Pedro Henrique, atentos à história da Força
Aérea, durante show da Esquadrilha da Fumaça