O Coelhinho
e seus Ovos de Páscoa
Há mais de 50 anos presenciei uma
bronca sem igual de um pai em uma criança que afirmara que o “coelho bota ovo”.
Aquilo me chocou muito, pois o pequeno de apenas uns seis ou sete anos acabara
de chegar da escola aonde comemorara as festividades da páscoa com troca de
ovos de chocolate e pinturas no rostinho. Tentei contornar e salvar a criança,
mas não surtiu efeito diante daquele pai, um fazendeiro-conhecedor dos bichos e
animais da natureza e por isso não admitia “tão grave erro” de seu filho. O
pobre garoto deve ter aprendido a lição, mas, certamente carregou aquela amarga
e humilhante experiência por muito tempo. Na verdade, uma expressão de extrema
ignorância por parte de quem a praticara e que ainda hoje não a esqueci.
Crianças não podem ser tratadas assim. Merecem todo o respeito, carinho e amor
em sua sagrada inocência. Somos os responsáveis por essas dádivas que Deus
colocou em nossas mãos.
A propósito disso, da associação do
coelhinho com os ovos de páscoa, seria bom que os pais e as escolas deixassem
bem claro para as crianças a origem dessa tradição e fazê-los entender que o
coelhinho apenas traz os ovinhos de chocolate. Além disso, claro, explicar todo
o significado da páscoa e a associação desse símbolo, o ovo-fertilidade, com a
ressurreição, o renascer da vida, segundo a crença cristã.
O ovo é tido como símbolo da fertilidade, o
renascimento da vida e era costume presenteá-los no início da primavera (21 de
março, no hemisfério norte e 21 de setembro no sul) como votos de boas safras. Celebrava-se
o fim do inverno e o início de uma estação em que toda a natureza florescia. Os
agricultores enterravam ovos nas terras de cultivo, pois acreditavam que com
isso conseguiriam uma boa colheita.
Esse costume de presentear com ovos na
chegada da primavera foi incorporado às festividades da páscoa cristã que é
comemorada na primeira lua cheia após a chegada da primavera (entre 21 de março
e 21 de abril, no hemisfério norte). Essa introdução aconteceu pelo Concilio de
Niceia, em 325 D.C. e tinha a intenção de aumentar o número de fiéis. A partir
de então começaram a pintar os ovos com as imagens de Cristo. Nessa época os
ovos eram apenas cozidos ou recheados com guloseimas para alegria da gurizada
que, em muitos países tinham que procura-los escondidos no quintal. No período
medieval a elite costumava comemorar a Páscoa presenteando com ovos feitos de
ouro e pedras preciosas. Hoje apenas o chocolate predomina em todos os ovos de
páscoa.
A introdução do coelhinho nessa
história dos ovos da páscoa tem a versão mais aceita de que enquanto uns
meninos procuravam o “ninho dos ovos de páscoa”, saiu correndo um coelho que
por ali estava. Daí eles acreditaram que foi o coelhinho que trouxe e ali
deixou escondidos os ovos da páscoa. Se observarmos bem as cantigas dizem
exatamente isso... pedem que o coelhinho traga os ovos da páscoa. Mas...., é
preciso esclarecer mais as nossas crianças.
A propósito minha netinha, de apenas cinco
anos, ao sair da escola, ainda com o uniforme da aula de ballet e o rostinho
pintado de coelhinha disse alegremente:
“Vovó, vovô...
hoje eu vou dormir segurando uma cenoura...”.
Como eu não
entendi, perguntei delicadamente o porquê e ela prontamente respondeu:
“O coelhinho da Páscoa vai chegar e comer a
cenoura que eu vou dar para ele”.
Emocionei-me
com tamanha inocência e amor daquele anjinho, bem ali na minha frente. Lembrei-me
daquele menino que levara tremenda bronca de seu pai a 50 anos atrás. A emoção,
agora, ali, diante de mim, foi imensurável. Chegamos em casa e então a
fotografei. Vejam que fofa essa santa coelhinha... Uma dádiva de Deus.
Feliz Páscoa
para todos
Brasília, 28
de março de 2012
Paulo das
Lavras