Voltei à
Universidade de Brasília-UNB, instituição que marcou minha vida profissional na
capital de nosso país, quando diretor no Ministério da Educação. Os constantes
contatos, na gestão de programas de melhoria do ensino superior, com reitores e
professores como o saudoso diretor da
Agronomia, Prof. Roberto Meirelles de Miranda, carioca, atuante no
ensino e na pesquisa, oriundo da antiga Escola Nacional de Agronomia-ENA, hoje
UFRRJ e do Instituto de Pesquisas Agrícolas do Ministério da Agricultura. Nossos
programas de desenvolvimento do ensino agrícola superior, sob nossa coordenação
no MEC, proporcionaram à UNB, um desenvolvimento destacado na melhoria de seus
cursos de graduação e pós-graduação da área agrícola. Foram anos de convívio e
mais tarde, antes da virada do século, ali frequentamos o curso de
pós-graduação de Planejamento e Avaliação Institucional de Universidades e da
Educação Superior, patrocinado pela Unesco, onde travamos conhecimento com as
inovações mundiais e renomados autores e pesquisadores internacionais daquela
nascente e importantíssima área que, logo em seguida gerou no Brasil o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES (Lei nº 10.861/ 2004). Ali
retornamos algumas vezes para eventos técnico-científicos ou mesmo para proferir palestras. E hoje, voltamos para
mais um contato com os alunos, para falar sobre a carreira da Agronomia e o
exercício da profissão.
Palestrar é
uma das atividades mais prazerosas para
um professor, qualquer que seja o público. Tenho proferido palestras em
diversos e distintos locais e ambientes ao longo de mais de 50 anos de carreira
profissional, seja para estudantes, profissionais das ciências agrárias e
executivos. Palestras, simpósios e congressos nas universidades e conselhos
profissionais foram os locais mais frequentes, no país e no exterior. Por força
de ofício no desempenho do cargo de diretor do Ensino Agrícola Superior, e na
diretoria de Avaliação das Universidades e da Educação Superior, no Ministério
da Educação, visitamos e palestramos em todas as 53 universidades federais existentes no país, até o ano de 2005 e
depois em outras tantas novas universidades criadas no período de 2003 a 2010. No
exterior, além de universidades, predominavam as palestras em órgãos de
governo, sempre interessados em estabelecer convênios de cooperação com seus
pares brasileiros. Foi assim nos Estados Unidos, em mais de uma dezena de
universidades (onde treinamos 250 – duzentos e cinquenta- PhDs) e ainda no
Departamento de Estado, na USAID e na Associação Nacional de Universidades
Estaduais e Land Grant Colleges, onde tivemos oportunidade de falar sobre a
educação agrícola superior no Brasil e assinar convênios de cooperação. Da
mesma forma palestramos na França, em
Paris, Nancy e Montpellier e em Centros de Pesquisas Agrícolas. Nas Américas ministramos palestras em quase
todos os países, da Argentina ao Canadá.
Era incrível o interesse desses países em estabelecer convênios com as
universidades brasileiras. Nossa Agricultura Tropical era única e gerava
tecnologias que despertavam interesse mundial. Mas, a palestra que mais nos empolga é aquela
dirigida aos alunos dos cursos da área de Ciências Agrárias. Incentivar,
estimular a carreira da engenharia agronômica, mostrando-lhes o potencial da
profissão neste imenso país, celeiro do mundo e ao mesmo tempo falar dos
desafios e caminhos que eles devem seguir, é por demais gratificante.
Foi assim,
recentemente, na Universidade de Brasília-UNB, com os alunos da série inicial
do curso de Agronomia-2025. Falamos sobre a carreira de engenheiro agrônomo,
suas características, campo de trabalho e responsabilidade social. Antes de iniciar
o tema técnico propriamente dito, focamos a atenção na vida estudantil, suas
responsabilidades, liderança e desempenho acadêmico. Mas, antes de adentrar nas
questões da formação do Engenheiro Agrônomo, falamos da importância da
Agronomia, chamando a atenção para o fato de que, desde os primórdios da
humanidade, a relação entre o ser humano e a terra sempre foi de respeito e
dependência. A agricultura, como atividade essencial, moldou civilizações,
sustentou populações e inspirou inovações ao longo dos séculos. É na
interação com o solo que encontramos não apenas sustento, mas também um
profundo aprendizado sobre equilíbrio, perseverança e gratidão, e agora, ao
chegar ao final de minha carreira profissional, de Engenheiro Agrônomo, posso dizer com absoluta convicção as
seguintes afirmações:
1 - Não existe profissão mais digna que a
Agricultura, pois dela o homem colhe e se
alimenta do produto que semeou e
cultivou
2- A Agricultura é a primeira das artes.
Após a colheita seguem-se as demais como a
indústria, o comércio e os serviços.
3- Nunca faltarão atividades profissionais no
ramo da produção de alimentos..., a
Engenharia Agronômica
4- O Homem não interfere no Clima Global e
sim apenas no microclima
(Luiz Carlos Molon - Climatologista)
5- Sejamos gratos ao Solo. Ele e nos alimenta na
vida e nos acolhe na morte
Passando para a área técnica, discorremos sobre a origem e evolução da Ciência e do Ensino da Agronomia no mundo e no Brasil, a história antiga e moderna da Educação Agrícola Superior em nosso país, os programas e ações de destaque do MEC e ainda a nossa atividade no Ministério da Educação, na Diretoria de Ensino de Ciências Agrárias. Abordamos a questão do surgimentos das novas carreiras profissionais (Florestas, Eng. Agrícola, Pesca e outras), a evolução e distribuição da oferta de cursos no país, as reformas curriculares a partir de 1961 e as mudanças e inovações na formação profissional para o Século XXI. Outra questão que levanta muitas dúvidas e abordada na palestra, foi a Educação à Distância na Agronomia, pois o MEC está prestes a aprovar novas regras para esta modalidade de ensino. A Educação à Distância não pode ser aplicada integralmente à Engenharia Agronômica. Admitimos um máximo de 20 a 30% de ministração de conteúdos nessa modalidade e com provas presenciais.Abordamos também sobre as Associações Classe e a regulamentação da profissão, com destaques para os papeis do CREA, CONFEA e Mútua de Assistência, bem como as leis, regras e ética no exercício profissional. Finalmente focamos atenção sobre as questões afetas ao mercado de trabalho no campo da Agronomia.
Ao final, na
parte reservada aos debates, um aluno perguntou: “Professor, o que é preciso
para se ter sucesso na profissão da Agronomia?”. Respondi-lhe secamente, de
alto e em bom tom: Sorte!... Muita sorte... Seguiu-se um silêncio proposital de
minha parte. Olhares desconfiados dos alunos... e, após alguns instantes
prossegui. Não é aquela “sorte” aleatória de se ganhar na loteria ou ser
premiado com a companhia da moça mais bonita da festa. Não! A sorte à qual me
refiro são as boas escolhas na vida, a “dedicação e fazer diferença”. Não basta ser inteligente. Muitos também são
assim dotados. A principal condição para se alcançar o sucesso é, simplesmente,
fazer diferença! Seja diferente! Dedique-se aos estudos, pois este é o mais importante
quesito para se alcançar o sucesso profissional. Leia muito, tudo aquilo que se
refira ao tema em estudo. Seja questionador em sala de aula e lembre-se, os
mais inteligentes não são aqueles que sabem todas as respostas e tiram 10 nas
provas, mas sim, os que fazem perguntas instigantes e para as quais talvez
ainda não haja respostas. É fácil decorar respostas, mas o melhor é ter
espírito crítico, observador e questionador para todas as coisas da ciência.
Aprenda a ser crítico, analítico, pois é assim que funciona na prática do
mercado de trabalho. Pesquise as fontes de consultas, busque respostas para as
questões, proponha soluções. Por outro lado, se seu colega tiver dificuldade,
ajude-o, ensine-o, pois o ato de ensinar reforça e consolida o saber. Até mesmo
os poetas confirmam essa verdade. A poetisa Cora Coralina escreveu: “Feliz
aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina”
Nessa linha do
“fazer diferença”, na dedicação aos estudos, há um outro fator de relevância e
que poucos alunos se dão conta de sua importância: aproxime-se dos bons
professores. Eles adoram tutorar seus alunos. Tive três professores
excepcionais no saber e competência profissional, na didática e no trato com os
alunos. Me agarrei a eles, os professores Alfredo Scheid Lopes (o pai do
Cerrado, que assessorou o ministro da Agricultura Alysson Paolinelli a
conseguir desbravar esse tipo de solo), Paulo de Souza, da área de
Fitopatologia, mas nos iniciou na arte
do cultivo do café e da pesquisa agrícola, pois acumulava a função de diretor
da Estação Experimental Agrícola do M. Agricultura e o Professor Alysson
Paolinelli, da área mecanização agrícola, diretor da ESAL/UFLA e foi o ministro
que revolucionou a agricultura brasileira. Eles tinham o dom de cativar e
influenciar os alunos, incentivando-os na futura profissão, levando-os a
participar de congressos, exposições e dia-de-campo. Faziam diferença. Portanto,
este é um fator importantíssimo na formação do futuro profissional. Identifique
esses professores e se aproximem deles. Eles vão adorar essa missão adicional
de tutorar seus pupilos. A maior alegria de um mestre é ver seu pupilo ultrapassá-lo
e alcançar o sucesso.
Bem, o sucesso
profissional, vocês querem saber como alcançá-lo? Já falamos algum requisitos e
aqui vai outro, muito importante: seja ético e cumpridor de suas obrigações,
pois todos estão de olho em você, especialmente os professores. Eles sabem
identificar talentosos e desinteressados... Lembre-se que talvez um único deslize de sua parte possa lhe fechar as portas, ainda
na faculdade. Melhor fazer diferença pelo lado positivo. Todos notarão
sua assiduidade, dedicação, interesse e competência no trato das questões profissionais. Como se
vê, o sucesso não vem por acaso... e ironicamente podemos dizer que depende de muita
sorte..., a sorte nas escolhas certas e muita ralação. Ralei muito, horas e
horas de estudos, sem futebol, noitadas, jogo de sinuca (era um vício nos
tempos de estudante) e aproveitava o tempo para estudar. Não importavam os
apelidos de Caxias, cdf e outros tantos (hoje se chama bullying) que só eram
compensados (vingados, melhor dizendo...) em dia de prova, pelo assédio de
passar-lhes “cola”. Era divertido, pois nesse dia de prova, deixávamos para ser
o último a entrar em sala. Olhava e via os
gestos de “seu lugar está reservado aqui- venha para cá, ao meu lado...”,
quase sempre lá no fundão. Cumprimentava o professor, que já estava de olho nos
“arranjos” e... me assentava na primeira fileira, quase vazia...
Posso dizer que tive muita “sorte”, fiz as
escolhas certas e trilhei caminhos certos. Estudei muito mais que os colegas,
brinquei menos do que podia, sempre andava com pessoas mais velhas e com eles
aprendia mais, dormia menos tempo que os colegas, passava boa parte das noites
não em farras e diversões, mas ouvindo o enorme rádio de válvulas, com chiados,
sintonizado na BBC de Londres, na Voice of América de Washington/EUA, na Radio
France, RAI- Itália, Deutsche Welle/Alemanha e a Belgrano de Buenos Aires, pois,
seis ou sete décadas atrás não havia os recursos de hoje para se aprender
idiomas, sequer cursinhos de línguas. Mais tarde, já no exercício da profissão,
enfrentava com disposição as constantes intempéries, nos altos das montanhas de
Minas Gerais, as salas de aula e a vida de executivo da educação superior com
200 dias de viagens por ano em todo o país, literalmente, e por várias partes
do mundo. Não esmorecia nunca, noites sem dormir, fusos horários que
interferiam no metabolismo do corpo, palestras e debates em diferentes idiomas,
que exauriam o cérebro em velocidade vertiginosa (tradutores simultâneos
trabalham apenas quarenta minutos e descansam uma hora, devido ao esgotamento
mental). Mesmo assim, o entusiasmo e o
gosto pela profissão predominavam, como a confirmar quele velho adágio: ... “escolha
uma profissão que goste e sinta-se como se nunca tivesse trabalhado um dia
sequer”. Façam o mesmo. Façam as escolhas certas, dediquem-se e sejam felizes
nos estudos e principalmente nessa maravilhosa profissão de Engenheiro Agrônomo,
pois esse tipo de “sorte” não falha
nunca. É o caminho certo e seguro para o sucesso!
Nessa fase de
estudante, apeguem-se aos mestre enquanto podem. Reverencie-os, pois neles está
a sabedoria que não se encontra nos livros, a convivência na escuta de seus
problemas, suas dúvidas, na partilha das
experiências acumuladas, onde o saber não é apenas técnica, mas também a ética que é a narrativa
do sentido real da vida. A vida é maior que tudo e o saber é, antes de mais
nada é um cuidado, um afeto para a alma inquieta que tudo quer saber, quer
aprender. O saber é também um cuidado com a natureza - a vida! E isto é próprio
da Agronomia – a Vida, a água, o solo a planta, os animais e os alimentos que
nutrem a vida humana. E neste contexto, nossos bons mestres, nos inspiram,
apontam caminhos possíveis entre o conhecimento, o saber e a técnica,
confrontando-os com a ética e o respeito
humano. A eles, ainda hoje, sou eternamente grato e devedor pelos ensinamentos
e dedicação recebidos.
Sejam felizes,
realizem seus sonhos nesta mais bela e digna profissão, que cuida do
solo e produz alimentos para o corpo, cuidando da VIDA. A vida animal,
incluindo nós mesmos, a vida vegetal e vida do Solo. Aliás, sempre começo minhas palestras para
estudantes e profissionais da Agronomia, com os seguintes dizeres:
Sejamos
gratos ao Solo, pois ele nos alimenta na vida e nos acolhe na morte.
Finalmente, ao olhar para trás, vejo uma agricultura
moderna, que abastece nosso país e o mundo. Vejo os cuidados com a natureza, o
solo-mãe de nossos alimentos, nossos rios e a pureza do ar. Dou Graças a Deus
pela dádiva da Vida e pela mais bela e digna de todas a atividades – a
Agricultura. A primeira, a maior e mais importante escolha vocês acabaram
de fazer: a profissão de Engenheiro
Agrônomo. Outras escolhas virão, como por exemplo, qual a especialidade a
seguir? Qualquer que seja a especialidade no campo da Agronomia, vocês
certamente chegarão ao sucesso. Sonhem alto, mas com os pés no chão, o mesmo
chão que lhes sustentará.
Sucesso
sempre!
Paulo das Lavras



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